De inicio já digo, o objetivo desta crônica,
não é o de comparar extremos. Mas mostrar que no meu mundo (universo), há muito
em comum entre o famoso decorador e o bairro Paulistano da zona norte.
Num
sábado chuvoso e frio e folheava uma revista de decoração e arquitetura. Foi
quando depois de ignorar vários ambientes eu dei de cara com um que me
emocionou. Me remeteu há um filme, digo comecei a imaginar um filme, imaginar
literatura, enxergar personagens. Eu não sabia ainda quem era o autor do
ambiente. Da atmosfera.
A
minha surpresa veio junto com uma alegria. Era dele. Sig Bergamin. Ao mesmo
tempo paz, campo, festa, cosmopolita, manhã, noite, teatro, cinema, literatura
e música. Vida.
Fechei
a revista. Pois precisava levar um documento na Vila Nova Cachoeirinha. Quando
eu atravesso o Rio Tietê parece que entro em outra cidade. Mas o que é afinal
São Paulo, se não outra cidade sempre.
Conheço
a cidade do México, Cairo, Paris, Roma, NY, L.A., Londres, Tóquio, Buenos
Aires, Rio de Janeiro, Seul... Enfim grandes metrópoles. Roma? Não é grande mas
é milenar. Em todas eu me surpreendi. São lindas. Todas tem seus mistérios. Mas
todas são sempre elas mesmas.
Paris
é tão parisiense. Londres, tão londrina. Tóquio é tão Tóquio. O Rio é o Rio. A
cidade do México é tão Ibérica. Tão Asteca, Maia, Californiana até. Mas de
repente em São Paulo atravessamos a ponte e não temos a menor ideia do que seja
a Vila Nova Cachoeirinha. Nenhuma imagem vem à cabeça.
Como serão os moradores deste bairro? De
início São Paulo dá medo. Assusta. Em poucos quarteirões podemos entrar na
paisagem da Europa Oriental, passar por Minas Gerais, cair numa Praça Italiana,
num Shopping Japonês.
Eu não
diria que São Paulo é um camaleão. São Paulo simplesmente não pode ser
descrita.
Vila
Nova Cachoeirinha, não tinha nada do que eu havia imaginado. Nem pior, nem
melhor.
Já
ouvi muito que o Modernismo e depois o Pós Modernismo deixou o mundo
globalizado, visualmente igual. Discordo.
Houve
um período no Império Romano em que o urbanismo da cidade e sua arquitetura não
faziam jus a sua riqueza.
Eu
acho que São Paulo é um pouco isso. Meus ancestrais vieram pra cá. Numa época
em que Londres tinha sete milhões de habitantes e aqui em São Paulo umas poucas
centenas de milhares. Talvez uma centena de milhar, cem mil habitantes.
Época
que Vila Nova Cachoeirinha era habitada por Japoneses. Aí fui estacionar o
carro. Vira aqui, vira ali e lá está ela.
Uma
ruela linda. Sem nenhum ser humano. Suspiro e tenho a mesma emoção de ver o
ambiente na revista do Sig Bergamin.
Uma
revista inteira com uma só foto, fato, assunto que me pegou. Uma cidade imensa,
uma zona norte toda, pra uma só ruela. Sem a placa com o nome. Deixei o
documento e segui para o famoso Frangó.
Afinal
era Sábado e na minha cabeça é tudo perto, um do lado do outro na Zona Norte. Sim
era uma distância de uns 16 quilômetros segundo o Google.
Acho
que nunca mais verei aquela Ruela. E mesmo se voltar a vê-la daqui há anos, ela
não será a mesma. Nem ela, nem o cine Belas Artes, e nem a Casa Cor.
Eu
tinha um primo decorador. Chamava-se Alex Cerello. Uma vez me contou que dormira
no chão de seu quarto. Não desarrumou a cama. Disse que o ambiente estava tão
arrumado, que ele não quis estragar.
Acho
realmente que o Alex era um artista. Morreu atropelado. Morreu em alguma das
infinitas ruelas deste mundo chamado São Paulo.
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