sábado, 31 de julho de 2010

Cara de boy

Desocupada leitora, você imagina o tempo que nós homens gastamos nos vestindo para um primeiro encontro? Digo quando realmente estamos muito interessados na moça em questão? Quase sempre elas perguntam ainda pelo celular: “Que roupa eu visto”? O que eu posso responder? Eu nem sei qual eu visto.


Abro o armário, olho aquele monte de roupas bagunçadas. Porque minhas camisetas teimam em se misturar com as bermudas e malhas? As calças com as camisas? E depois de muito revirar, nos damos conta de que a roupa que queremos vestir ou é antiga, ou está suja.

Enfim a vida toda eu quis fazer um tipo descolado, meio mau, rebelde. Alguém que seduzisse as mulheres e apavorasse os homens. Coloco uma roupa me olho no espelho. Troco à calça. Tudo pronto. Resolvo mudar de novo. E que sapato eu vou?

Mas toda a vida, minhas escolhas são interpretadas como coisa de boy. Explico, meu prato preferido é qualquer comida de boteco, picadinho, feijoada... Bebida? Cachaça. Time? Corinthians. Mas dizem: “É o boy querendo ser cachaceiro”. “É o boy querendo ser corintiano”. Se colocar uma regata bem cafona e um chinelo, lá vem alguém: “Olha o boy querendo usar regata e chinelo de boy”. Uma vez comprei um fusca bem velho e pensei quero ver alguém falar alguma coisa agora. E disseram: “Olha o boy andando de fusca”.

Passei a ouvir samba. E então: “Olha o boy ouvindo Samba”.

Se colocar roupa larga, é o boy de roupa larga. Se colocar roupa apertada é o boy de roupa apertada. Se sair de ônibus para buscar a menina, dirão: “Olha o boy fazendo tipo”.

Quanto mais me esforço para parecer outra coisa, mais caio no mesmo lugar. “Olha o boy querendo ser outra coisa”. “Esses óculos é coisa de boy”. “Natação é coisa de boy”. “Regime é coisa de boy”. “Gordo é boy”. “Está magro porque é boy”. “Pensa isso porque é boy”. “É boy por isso pensa isso”.

Foi então que eu tive o ímpeto de assumir o estereotipo. Comprei um carro alemão. Mandei blindar. Roupa no Ermenegildo. Convidei a menina mais boy que eu conheço do facebook para ir ao Fasano jantar. Expliquei a situação pra ela: “Nós vamos, na minha Mercedes jantar no Fasano. Ok?” E ela: “Você está achando que eu sou alguma puta”? Respondi que não, que a achava uma princesa. E que ela deveria ser bem tratada, mas se ela quisesse, nós poderíamos ir ao teatro na Praça Roosevelt. “Adoro teatro ela disse”. E depois mencionei que podíamos jantar na mercearia São Pedro da vila madalena. A qual ela disse que freqüentava.

Bem tirei meu fusca da garagem, os seguranças da casa dela acharam à coisa mais normal do mundo. Eu de casaco de exército americano, calça rasgada e ela vestida como neo-hippie. Acabamos no samba do Ó do borogodó, tomando caldinho de feijão e cerveja de garrafa. Foi à noite mais boy de anos. Agora ela quer me levar num lugar que as amigas que moram em Paris descobriram. É em São Miguel Paulista. Ela disse que é chiquetérrimo.

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