sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O anel.

Personagens:



Susana

Paulo

Garota que mora com Susana

Sonia, paciente do médico

Doutor Cássio, médico.





(O palco está dividido em duas partes. Uma sala de visitas onde uma garota dorme num sofá, ao som de uma música dançante alta e um consultório médico onde um médico aguarda um paciente. As duas estão com meia luz, ao subir o pano a sala de visitas sobe a luz, entra um rapaz.)



RAPAZ- (Vendo a menina dormindo.) Você desligou o celular? (A garota continua dormindo.) Cheguei! Eu me perdi foi difícil achar sua rua por isso que eu demorei, ta um puta transito. Você está me ouvindo? (Ele chacoalha a menina com as mãos.) Ei? Ta me ouvindo? Acorda Susana! (Vai até o som e desliga, tenta novamente chacoalha-la e acorda-la, mas não obtém nenhum resultado. Começa a ficar desesperado, saca o celular e liga.) Alo Renata, eu vim na casa da menina que eu falei. Acho que ela esta morta que é que eu faço? (Ouve.) Como ir embora eu toquei em tudo, com certeza alguém me viu entrar, meu carro esta na porta, vai ficar parecendo que fui eu que matei ela. (A luz muda para o consultório médico.)



MÉDICO- (Abrindo a porta.) Olá dona Sonia, faça o favor. (Ele dá passagem uma senhora que entra com uma pequena cadela.)



SONIA- Olá doutor Cássio. (Os dois sentam à mesa do médico, a paciente segura a cadela no colo.)



MÉDICO- Você parece ótima, como andam as coisas?



SONIA- Eu não poderia estar melhor.



MÉDICO- Pois então?



SONIA- O problema é com a Monique.



MÉDICO- Monique?



SONIA- Sim. Ela vem sentindo dores e não está comendo direito. Talvez tenha sido por causa do fim de semana que estive fora, pensei que ia passar quando eu voltei, mas na verdade Monique piorou.



MÉDICO- E onde esta ela?



SONIA- Ela quem doutor?



MÉDICO- Monique.



SONIA- O senhor está se sentindo bem?



MÉDICO- Quem eu?



SONIA- Estou achando o senhor meio confuso.



MÉDICO- Desculpe dona Sonia... Não estou realmente me lembrando, Monique é sua filha? Neta?



SONIA- Neta? Como ela poderia ser minha neta.



MÉDICO- Desculpe claro. Agora lembrei a sua filha Monique. (Ri.) Estava brincando, claro a Monique. Onde ela está?



SONIA- (Sem entender.) Aqui no meu colo.



MÉDICO- (Parando de rir.) A cachorrinha é Monique? (A luz troca para a sala de visita.)





RAPAZ- Espere Renata estou ouvindo alguém chegando. Acho que pode ser o assassino. (Ele desliga e se esconde atrás do sofá. A porta se abre e entra uma outra garota.)



GAROTA- (Vendo Susana aparentemente dormindo.) Susana! O que é que você esta fazendo? Não vinha um p.a. hoje aqui? (Vai até Susana e a chacoalha.) Susana acorda? Cadê o tal de Paulo? (O rapaz sai da trás do sofá.)



PAULO- Como você sabe o meu nome?



GAROTA- Que susto. O que é que você está fazendo ai atrás?



PAULO- Me escondendo não sabia quem poderia ser. (Garota vê Susana que continua dormindo.)



GAROTA- Por que a Susana não acorda?



PAULO- Não sei acho que ela morreu.



GAROTA- (Em pânico.) Não me mate por favor, pode me estuprar mas não me mate!



PAULO- Mas não fui eu. Quando eu cheguei, ela já estava morta, achei que você poderia ser o assassino.



GAROTA- Morta? Você já revistou a casa?



PAULO- Você vem comigo, revistar?



GAROTA- Não é melhor chamar a polícia. (Pega o celular.)



PAULO- Não! Espera, eles podem achar que fomos nós.



GAROTA- Tem certeza de que ela está morta?



PAULO- como é que eu posso ter certeza, nunca vi um morto, quer dizer um morto novo. Já vi avó e avô morrerem, menina eu nunca vi.



GAROTA- Tem um consultório médico vizinho, bem aqui do lado, muro com muro poderíamos leva-la até lá. (A luz volta para o consultório do médico.)





MÉDICO- Impossível! Isto não é uma clínica veterinária. Peço para a senhora se retirar.



SONIA- Vou denunciá-lo a sociedade protetora dos bichinhos além do que para mim Monique é gente. (A cachorra começa a se sentir mal, ou melhor a atriz finge que a cachorra esta mal.) Meu deus a Monique não esta bem, o senhor tem de operá-la imediatamente.



