quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Capítulo 7- Os irmãos Chavez

Jéssica




À noite estavam todos os irmãos Chavez e outros jovens da casa arrumados para irem ao continente jantar. Iriam a um lugar sugerido por Gui e Pedro Paulo. Dona Mercedes em vão tentou persuadi-los a ficarem; ela temia que eles pudessem beber ou que o mar virasse ou ainda qualquer outro imprevisto que prejudicasse o almoço do dia seguinte. E para se mostrar para alguns hóspedes que já haviam chegado juntamente com o Dr. Américo, ela mandou que os filhos fizessem uma coluna, onde ela, na frente de todos os fez prometerem que retornariam cedo e sóbrios depois do jantar. Depois ela suspirou, deu com os ombros e foi acabar os telefonemas e arranjos finais da véspera.

Puritana era a mais arrumada e estava com uma luz diferente da de ontem. Também estava revigorada. Ao chegarem ao píer da vila Duda comunicou que não iria acompanhar o resto do grupo ao restaurante, e antes que alguém pudesse questionar tal precipitada ação tão inesperada ele já havia sumido.

Nessa noite Duda estava atrás de liberdade, de poder ir aonde quisesse sem estar constrangido dos seus movimentos, sem ninguém que o irritasse ou soubesse quem ele era. Decidiu então ir a uma boate de Paraty, freqüentada pelos locais, lugar que raramente um turista se arriscava a entrar.

Muitas garotas bonitas passaram por Duda antes que Jéssica cruzasse seu caminho.

Ela usava uma saia branca e passou com uma postura muito recatada apesar de aparentar muita simpatia. Nada em Jéssica lembrava vulgaridade. Sua pele era negra, seus cabelos longos, sua boca sensual remetia a um frescor de frutas, seus dentes perfeitos e branquíssimos e um corpo esbelto redondíssimo na bunda e nos seios.

Ele foi babando em cima dela e ela, apesar de ter dado um sorriso, se esquivou. Duda não desistiu e a abordou. Ele perguntou seu nome e onde ela morava, mas tudo ia em um tom não natural até então desconhecido de Duda. A intenção dela era parecer normal e no momento que achou o registro certo:

— Eu vou para lá, tá? Tchau!

Ele ainda teve tempo de se virar e ver a ninfa passar com sua saia e brincos compridos e um perfume bom, igual a nenhum outro. Decididamente Duda não abordaria nenhuma outra naquela noite; a decisão então foi beber. Pegou uma cerveja e sentou-se em uma das mesas. Passaram-se dez minutos e Jéssica reapareceu. Ela o puxou para um canto mais deserto e beijaram-se.

As mãos de Duda acariciavam os ombros da bela Jéssica, que pele macia e dura, que boca, apesar de feminina, musculosa. Virou então o corpo de Jéssica e a abraçou por trás, pegando em seus cabelos, e foi o cabelo dela que o fez se apaixonar. Mais tarde ele confessou que nunca vira nem sentira cabelos mais macios e cheirosos que os da menina. A barriga dela era negra e isso o deixou mais excitado, e a menina, percebendo as intenções de Duda em querer carregá-la para outro lugar, se soltou e deixou claro que iria embora. E que se ele ficasse menos atrevido que ligasse para o número do telefone, e assim que o anotou, ouviu:

— Duda, saía daqui! Por favor, senão ele te mata!

Mas Duda riu ao ver que se tratava de um menininho duas vezes menor que ele, e como o local veio para cima dele gritando, com uma ginga de malandro, não se conteve após o pivete apontar o dedo para Jéssica e chamá-la de vagabunda, deu um só soco no queixo do pivete, que ele desmaiou. Tudo foi tão rápido que o resto da boate nem percebeu a agilidade do movimento de Duda e deram o pivete como bêbado desmaiado ou coisa que o valha.

— Vamos embora que eu te levo para casa!

Pegou a menina pelo braço e deixaram o local, que ficava em uma zona neutra entre o centro histórico onde ficam os turistas e a periferia de Paraty. A menina, ao ser interrogada por Duda, sobre quem era aquele tratante vilão? Só disse que sua casa era seguindo em frente à rua de pedra, que tinha um muro antigo de um lado e casas abandonadas e comércio fechado. A vegetação era grande, havia trepadeiras no muro e árvores antigas em ambos os lados da rua que nesse horário encontrava-se deserta. O casal que ia de mãos dadas percebeu que três homens os seguiam e quanto mais eles apertavam o passo mais também os três se apressavam para alcançá-los. Jéssica sugeriu então que virassem à esquerda e saíssem correndo em busca de socorro, o que não foi possível, pois duzentos metros depois foram encurralados em beco pelos sujeitos.

Se o leitor imagina que o pobre fidalgo tremia as pernas ao ponto de desmaiar, vou desapontá-lo. Duda, além de não ter medo algum, sentia-se feliz.

— Oh, playboy! Tá com pressa? Apronta pros neguinhos e foge assim? Comer meu cu você quer, né? Chupar meu pinto você não quer!?

O sujeito que vinha gritando agora andava com um amigo de cada lado e os três eram amigos do outro que Duda derrubara.

— Ele só me defendeu, falou?! Ele agora é meu namorado e ele não quer mais encrenca. Vocês estão em três e eu sei que te conheço, que tu não és covarde e nós estamos indo nessa.

