Deus existe?
Outro dia eu descobri que está acontecendo uma revolução no
jornalismo. Sim. Agora graças à nova tecnologia, qualquer um pode ser um
repórter. Logo eu que sou um bombeiro, agora posso ser um jornalista também.
Não que eu vá
deixar de ser Bombeiro. Nem ator de novelas. Eu estou fazendo a novela das três
da manhã.
Escolhi fazer uma
matéria sobre Deus. A vida dele, e todas as polemicas que envolvem seu nome.
Tipo sua vida
financeira, amores e a paternidade de Jesus. Este inclusive que eu já tive o
prazer de conhecer. Lá num clube de campo que às vezes minha mãe me leva. Tem
lá uma comida sofrível, mas a piscina é boa. Fico meses sem sair de lá.
Jesus é um dos
habitues. Quando me vê por lá grita: “Ator! Oh ator!”. O que me deixa até um
pouco irritado porque não gosto de fãs histéricos.
Mas seria muito difícil
entrevistar Jesus sobre seu pai. A cada avião que passa, ele grita: “Isso aí, este
barulho, não é avião não! É meu pai! Papai!” Para não contrariá-lo eu concordo.
Mas como passa muito avião por este clube de campo, e ele gosta mais de falar
de um acidente de carro que ele teve, do que de Deus, nossas conversas são
sempre interrompidas. Mesmo porque o tal acidente aconteceu nos anos 70, quando
Jesus disse que ganhou na loteria. Acho que naquela época a loteria era mais fácil.
Bom voltando.
Lembrei-me de um vizinho. Um cara que eu sempre visito umas duas, três vezes
por semana. Ele conhece, sabe tudo sobre remédios. Não os remédios que o Jesus
usava nos anos setenta. Outros. Uns para me deixar com, quer dizer, digo sem os
delírios.
Eu tomo todos. Não
porque eu tenha delírios, mas para não desapontar este meu vizinho. Aliás, um
vizinho de cidade, não de prédio. Meu vizinho me vê na novela das 3 da manhã,
disse que estou melhor que o Marlon Brando. Grande coisa.
Cheguei ontem na
casa dele. Sentei naquele sofá dele. Foi quando eu vi um quadro com uma
montanha coberta de neve. Ele me disse que era o Canadá.
Foi aí que eu
adorei esta coisa da nova mídia, pós-industrial. Eu posso mudar de reportagem a
hora que eu quiser. E convenhamos, gnomos no Canadá, é bem mais interessante do
que Deus, Jesus... No Canadá existe até ursos. Sim, ursos e neve. E alces.
O que eu não
entendo é porque gnomos não acreditam em E.T.s? Meu vizinho disse que ele não
era a pessoa mais indicada para falar sobre Deus. Eu deveria procurar um padre.
O que me faz
pensar. Toda vez que eu quero falar sobre Deus, as pessoas sempre ficam
constrangidas, esquisitas e desviam a conversa. Será? Será...
Será que eu sou
Deus? Agora tudo faz sentido. Este mundo aí fora não existe. Tudo só acontece
quando eu vou aos lugares e vejo as pessoas. Fora isso, as pessoas ficam
descansando. Sim. Agora em Londres, por exemplo, está tudo vazio porque eu
estou aqui em São Paulo.
Mas e no Canadá? E
no Canadá?
“Jesus você acha
que está acontecendo alguma coisa neste exato momento no Canadá?”
“Não é avião não!
É meu pai!” Ele grita. Depois de passar o avião ele vira-se para mim:
“Aqui é o Canadá.”
Afinal concluo que
assim como o Canadá, Deus é tão grande, que não precisa existir.
Eles existem nos
quadros do meu psiquiatra, digo meu vizinho. Na cabeça dos padres da igreja. Nos
atlas escolares...
E nos milagres. E
os milagres acontecem todos os dias. Por isso eu tenho fé. Tenho fé que um dia
eu vou me curar. E vou, numa dessas máquinas que voam que o Jesus chama de pai,
conhecer o Canadá.
Vá com Deus.
Sempre. Porque acreditar em Deus, não tem nada a ver com saúde mental. Uma
coisa, uma coisa, outra coisa, outra coisa. Eu não preciso abandonar minha fé
para ser saudável.
Pronto, vou
publicar.
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