segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sig Bergamin e a Vila Nova Cachoeirinha.

De inicio já digo, o objetivo desta crônica, não é o de comparar extremos. Mas mostrar que no meu mundo (universo), há muito em comum entre o famoso decorador e o bairro Paulistano da zona norte.
 Num sábado chuvoso e frio e folheava uma revista de decoração e arquitetura. Foi quando depois de ignorar vários ambientes eu dei de cara com um que me emocionou. Me remeteu há um filme, digo comecei a imaginar um filme, imaginar literatura, enxergar personagens. Eu não sabia ainda quem era o autor do ambiente. Da atmosfera.
 A minha surpresa veio junto com uma alegria. Era dele. Sig Bergamin. Ao mesmo tempo paz, campo, festa, cosmopolita, manhã, noite, teatro, cinema, literatura e música. Vida.
 Fechei a revista. Pois precisava levar um documento na Vila Nova Cachoeirinha. Quando eu atravesso o Rio Tietê parece que entro em outra cidade. Mas o que é afinal São Paulo, se não outra cidade sempre.
 Conheço a cidade do México, Cairo, Paris, Roma, NY, L.A., Londres, Tóquio, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Seul... Enfim grandes metrópoles. Roma? Não é grande mas é milenar. Em todas eu me surpreendi. São lindas. Todas tem seus mistérios. Mas todas são sempre elas mesmas.
 Paris é tão parisiense. Londres, tão londrina. Tóquio é tão Tóquio. O Rio é o Rio. A cidade do México é tão Ibérica. Tão Asteca, Maia, Californiana até. Mas de repente em São Paulo atravessamos a ponte e não temos a menor ideia do que seja a Vila Nova Cachoeirinha. Nenhuma imagem vem à cabeça.
Como serão os moradores deste bairro? De início São Paulo dá medo. Assusta. Em poucos quarteirões podemos entrar na paisagem da Europa Oriental, passar por Minas Gerais, cair numa Praça Italiana, num Shopping Japonês.
 Eu não diria que São Paulo é um camaleão. São Paulo simplesmente não pode ser descrita.
 Vila Nova Cachoeirinha, não tinha nada do que eu havia imaginado. Nem pior, nem melhor.
 Já ouvi muito que o Modernismo e depois o Pós Modernismo deixou o mundo globalizado, visualmente igual. Discordo.
 Houve um período no Império Romano em que o urbanismo da cidade e sua arquitetura não faziam jus a sua riqueza.
 Eu acho que São Paulo é um pouco isso. Meus ancestrais vieram pra cá. Numa época em que Londres tinha sete milhões de habitantes e aqui em São Paulo umas poucas centenas de milhares. Talvez uma centena de milhar, cem mil habitantes.
 Época que Vila Nova Cachoeirinha era habitada por Japoneses. Aí fui estacionar o carro. Vira aqui, vira ali e lá está ela.
 Uma ruela linda. Sem nenhum ser humano. Suspiro e tenho a mesma emoção de ver o ambiente na revista do Sig Bergamin.
 Uma revista inteira com uma só foto, fato, assunto que me pegou. Uma cidade imensa, uma zona norte toda, pra uma só ruela. Sem a placa com o nome. Deixei o documento e segui para o famoso Frangó.
 Afinal era Sábado e na minha cabeça é tudo perto, um do lado do outro na Zona Norte. Sim era uma distância de uns 16 quilômetros segundo o Google.
 Acho que nunca mais verei aquela Ruela. E mesmo se voltar a vê-la daqui há anos, ela não será a mesma. Nem ela, nem o cine Belas Artes, e nem a Casa Cor.
 Eu tinha um primo decorador. Chamava-se Alex Cerello. Uma vez me contou que dormira no chão de seu quarto. Não desarrumou a cama. Disse que o ambiente estava tão arrumado, que ele não quis estragar.
 Acho realmente que o Alex era um artista. Morreu atropelado. Morreu em alguma das infinitas ruelas deste mundo chamado São Paulo. 

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