Duda nem ouvia o que Jéssica dizia. Partiu para cima dos três e quando o chefe se deu conta do tamanho do Chavez e da total falta de cautela, não teve outra opção após um soco na orelha e um pisão no peito que o fez voar do que levantar-se e correr.

No que os outros dois seguiram o exemplo do líder. Mas Duda era bom corredor e ainda o alcançou, e dando-lhe uma série de bordoadas só cessou quando teve o desconfiômetro de que poderia pegar mal e a garota considerá-lo perigoso.

A agressividade de Duda não era a de um herói romântico pressionado por algum tipo de injustiça e que favorece fracos e oprimidos; era o que se chama nesses tempos de gratuita, afinal ele não é mercenário.

— Saiba que agora você me causou sérios problemas!

— Mas eu só te defendi

— É, mas você não estará comigo para me defender novamente.

— Quem falou que não?

----E aquele carinha que você derrubou na discoteca me persegue e me amedronta há um ano. Por que você não apareceu antes, hein?

Deixemos de lado por um momento a bela Jéssica e o agora esforçado Duda, que juntos caminham pela rua na noite quieta.

Antes de irmos para a cama ou a lugar que o valha com os dois, voltemos à boate onde eles se conheceram. Se Duda não encontrou nenhum conhecido naquele lugar e se depois de se despedir e sumir de Jéssica sem deixar telefone, seria como se nunca tivesse ido ao lugar. Acontece que às vezes mesmo quando não conhecemos ninguém ao redor, não se pode afirmar que ninguém ao redor nos conhece tão pouco. E Rubens conhecia Duda muito bem, apesar de se cruzarem na multidão e Rubens ao dar um “oi!” nem fora notado pelo bárbaro.

Mas quem diabos é Rubens?— quer saber o leitor.

Ora, pois lhes respondo: Rubens é o detetive desta história. Ou não é isso um romance policial? E já estava mais do que na hora dele surgir. Embora Gabriela nem tenha morrido ainda nesse ponto da história, impossibilitando qualquer início de investigação e tão pouco Rubens deixe de ser um leigo no assunto de criminologia, o que ele é, porém é bom saber que são dessas e outras recordações que Rubens e nós usaremos para caçar o assassino de Gabriela Chavez.

Rubens é amigo de Carla que é amiga de Gabriela. Ele é um tipo magrinho, feinho, de barba mal feita, metade hippie e metade aristocrata. Vagabundo, desses que se vê aos montes em cursos de sociologia pelo país afora. Carreira, aliás, que ele estuda. Porém não pensem que Rubens não tinha também boas qualidades, além do engajamento em ONGs e viagens ao Fórum Social, quer dizer, as boas realmente só sobra duas: uma é a curiosidade e a outra é... Sinto muito, mas este neo-comunista nos será o guia, mais por coincidência de estar nos lugares certos do que por deduções geniais.

Tentou ainda ver Duda já do lado fora, para conseguir cumprimentá-lo direito e perguntar sobre o almoço na ilha dos Chavez no dia seguinte, para o qual dona Anita encontrava-se apreensiva como já dissemos anteriormente. Não vendo ninguém seguiu para o centro histórico no largo do Rosário, onde ficavam os vendedores ambulantes de pulseirinhas. A demora foi de cinco minutos para que Carla que combinara encontrá-lo nessa noite viesse correndo abraçá-lo. Rubens demorou mais tempo que o normal segurando-a entre os braços; era evidente que o futuro sociólogo era apaixonado por sua amiga e confidente. Depois Pedro Paulo, seguido dos irmãos Chavez saudaram Rubens e apresentaram-no ao casal puritano.

— Comemos em um restaurante persa, você deveria ter nos acompanhado.

Mal Carla dizia isso e Gui se apressava a dizer um cuide-se para Gabi, o que após Pedro Paulo perceber que o primogênito dos Chavez partia para uma empreitada solitária, o que o deixou além de constrangido perante os amigos por não ter dado certo, também um pouco magoado, pois havia se iludido na sedução inconsciente de Gui.

— Não fujas meu doce irmão e lembre-te que a minha custódia e segurança foi posta em tuas mãos por nossa responsável mãe.

— Gabriela, minha linda irmã! Deixo-te não sozinha e perdidamente abandonada, mas em melhores mãos e mais cuidadosos olhos do jovem Cris, que escolhe o teu bem estar em prioridade ao próprio. O que eu confesso e tu bem o sabeis, sou um egoísta e sendo mais franco, invejo a tua beleza que de tanta claridade rouba o pouco de colorido que tenho. E se não te convenci, o que noto por essa carinha meiga de cinismo, pois te vi nascer, contente-se em ter o nosso irmão que a bem da verdade em beleza não é menos profundo que vós, ao teu lado. Porque se Cris me desse um terço dos olhares que a ti presenteia, eu por mim seria o mais feliz antiquário da terra!

E fingindo rodar uma capa imaginária sumiu rua adentro, misturando-se à multidão.

— Não vá ainda, Gui. Só mais um minuto, eu ia te dizer...

Essa frase de Gabriela não foi ouvida por Gui, ele estava realmente atrasado. Aliás, como todos nós que estamos sempre por almoçar o que já devíamos ter feito. Mesmo quando em uma atividade o leitor se julga adiantado em outras áreas, há de concordar que muito ainda temos de passar a limpo. Digo isso para iniciarmos o próximo capítulo, mas não pense que Jéssica desaparecerá do mesmo modo quer surgiu.

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