MÉDICO- Operá-la? Mas ela nem foi examinada. (Levanta e vai abrir a porta, Sonia puxa um revolver da bolsa.) Mas o que é isso? A senhora é maluca?



SONIA- O senhor é um médico e vai fazer o que eu estou mandando. Vai rasgar a barriga desta cachorra!



MÉDICO- Mas isso vai mata-la?



SONIA- Problema dela, já dei purgante ela não devolve a jóia que comeu. Eu tenho um casamento hoje e pretendo usar este anel na festa à noite. (Dá uma faca ao médico.)



MÉDICO-(Ainda relutante.) Cortar a pobre cachorrinha, que crueldade vamos esperar um pouco mais logo ela vai ao banheiro.



SONIA- Não há tempo, ainda tenho ,de ir ao cabeleireiro me maquiar. Vamos pegue um bisturi ou uma faca.



MÉDICO- Onde eu vou conseguir uma faca?



SONIA- Este abridor de envelopes em cima da mesa deve servir. (Médico pega o abridor de envelopes, Sonia coloca a cadela em cima da mesa. Médico fica parado acreditando que Sonia vá desistir da estupidez.) Vamos eu não estou brincando! (Aponta o revolver. Médico vai cortar a barriga da cadela quando surgem Paulo e a garota carregando Susana.)



GAROTA- Desculpe doutor, mas acho que minha amiga não esta bem. (Paulo vê Sonia armada e solta os pés de Susana.)



PAULO- A assassina!



SONIA- Vocês dois fechem a porta e entrem.



MÉDICO- Meu deus o que houve com sua amiga?



PAULO- Quando eu cheguei, ela já estava assim.



GAROTA- Eu não vou agüentar. (Desmaia.)



MÉDICO- (Para Sonia.) Eu preciso examinar esta garota. (Aponta Susana.)



SONIA- Ache o anel e você cuida dela. (Celular de Sonia toca. Ela atende.) Oi Marquinhos. Eu sei estou no transito, mas estou chegando. (Ouvindo.) Não segura a minha vez, pelo amor de deus. Um beijo. (Para Paulo, apontando a arma.) Vamos era o meu maquiador, não posso me atrasar, você abre a barriga da cachorra e o médico examina a garota.



MÉDICO- Qual das garotas?



SONIA- Sei lá a que já chegou desmaiada. (Médico dá o abridor de correspondência a Paulo e vai examinar Susana.)



PAULO- Mas por que você quer matar a cachorrinha?



SONIA- Chega de pergunta! Vamos logo enfia na barriga da cadela! (Toca o celular de novo. Sonia atende.) Oi Marta, vamos. (Ouve.) Eu sei estou atrasada daqui a pouco era para estar na igreja. (Paulo enfia faca na barriga de Monique que geme.) Deixa eu ir que o marquinhos esta me esperando para maquiar. (Vai guardar o celular na bolsa.) Para tudo. Que é isso. (Tira o anel da bolsa.) Estava aqui o tempo todo. (Olha a cadela toda ensangüentada. Para Paulo.) Isso não vai ficar assim, sabe quanto custa uma cachorra igual à Monique seu cretino? (Levanta guarda a arma e sai correndo. O médico e Paulo trocam olhares.)



MÉDICO- Que louca. (Para Paulo.) Sua amiga não morreu. (Pausa.) Ela abusou de algum entorpecente. (Susana levanta e começa a dançar.)



PAULO- Já a cachorra acho que eu... A matei. Que horror. (Chora.)



MÉDICO- (Tentando recobrar a garota amiga da Susana.)



GAROTA- (Acordando.) Nossa onde eu estou. (Vê o anel que Sonia na correria deixou cair.) Que anel é esse? (Médico pegando o anel.) Que tonta.



PAULO- Doutor, muito obrigado. Acho que nós vamos indo.



GAROTA- Precisa marcar um retorno? Exame?



MÉDICO- Se algum de vocês voltar a ter algum sintoma marque com minha secretária.



PAULO- Acertar?



MÉDICO- Tenha bondade, com a minha secretária.



GAROTA- (Da porta com Paulo e Susana saindo.) Obrigado doutor. (Vozes em off.)



GAROTA- Bonito, o p. a. vem te visitar e você esta doidona Susana?



PAULO- Afinal o que é p. a?



AS DUAS JUNTAS- Pinto amigo. (Risadas.)



MÉDICO- (Pega Monique joga em uma gaveta. Telefone toca.) É... Cobre duas consultas e marque um retorno. Pode mandar entrar o próximo. (Olha para o anel.) Minha mulher vai adorar esse anel.



(Pano.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário