quarta-feira, 13 de julho de 2011

16 Capítulo 5

O leitor deve ler os capítulos 1, 2, 3, 4 anteriores para poder avançar no 5. Valeu.

Sentei-me numa barriquinha de praia e pedi uma água de coco. Abri a pasta lá estavam algumas fotos, datas e descrições dos crimes. Pessoas que haviam sido interrogadas. Eram meninas de cabelos longos, lisos. Todas branquinhas, embora morassem na praia. Talvez a minha primeira constatação, eram todas com estereotipo caucasiano. Européias do norte, eu não sei ao certo o  nome que se dá. Alemãzinhas? E magras. Pelas fotos elas eram magras de cabelos lisos e compridos. Mas que adolescente não é magra? Se bem que hoje em dia, com tantos carboidratos a disposição.
 Se Luana não reagiu, pelo menos não havia marcas em seu corpo, posso concluir que uma: Ela não tinha medo do assassino, pois era alguém conhecido dela, ou alguém conhecido como um salva vidas?  Como Foguinho? Duas foi surpreendida. 
 Uma coisa eu sei, este criminoso é um local. Seria impossível ele se relacionar com as vítimas, ou mesmo não ser visto perto de onde os corpos foram encontrados sem ser alguém que não chamasse a atenção. Todos reparam quando turistas ficam ou beijam uma local.  
  Certa vez li que quando se cruza com um Serial Killer, não há nada a fazer ele vai te matar. Sei. Gostaria de cruzar com um desses.
 Levantei nos olhos daquela pasta, dei um gole na água de coco. Aquele mar tão lindo na minha frente. Céu totalmente azul. Como o litoral paulista é tão mais interessante no inverno que no verão. Só pessoas realmente da praia e pouquíssimas.
 Nunca entendi como alguns de classe média alta chamam estes jovens locais de: “Gente feia”. Para muitos na capital bonitos são apenas pessoas com carros blindados e empregados. Já eu consigo ver sensualidade nas pessoas independente da classe social.
 Nada de inclinação a esquerda não. Apenas uma sensibilidade aos verdadeiros desejos. Não que isso me ajude a investigar e a entender os criminosos. Porque como diz no filme do Batman, criminosos não tem complexidade nenhuma. São criminosos e ponto.
 Na praia, estes jovens locais jogavam futebol. Outros se preparavam para uma capoeira. Algumas meninas riam em pé próximas a mim. Pediam que o dono da barraca, um tal Nicó, tocasse violão. Quando dei por mim Nicó me mostrava algumas poesias em seu caderno.
 Incrível como é fácil fazer amizades no litoral, porque embora esta gente tenha contato com turistas do mundo todo, sim o litoral paulista recebe gringos, muitos, claro que gringos residentes da capital São Paulo. Geralmente executivos de grandes empresas que vem com suas famílias, trazidos por outros brasileiros. E toda fauna de paulistanos, peruas, mauricinhos, surfistas, moderninhos, hippies... Ou seja, apesar de interior e muito, 5 mil habitantes, os locais não são ingênuos nem bonzinhos e um tanto até cosmopolitas.
 Não falo dos caiçaras em especial.
 Estes caiçaras gostariam de se convencer de que antes dos turistas, e os nordestinos, paranaenses o litoral era um paraíso. Um lugar onde todos eram iguais e não havia exploração do homem pelo homem. E que tudo de ruim foi trazido pelos turistas. Você leitor já ouviu falar de um lugar assim? Eu não, só em histórias.
 Alguém pode dizer que em maior escala a analogia serve para explicar a nossa colonização dita de exploração. Mas Victor pare de ser prolixo. Voltemos a nossa investigação.
 O fato é que com uma natureza dessa e uma juventude que embora use drogas tem corpos sarados e lindíssimos. A vida sexual destes jovens é bem resolvida. O problema deles é outro. Adolescentes grávidas, violência do tráfico, difícil acesso a cultura, a educação. Uma menina de São Paulo não tem tempo. Esta sempre correndo. Cursinho, vestibular, estágio, academia... Aqui não.
 Quando uma menina se desvia da rotina em São Paulo, logo é notada. Ou foi matar aula, ou seqüestrada, ou está doente. Aqui na praia não. Se uma menina desaparece por horas, ou até um dia todo, ninguém dá falta. O criminoso sabe disso.
 “Ei mina vamos dar tiro de cocaína? Mas vamos já, não conte para ninguém.”
 “Vamos”.
 Em São Paulo, em primeiro lugar homens adultos não se aproximam de adolescentes. Ok, na periferia sim. Mas na classe média é visto como anormal.
 Será que eu estou no caminho certo? Será que o criminoso tinha um carrão, era mais velho do que as vítimas e as impressionava com seu poder econômico? Ou poderia ser alguém como este Nicó, dono da barraca, e bom de papo. O maníaco do parque não era assim?
 Acontece que Luana iria sacar o maníaco do parque na mesma hora. A não ser que ela estivesse enganada em relação à identidade do criminoso.
 Toca o meu celular. É Juca o corretor.
 “Falei com um cliente e arrumei um terreno perfeito para você Rui!”
 Eu já estava ficando angustiado com as minhas reflexões sobre os assassinatos e seria uma boa idéia um colírio daquele me levar para passear e ver terrenos.
 “Juca e estou tranqüilo agora, podemos ir lá ver? Eu estou no Piabú.”
 “Desculpe Rui, mas pode ser amanhã eu fiquei de ir jantar com a minha esposa hoje”.
 “Claro eu entendo. Amanhã é ok para mim também.”
 Foi aí que eu o ouvi dizer: “Droga este cara de novo!”
 “O que Juca?”
 “Nada Rui. Eu tenho de desligar.”
 E bateu o telefone na minha cara. Começou a anoitecer e eu me despedi dos novos amigos. Disseram-me para ir à noite ao único bar de Piabú e Cacau. Eu disse que talvez fosse, o que fez a alegria das garotas. Coitadas mal sabem elas. Se eu fizesse este sucesso com os homens...  
 De volta ao hotel, pousada. Lá estava a tal Verônica tomando espumante.
 “Rui onde você estava? Foi na praia?”
 “Oi querida, não. Quer dizer eu fui conhecer a praia do Piabú.”
 “Nossa tem uma gente feia lá, não é?”
 “Você diz uns locais, nordestinos e caiçaras?”
 Ela fez uma cara de aprovação. “Isso mesmo, uma baianada. Um cheiro. E você ainda corre o risco de ser assaltado.”
 Ricardinho observava tudo ao longe. Mas qual não foi a sua surpresa quando um hospede que havia a pouco se registrado gritou:
 “Vic! Vic! Você por aqui?!?”
 Era Marcelo um amigo antigo do pólo aquático. Mal pude tentar explicar a confusão para Verônica. O fato é que Marcelo e Verônica se deram bem logo de cara.
 “Servido?” Ela perguntou para ele, enquanto Ricardinho me puxava. Depois de entregar uma taça para Marcelo. 
 “Então é você!!!!!” O rapaz estava muito eufórico. “É você Rui? Diga-me você é Vic?!” Ele parecia estar diante da revelação de um messias. Não podia desapontá-lo. 
 “Sim eu sou o Vic.”
 “Não acredito. Então é você!"
 "Sim sou eu." Mas o que era aquilo afinal?
 "Eu achei que Vic era uma mulher.”
 “Do que você está falando?”
 E aí eu descobri a coisa mais surpreendente de Lu. Ela pediu a Ricardinho que guardasse o computador e não entregasse a ninguém, exceto a mim. Victor.
 “Ela disse só eu e Vic podemos pegar este computador. E me fez repetir isto três vezes. Ela era maluquinha. Quando eu perguntei quem era Vic, ela disse: Você vai saber quando Vic aparecer. E você vai gostar.”
 Luana embora nunca tenha jogado pólo aquático, era uma excelente jogadora. Eu sempre fui banheira ou pivô no pólo. Alguns acham que a posição que mais precisa-se de força. Mas não é só isso. É preciso também enganar o adversário. Colocar um outro falso jogador para tirar o verdadeiro marcador de cima. Pretender que se é canhoto, quando se é destro. Fingir falta, quando a falta não existe. Eu era bom nisso e Luana mais dissimulada ainda.
 Por isso roubaram o computador falso. Ela tinha dois. Ótimo. Por outro lado talvez esta dissimulação seja que a tenha colocado em risco. Bom já estava ficando tarde e eu tinha um jantar para ir.


                                                             

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