quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os falsificadores. Terceira parte.


Terceira parte

 A situação parecia agora for a do controle. Aqueles três intrusos começaram a se estranhar dentro da minha própria casa. Até que Armando tirou do bolso da camisa um pequeno cigarrinho. E o ascendeu. Eu o reconheci. Era o mesmo senhor que esteve no Árabe almoçando no dia anterior. O mesmo que falava das telas falsas de Ismael Neto.
 Estela sacou a pistola. Seu parceiro o grandão fez o mesmo. Eles não sabiam em quem mirar as armas, se em mim, ou em Aramando. Este mantinha a calma e dava pequenas baforadas no cigarro.
 Acho que pensou que eu o ofereceria um cinzeiro, mas há muito não havia um cinzeiro na minha casa.
 “Me diga senhor Leo Chacra. Você inventou esta história de cena de Nelson Rodrigues. Não inventou?”
 Como eu não respondi ele continuou a olhar pela minha sala. Levantou e começou a procurar alguma coisa nos meus livros.
  “Você leu todos estes livros, estes romances policiais, senhor Leo Chacra?”
 “A maioria deles”. Eu respondi.
 Estala interrompeu Aramando. A outra detetive queria saber aonde o interrogatório iria nos levar.
 “Abaixe a arma e tenha calma Estela” Pediu Aramando. Então virou-se para mim e perguntou, ou ainda me acusou.
 “Estes contos você escreve...”
 “O que têm eles?”
“Até que ponto eles são seus?” Como eu e os o casal também fizeram cara de não estar entendendo nada, ele prosseguiu. “Vou me explicar.” Deu uma risada.
 “Você escreve tramas. Muitas vezes que não dizem nada. Só prendem a atenção do leitor. Um estilo que não é naturalmente seu. Você coloca o suspense pelo suspense.”
 “Por isto que este tipo de escrita é chamado de gênero.” Eu me defendi.
 “Você senhor Leo Chacra é apenas um falsificador”.
 Os três riram de mim. E começaram a folhear os romances policiais. Estavam distraídos. Não tive dúvidas. Fugi pela porta. Desci as escadas e corri para rua. Em frente a minha casa estava aquele mesmo bar da Vila Madalena.
 Entrei e pedi um chope. O mesmo chope que todos os bares de São Paulo têm. Minha amiga Carol surgiu e sentou-se a mesa. Marcelo voltou do banheiro.
 Mas como poderia ser o mesmo bar? Se eu nem na Vila Madalena moro. Bebemos, bebemos e bebemos.
 Quando atravessei a rua e cheguei em casa o porteiro me deu um livro. Embrulhado para presente. Havia um cartão.
 “Foi uma menina que passou e deixou. Bem menina. Não quis dizer o nome, disse que você saberia quem é.”
 Livros, livros, livros, livros.
 Cheguei em casa comi uma trufa e fui para quarto. Antes de dormir peguei um romance policial para ler.
 No dia seguinte, acordei fui à padaria tomar café. Na volta passei na galeria de arte. Desta vez foi Marina quem me recebeu. Fomos a sua sala tomar um café.
 “Eu nunca havia observado esta foto Marina.”
  Era uma foto na parede. Nela Armando e Estela, os detetives estavam num restaurante árabe, envoltos por fumaças de cigarro.
 Me despedi. Voltei pra casa. Abri o livro da noite anterior. Um livro de Ismael Nery.
 Junto com um cartão que dizia:
 “Obrigado pelo almoço. Saiba que agora também sou fã do Ismael. Beijos Marta”.
 Fechei os olhos e escutei o ônibus freando. A menina ria. Puxei-a pelo braço e fomos para a calçada. Mesmo dentro da livraria ela ainda ria.
“Você conhece Ismael Nery?”
 E ela ria. “Você sabia que você poderia ter morrido atropelada?” E aquela linda menina de cabelos curtos ria.
 “Leo, a bicicleta estava a dez por hora, Não tinha como ter morrido. Você tem uma imaginação Leo!!!!”
 E ela continuava sorrindo. E rindo. 

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