E necessário o leitor ler os capítulos 1,2 e 3 antes de ler o 4. Valeu.
O nome do delegado era Elias. Ele me contou que se formara em São José dos Campos e há dois anos tinha assumido a delegacia de Piabú. Realmente o Brasil estava se transformando. Mesmo a polícia às vezes surpreende. Além de gato era um policial competente. Deu a entender que sabia da minha origem e da minha vida profissional. E ainda disse me considerar um grande jornalista investigativo e corajoso.
“A declaração que dei sobre a morte da sua amiga Luana foi para não prejudicar uma investigação em que trabalho há cerca de quatro meses. Nunca achei que Luana tivesse se afogado. Ela inclusive me procurou no dia anterior a sua morte”.
“E o que ela queria?”
“Disse que estava prestes a conseguir provas para incriminar o assassino de duas meninas daqui do Piabú e uma outra do Cacau”.
“Você teve três assassinatos aqui em quatro meses?”
“Sim. Três meninas na idade de dezesseis anos. As vítimas tinham em comum além da idade, de serem bonitas, usuárias de droga e de baixa renda”.
“O que isso quer dizer?”
“Que se fossem turistas de São Paulo, me mandariam reforços para ajudar na investigação.”
“Entendi. E Luana não lhe deu nada?”
“Foi tudo muito rápido, ela não queria que o suspeito soubesse que ela tinha me procurado.”
“E o senhor sabe quem era o suspeito?”
“Sei. Um garoto que você chegou a procurar hoje. Foguinho.”
“E você acha que o Foguinho poderia ter cometido estes crimes?”
“Victor, eu tenho dúvidas. A primeira morte foi por pauladas. A segunda por estrangulamento e a terceira com facadas. Nas três houve violência sexual, inclusive anal. Não posso afirmar que um garoto de dezesseis anos tivesse força e maldade suficientes. Mas claro posso estar enganado. Não tenho pessoal suficiente, por isso não pude colocar ninguém vigiando e seguindo Foguinho. O que sei é que duas testemunhas o viram na manhã em que Luana foi encontrada. Ele estava andando pela praia. O que também não quer dizer muito, as pessoas vão à praia.”
“Mas Elias, digo Delegado Elias...”
“Pode me chamar de Elias, Victor.”
“E se Foguinho fosse uma fonte. Veja eu conhecia muito bem Luana, eu sei como ela seduzia para trabalhar.Para conseguir informações. Nós fazíamos uma equipe”.
“Diga-me Victor você e Luana já namoraram?”
Eu sorri. E fiz um gesto de não com a cabeça.
“Imaginava que não mesmo.”
Elias me propôs trabalharmos juntos. E me deu uma pasta com cópia de toda a investigação e informações sobre os assassinatos das meninas de 16 anos.
“Ajude-me Victor a encontrar semelhanças nas vítimas, algo em comum. Aqui pessoas morrem frequentemente. Jovens. Muitas vezes mortes por vingança. Seja por dívidas de droga ou infidelidade. Mas estas meninas não estavam comprometidas. E eram usuárias casualmente. E existe a violência sexual. Estupro mesmo”.
“Não passou pela sua cabeça as vítimas conhecerem o agressor?”
“Eu entendo o que você quer dizer Victor. Mas lembre-se de que aqui todos se conhecem. Somos cerca de cinco mil habitantes. Vamos fazer assim, eu preciso sair agora. Por que não jantamos a noite?”
“Claro Elias. Eu conheci um lugar... Constantinopla. Que tal?”
“Lugar bem caro tanto para um jornalista quanto para um delegado. Mas para minha sorte eles não me cobram e eu erradamente aceito. Não sou nenhum anjo.”
“Não tenho tanta certeza assim. Você parece um anjo da lei. Nove horas?”
“Combinado.”
Eu já ia deixar a sala com a pasta na mão, quando parei ao ouvir de Elias:
“Victor só mais uma coisa. Eu sei que ela era sua amiga, mas aqui eu resolvo as coisas da maneira correta. Se você vai me ajudar, vamos fazer isso direito”.
“Claro Elias.”
Eu fingi concordar com aquilo. Entendi o recado. Um filho de bicheiro se vinga matando. E Elias achou que apesar de tudo eu era diferente. Mal sabia ele que meu pai perto de mim equivale a um carneiro perto de um lobo. Se uma merda de Serial Killer tivesse matado Luana, este ser iria se arrepender de cada morte cometida e iria implorar por piedade. Iria não. Vai.
Antes de voltar para a pousada, fui conhecer Piabú. Andar pela praia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário