segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Rita da tia Márcia.

 Um amigo me liga e diz que vai abandonar tudo. Tudo mesmo:
 “Leo, eu larguei minha mulher, meus filhos, minha casa a empresa da família. E vou seguir meu sonho. Igual você”.
 Igual a mim? 
 Combinamos de ir num bar. Meu amigo parecia mesmo muito alterado. Seu estado eufórico era seguido de tremedeiras e muita falação.
 “Minha faculdade foi um erro. Meus filhos... Eu nem queria filhos, foi minha esposa quem quis. Foi ela também que quis dar esses nomes franceses para eles. Morar num apartamento neoclássico. Trabalhar nessa fábrica de embalagens do meu pai. Casa na Riviera de São Lourenço. Tudo um erro.”
 Coitado do meu amigo achou que encontraria um aliado em mim. Afinal temos a mesma idade e eu nunca entrei numa faculdade de administração, nem nunca casei, ou freqüento Jurerê internacional, Fernando de Noronha e a Daslu.
 “Mas a minha vida não é melhor que a sua”. Tentei explicar lhe.
 “Você tem as gatinhas novinhas de vinte, faz as baladas durante a semana, come quem quer... Atrizes, universitárias, cantoras e garçonetes”.  
 Ele me convenceu que sua felicidade estava em concretizar dois sonhos: O primeiro era se tornar cantor sertanejo.
 “Podemos formar uma dupla Leo. Seu nome é bom pra dupla sertaneja: (Vitor e Leo), (Leandro e Leonardo). Que tal: Rafael e Di Caprio?”
 Eu lhe expliquei que não tenho talento pra música. “Mas e o segundo sonho?”
 Foi aí que veio a bomba.
 “Eu sou apaixonado desde sempre pela Rita da tia Márcia”.
 Disse assim, como se eu soubesse lá quem é a Rita da tia Márcia.
 Contou-me ser  uma mulher hoje de trinta e seis anos. A tia Márcia é a melhor amiga da sua mãe. Ele dera um beijo na Rita há exatos vinte anos e depois nunca mais conversara com ela. Que a vira no casamento do irmão dela há duas semanas e ainda era apaixonado.
 “Mas ela, essa Rita é casada? É solteira?”
 “Minha mãe diz que nunca se casou. Que nunca soube de nenhum namorado”.
 “Então vá atrás dela”.
 Duas semanas depois toca a minha campainha de madrugada. Abri a porta, era ele, que estava com duas mulheres. Uma de trinta e seis, lindíssima. Alta, magra, com lindos peitos enormes e cabelos compridos e uma outra bem mais jovem talvez de vinte e cinco. Lábios carnudos, baixinha e cabelos curtos, mas também bem atraente. Os três riam.
 Rafael me explicou que marcara com Rita em um bar. Ele estava muito nervoso. Foi logo contando tudo de cara e Rita lhe dera um abraço. Mostrou-se lisonjeada, mas ao contrário do que a tia Márcia e todos imaginavam, ela era casada sim e muito bem casada. Com Cíntia. A dos lábios carnudos. Agora todos riam.
 No dia seguinte, um sábado, Rafael ainda de ressaca voltou pra casa feliz, louco para reencontrar a sua amada esposa. Mas quem abriu a porta foi Rui.
 O Rui da facu. A esposa de Rafael disse que quando Rafael se mudou para o Flat ela adicionou o Rui no facebook e as coisas rolaram. Ela sempre fora afinzassa dele. Ela agradeceu ao agora futuro ex-marido por ter dado a ela um pretexto e coragem de ir atrás do grande amor da sua vida.
 Vanessa e Rui se casaram.
 Hoje, um ano depois eu fui a um show do Rafa. Sua estréia. Ele se tornou cantor de MPB. E não é que ele leva jeito. Casa cheia, aplausos. E beijos de uma gatinha de vinte aninhos. Amiga da Cíntia da Rita. Alias a Cíntia dividiu o palco com ele. Ela uma puta cantora. Pena que é casada.
 Eu também leitor tenho dois sonhos. Mas são para outra vida.
 O primeiro é ser fazendeiro. O segundo é casar com a minha “Rita da tia Márcia”. A diferença, é que a minha sabe e sempre soube do meu amor. E ao que consta lamentavelmente gosta de homem e não canta.
 Leitor, não demore mais. Corra em busca da sua “Rita da tia Márcia.” Ou ainda do "Rui da facu".    

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