Já dizia Paulo Autran, que mesa com mais de cinco pessoas não presta não. Eu quando chego a um compromisso e vejo uma mesona com dezenas de pessoas penso que se não seria melhor nós ficarmos todos de pé. Acaba que não invariavelmente eu fico ao lado de pessoas ou que mal conheço ou que não suporto.
Mas outro dia sentei ao lado de uma gata elegante e jovem numa dessas mesas. Ela mesma foi puxando papo, me disse que era chefe de cozinha, me mostrou suas tatuagens de panelinha e colherinha, chegou até... Acreditem, chegou a pegar na minha mão. Eu que nessas horas começo a agradecer São Jorge, estava crente ter ganhado na loteria. Foi quando o namorado, marido, dono da menina, vindo não sei de onde, me apertou a outra mão. Uma amiga que presenciou a cena disse que eu mudei de cor. Não só de cor, de lugar também.
Acabei do lado de uma gringa, que trabalhava numa multinacional dessas de celulares, sei lá eu qual, sei lá se a gordinha era afinal americana, porto-riquenha, sapatona- caminhoneira, hetero, só sei que falava. Falava. Falava em inglês, português, espanhol. Deu cartão, bebemos e acordamos num motel. Razão tinha Paulo Autran.
Agora eu admiro quem entra num restaurante sozinho. Aliás, eu vou muito a restaurantes, sozinho. Afinal sou solteiro e cada vez mais longe de sair dessa situação, vide o caso real da gordinha acima. E a outra magrinha? Que tatuagens. Ah! E cheff de cozinha ainda por cima, mesmo porque se cozinhasse mal, nem tinha importância. Mas claro casada à desgraçada.
Voltando o bom de ir a restaurantes só, é que os funcionários do restaurante já sabem seu nome, você já sabe, aquele garçom ali é evangélico ex alcoólatra, claro. O outro faz carteira de estudante falsificada. Aquela ali, aquela ali mesmo a hostess. Já dei em cima umas vinte vezes, só sorri. Encontrei um dia na balada e nada. Agora sorri mais ainda.
Inclusive a minha melhor refeição da vida foi sozinho. Sim. Lá pelos idos dos anos noventa do século passado. A aventura foi a seguinte. Tinha eu meus vinte anos de idade. Estava num trem indo de Paris a Barcelona. Ninguém no mundo sabia aonde eu me encontrava. Lia o livro: “Chato o rei do Brasil”. O vagão restaurante praticamente vazio. Por do sol, já em terras espanholas. Para minha surpresa eu e o garçom nos entendíamos perfeitamente. Pensei devo ser um gênio para línguas, pois faz pouco mais de uma hora que estou na Catalunha e já falo catalão. Precisava ter certeza da proeza. Então perguntei ao Garçom:
“Nos otros estamos falando catalão”? Sim porque podia ser um espanhol. Mas havia algo de diferente na língua e eu a estava a compreendendo tão bem. Ele, o Garçom, me respondeu:
“Não. É português mesmo. Morei oito anos em Salvador.”
Enfim, fechei o livro. Tomei vinho espanhol. Olhei o por do sol na janela. E vi. O fidalgo Dom Quixote, montado no seu Rocinante, seguido por Sancho Pança numa mula.
Foi a melhor refeição da minha vida. Sozinho, com vinte anos, num trem nas montanhas do litoral da Catalunha, vendo o por do sol. Qual foi o cardápio?
Juro que não lembro. Só lembro daquele cara com vinte anos sem responsabilidade nenhuma, sem traumas, sem conhecimento nenhum de vinhos e que a única preocupação era a de falar em Catalão. Vale!
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