sábado, 9 de abril de 2011

A Trupe. Capítulo 9


 Papagaio de pirata.

 Bia ficou de me pegar no aeroporto. Mas quando cheguei ao Santos Dumont, nada dela. Meu celular toca.
 “Você não me reconhece mais?”
 Olhei para frente e vi a uns dez metros uma mulher incrivelmente linda. Cabelos, pele, peitos, num vestido verde e por um segundo pensei: “Conheço essa atriz”.
  Era ela Bia. “Temos um vernissage para ir.”
 E fomos eu e ela. Chegando à galeria, várias pessoas vinham fotografar e falar com ela. Eu tentava participar, mas parecia que o que eu falava não tinha importância. As pessoas se concentravam nela.
 Uma luz se ascendeu forte e uma repórter de TV veio entrevistá-la. Eu tentei sair de perto, mas ouvi a repórter dizer: “Pode ficar aqui junto.”
 Saindo da galeria, ela disse que tínhamos ainda um outro evento para ir. Era a comemoração de um espetáculo de globais num restaurante. O espetáculo estava novamente estreando no Rio.
 Eu não sabia a que horas eu deveria sair do lado dela, ou se deveria ficar com ela para as fotos. Até que uma hora depois.
 “Leo, nós precisamos conversar.”
 Sim eu concordei. Vamos ter um filho. Será que vamos casar? Eram várias dúvidas e soluções que precisávamos tomar, juntos.
 Neste dia percebi que existiam três mundos na minha vida, e foi o que eu disse a Bia.
 “Um mundo da criação, aonde tudo flutua. Eu escrevo, eu atuo. Durmo feliz, tudo fica mais bonito, o mar, as árvores, a cidade. Mas tem o mundo das contas, do dinheiro, tudo fica um horror, os dias são iguais, tudo é barulhento e insuportável. E hoje descubro este terceiro, que é o seu. Todos são prestativos, tudo é fácil, comemos de graça, em lugares bonitos, o seu carro é confortável, seu cabelo macio, e é como se eu fosse à esposa. Entende?”
 “E isso te incomoda? De eu ganhar dinheiro e você não? De eu ser bem tratada, idolatrada, ser uma pessoa pública?”
 Como eu responderia a isso? A palavra é famoso. Leo você gostaria de ser famoso? Claro que sim.
 “Eu te admiro Bia. E quero que o meu filho nasça parecido com você.”
 “Leo eu confesso que durante um tempo eu amei esta vida. Esse reconhecimento, esse conforto. Mas eu estou com medo. Porque este tempo já durou muito. Outras meninas virão. E eu há muito não subo num palco. Isto me apavora. Porque agora vai ser diferente. Não é como antigamente. Agora todos vão estar lá vendo cada deslize meu. E fora tudo isso eu estou grávida de um homem que nem sei se gosta de mim. Que nem sei se ele sabe o que ele quer da vida. Seja em relacionamento amoroso, ou da vida profissional.”
  O que mais eu poderia querer? A verdade é que Bia era alguém de sucesso. E eu? Será que ela me admirava? Será que toda essa coisa de voltar a fazer teatro, não era só uma folga daquele terceiro mundo? Ela pegou na minha mão, estávamos agora num bar, no Baixo Leblon.
 “Leo, ou você se resolve com a Mari, ou você se resolve com a Mari. Morar nós três juntos não vai dar.”
 “Do que é que você está falando? Eu e a Mari? Ficou louca?”
 “Resolva. Boa noite.”  
 E me deixou ali sozinho. Vai ver todo aquele mise en scene de evento e vernissage, era só para me mostrar o quanto ela era poderosa. E era mesmo.  
 No dia seguinte quando cheguei no ensaio estavam todos exaltados. Napoleão se aproximou de mim e disse: 
 “Faça a mala estamos indo para Tiradentes.”
 Rodolfo discutia com Dario o produtor que havia vindo de São Paulo. Falavam sobre o patrocínio do Banco Brasilense. Um patrocínio milionário.
 “Mas a produção do Teatro ao Lado já sabe do patrocínio?” Perguntou Bia ingenuamente.
 “E o que é que eles têm com isso?”
 “São nossos parceiros”.
 “Nós não vamos mais estrear no Teatro ao Lado.” Falou Rodolfo.
 “Não?” Eu perguntei no que Napoleão que parecia a par de tudo disse:
 “Não.”
 “Nós vamos estrear em São Paulo.” Desta vez foi Rodolfo. “No teatro do Banco Brasiliense.”
 Todos ficaram perplexos com a notícia.
 “Mas são oitocentos lugares!” Exclamou Duda.
 “Tanto melhor, se divertiu Rodolfo.”
 Eu adorei a novidade, afinal a Trupe era de São Paulo, nada mais natural.
 Rodolfo havia brigado com a administração do Teatro ao Lado. Coincidentemente abriu uma janela no Teatro do Banco Brasiliense em São Paulo. Eles se entusiasmaram muito com o nome de Bia no elenco. E resolveram não só patrocinar, como ainda colocar a produção do teatro e a assessoria de imprensa a nossa total disposição. Ale, nossa cenógrafa, embarcaria naquela noite mesmo para São Paulo.
 Tudo estava sendo resolvido com uma rapidez tremenda, só um detalhe nos deixou ansiosos, não digo preocupados, mas ansiosos.  
 A data deles em São Paulo é um mês antes do nosso cronograma aqui do Rio.
 “Meu Deus!” Exclamou Duda.
 “Nós conseguimos! Ou melhor, conseguiremos!” Fui rápido.
 Só sei que dois dias depois estávamos numa van, nós sete integrantes da Trupe, somados ao jornalista Matheus, que gravava tudo com uma câmera a caminho de Tiradentes, Minas Gerais. Numa manhã de céu aberto. 
 Estávamos a dez dias do dia D.  

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