Uma jovem prima me levou a uma festa neste último ferido. Numa casa na praia de Juquehy com muitas árvores e bosques. Quando cheguei notei que as pessoas eram muito bonitas, bonitas mesmo.
Depois reparei que eu era o mais velho do lugar. Lá pelas cinco e meia da manhã resolvi que não incomodaria nem a prima nem outras amigas que acabei encontrando na baladinha e iria voltar a pé mesmo pela praia vendo o sol nascer.
Nem mesmo dei dez passos um desses carros grandes importados parou ao meu lado e baixou o tatinho que as janelas blindadas baixam.
“Você quer carona?”
No início achei que a menina queria alguma informação.
“Pra onde vocês tão indo?”
“Pra onde você quiser”.
Entrei no carro. Havia três meninas de vinte anos. Perguntei quem eram.
“As da faap levantem a mão”. Disse a de trás que junto com a do banco de passageiro levantaram a mão.
“As da puc levantem a mão”.
Dessa vez a do volante levantou a mão.
Pensei comigo. Esse é o primeiro trauma que essas jovens vão levar pra vida. Nada de usp. Porque um universitário da usp não tem teatro pra dizer que é da usp. Ele diz assim meio que jogando fora:
“Faço usp”. Baixinho, como se não tivesse importância.
Depois de alguns “conhece?” Descobri que era amigo de um primo de uma delas e que meus pais conheciam a família da outra.
Mesmo eu e aquelas três meninas não sendo da mesma geração éramos da mesma tal Zelite paulistana. Mas como elas me vendo de havaianas, calça jeans rasgada e camiseta sabiam disso?
O que será que elas pensaram? “Vamos dar carona pra esse menino, porque ele é um dos nossos? É um eleitor do Serra. Conhece Paris, tem também um irmão que vive em Nova York, freqüenta um clube tradicional como nosso talvez até o mesmo clube. Tem caseiro, é neto de imigrantes, ou bis neto no caso delas. Enfim ele tem pedigree como nós, logo vamos ajudar a classe”.
Ou será: “Veja esse tiozinho! Parece um naufrago, vamos levar ele tadinho”. E se fossem aquele grupo de meninos da paulista me espancariam achando que estavam sendo homofônicos?
Olha, diz o historiador Jacques Le Goff que o termo geração foi inventado pela geração dos anos sessenta. Anteriormente alguém que nasceu 12 anos antes de você ou doze anos depois não necessariamente compartilhava das mesmas vivencias.
Digo tudo isso porque não senti naquelas três, algo de afinidade real. Confesso que somos ou temos a mesma origem e procedência. E que apesar do meu fraco por lolitas nem todas as jovens me provocam a alma.
O que me atrai, é uma coisa de menina e mulher ainda em formação. Como se fosse uma obra em processo. Quando enxergo que aquele ser tem potencial. Que não se ensina nada a essa pessoa, apenas se mostra o que ela já sabe, mas não via.
“Você nasceu em 1974?!?!”
“Nasci”.
Vendo a satisfação delas de imaginarem que terão ainda 16 anos pelo menos de curtição pela frente, me dá vontade de dizer e aconselhar alguns pontos:
Primeiro não confiem no seu dna. Larguem os carboidratos e comecem uma academia já.
Segundo amem, amem muito, sofram. Mas dêem bastante também, porque uma coisa não exclui a outra.
Terceiro não acreditem que as gerações passadas foram melhores. Vocês são a geração “stand-up”, algo pós a geração “veio”. E por mais que os babacas nostálgicos torçam o nariz pela total liberdade de expressão que vocês têm, dizendo que vocês são alienadas, não acreditem.
Porque no fundo stand-up incômoda porque pode tudo, até ser alienado. Porque só existe na democracia. Porque faz parte da natureza do jovem ser preguiçoso e alienado.
Poderia fazer também listas de filmes que elas devem ver. De livros que devam ler.
“É nesse portão aí”.
Vi nos olhos delas que aquele passeio com o garoto-homem fora muito rápido. Um menino que ainda está em formação, em processo. Tão diferente delas, que já estudam e fazem estagio e só estão na pilha porque é feriado.
Mas vocês queriam o que? Que eu as convidasse para entrar? Fazer duas duplas de pôquer?
“Vocês jogam cartas?”
“Tipo cigana?”
“Não tipo baralho?”
“As que jogam levantem a mão”.
Chaplin dizia que o sol nasce todo dia e sem platéia. Ele era geração stand-up na veia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário