terça-feira, 14 de agosto de 2012

Álvaro o poeta arquiteto.


 ÁLVARO AOS 20 ANOS:


Aos 20 anos Álvaro era lindo. Cursava faculdade de Arquitetura e sonhava em ser um grande arquiteto. Foi nessa época que conheceu Marcela. Uma morena sensual, extrovertida e cheia de vida. De vida e de homens. Não faltavam opções para Marcela.
 Saíram durante 3 meses. Nos quais Álvaro foi corno uma meia dúzia de vezes. As amigas de Marcela não se conformavam. Como ela podia desprezar aquele quase poeta, ingênuo e puro?
 Marcela ao contrário, o achava pegajoso e triste. E se foi. Álvaro então passou a se dedicar só a faculdade.




AOS 25 ANOS: 



  Álvaro aos 25 já se formou na faculdade. Recusa-se a trabalhar para o mercado imobiliário. Depois de muito penar, acaba entrando para um escritório de arquitetura voltado a projetos culturais: museus, galerias, escolas e fundações. Trabalha muito, mas ganha muito, muito pouco.
 Ele quer se mudar para o centro da cidade e dividir um apartamento com seu amigo Dudu. Sair da casa dos pais. Passa a só frequentar bares, exposições e festivais de cinema culturetes.
 Um dia os amigos do colégio o levam para uma balada menos off. Lá ele encontra-se com Marcela. Conversa vem, conversa vai, e eles se beijam. No dia seguinte vão almoçar juntos. Depois Marcela não responde mais seus telefonemas. E com certeza nem lia mais seus eternos e-mails. Ela some.
 Semanas depois ele descobre por uma amiga em comum que Marcela está namorando. Ele não aguenta a notícia. Larga o escritório. Arruma as malas e sai atrás de uma pós em Barcelona.




AOS 30 ANOS: 




 Aos trinta anos, Álvaro conhece uma espanhola. Ela está na pós com ele de arquitetura em Barcelona. Maria de Lurdes era a garota mais bela da universidade. E a mais descolada. Ela sabia tudo de música Brasileira, cinema Frances e cinema independente norte americano.
 Já estavam juntos há alguns meses. Ela o levou para assistir companhias europeias no teatro, dança e grandes exposições. Lurdes conhecia todas as galerias. Naqueles anos Barcelona era a cidade mais descolada da Europa. O que Paris fora até os 50 e depois Londres nos anos 60, 70 e 80, agora perdia espaço nos anos 90 para Barcelona e talvez Berlim.
 Álvaro foi muito feliz nestes meses com Maria de Lurdes. Frequentavam a boemia, shows, bebiam e faziam amor ouvindo ótima música e lendo poemas. Ela dizia que o Brasileiro era talentoso e um dia ganharia um pritzker (Nobel da arquitetura).
 Nesta época ele fez até um cenário para uma companhia de dança. Ela o incentivou a fazer uma exposição das suas fotos numa galeria de Barcelona.  
 Álvaro acreditava que seu lugar era ali, na Espanha. Nunca mais voltaria ao Brasil. Um fim de semana, no qual Maria Lurdes visitaria uma amiga há alguns quilômetros de carro, Álvaro estranhou que ela não retornara.
 Como o celular de Maria de Lurdes não atendia, ele ligou para Ana. A amiga de Maria de Lurdes. Foi o pior diálogo da vida dele. Naquela mesma noite foi o velório.
 Ana ajudou Álvaro com a mudança. Ela lhe enviaria suas caixas depois. E em uma semana, Álvaro entrava num taxi em Guarulhos.





AOS 35 ANOS: 



Álvaro aos 35 está de volta ao Brasil. Não consegue outro trabalho se não reformas. A sua recusa em ir para o mercado imobiliário, projetos comerciais, faz com que ele se junte a uma sócia numa livraria de livros de arte importados.
 Livros de arquitetura, artes, gastronomia, viagens... A loja fica no mesmo bairro que agora vive Marcela, sua antiga paixão. Eles sempre se cruzam na rua. Um dia almoçam juntos. Mas Marcela está namorando. Namoro sério.
 Um dia recebe uma ligação de Ana, amiga da falecida Maria de Lurdes. Ela diz que está vindo conhecer São Paulo. Ana acaba se hospedando na casa de Álvaro. Ela consegue um trabalho de correspondente internacional de um jornal Espanhol.
 Ana passa a arrumar a casa de Álvaro. Cozinhar e colocar tudo no lugar. Ela compra plantas um gatinho e organiza as gavetas, compra uma estante e organiza os livros, muda a luz da casa.
 Dudu e Rodriguinho numa visita de quarta feira, para ver o futebol, notam a diferença que a Espanhola fazia. Ou tinha feito. Queriam saber o por que depois de quatro meses de convivência, ela Ana, continuava só uma hóspede de Álvaro.
 Ele disse aos amigos que ela era amiga de Lurdes e que não era certo serem algo mais do que amigos.
 Ana propõe uma viagem ao Nordeste. Vão para a Praia da Pipa. Lá depois muito vinho, eles acabam abraçados na cama.
 Ao voltarem para São Paulo, Ana muda-se para o quarto de Álvaro. Ele recebe a notícia de que Marcela iria se casar. Ela mesmo dias depois vai até sua livraria levar o convite.
 Ele não aguenta o impacto da notícia. Acordava todas as noites pensando em Marcela. Mal notava Ana ao seu lado. Ficou em depressão, bebia muito. Ana não aguentou, conheceu um músico na Vila Madalena e caiu fora.
 Álvaro, novamente estava solteiro e sua loja ia muito mal. As pessoas passaram a viajar muito e compravam os livros fora do Brasil.
 Foi então que recebeu a proposta de projetar uma livraria. Um projeto ambicioso, que mudaria o conceito das livrarias em São Paulo. Era um editor amigo, que queria se tornar além de editor, um livreiro. Um grande herdeiro que não tinha limites para os gastos. Ele havia visto os projetos de Álvaro quando estudante em Barcelona, e queria alguém assim, que não se vendesse. Um artista de verdade.
 Era a chance da vida de Álvaro. Ele passou a se dedicar 24 horas por dia ao projeto, já que o livreiro tinha comprado a sua livraria de importados.
 Passou o dia de casamento de Marcela, na prancheta. Não foi na igreja nem na festa.





AOS 40 ANOS:



  A livraria projetada por Álvaro vira ponto turístico em São Paulo. Além de livros havia um teatro anexo e eventos culturais passam a acontecer todos os dias. Álvaro por conta do da livraria, passa a ser chamado para novos projetos.
 Como ele recusava a maioria, achava alguns comerciais demais, seu prestígio só crescia. Todos agora queriam seu nome. Projeta um Sesc e depois um hotel no litoral.
Em seguida uma loja nos jardins e dois prédios na Vila Madalena. Um residencial e um de escritórios. Projeta ainda duas produtoras de vídeo e uma agencia de publicidade.  
 Sua equipe passa a ter cinco pessoas. Muda-se para um escritório descolado e pasa a fazer parte dos grandes nomes da arquitetura atual brasileira. É convidado para todos os eventos. Dá palestras. Surge um convite para fazer uma casa no Uruguai, e duas em Trancoso na Bahia. Seu escritório agora tem oito pessoas.
 No final do ano ganha um concurso para um Museu em Belo Horizonte. Ufa! Álvaro passa estes anos só trabalhando. Seus cabelos ficam grisalhos, chega até a emagrecer um pouco. Recebe um convite para dar aulas, mal vê os familiares, não tem tempo para nada.
 O que o torna mais bonito. Passa a ser um dos partidos mais cobiçados da cidade. E um dia recebe a noticia de que Marcela havia se divorciado. Há um, dois anos não a via.
 Ela é quem o procura. Na verdade sempre mantiveram contato por e-mail e facebook, Orkut... Mas há tempos não se viam.
 Marcaram um jantar. E lá estava ele com a mulher da sua vida. Vinte anos depois. Ele nunca vira Marcela tão disponível para ele. Parecia outra mulher, mais triste, mais insegura, magoada.
 Então ele pergunta: “Por que você nunca quis saber de mim?”
 E Marcela resolve ser honesta.
 “Você sempre foi bonito e gentil Álvaro. Mas você também era um cara apático, duro que se recusava entrar para o sistema. Bonzinho demais. Acontece que eu queria um cafajeste, eu era muito menina. Alguém que me garantisse um futuro. Sei lá. Mas vendo você hoje com todo este sucesso...”
 De repente Álvaro achou Marcela tão fútil, tão cafona, tão babaca e tão... velha. Ela já era totalmente diferente daquela garota exibicionista de vinte anos atrás. Já não tinha brilho, já não tinha qualidade nenhuma. E estava desesperada para agarrá-lo de qualquer maneira.
 “Marcela você sabe o que é o amor de verdade? Eu amo arquitetura. E estou muito longe de ter dado certo nela. Minhas ambições são muito grandes. Enormes. Até hoje não acho que eu tenha feito um só projeto do qual eu possa dizer: Consegui. Eu te amei muito. Adeus”.
 Meses depois resolve ir a um show de música no Sesc que ele havia projetado. Não havia muita gente no show e logo avistou Ana, a espanholinha. O show era do seu marido. O tal músico, lembram-se?
 “E agora que você está rico e famoso, onde você mora Álvaro?”
 “No meso apartamento em que morávamos.”
 Ela riu. “E já arrumou aquele acampamento?”
 Ele riu. “Não.”
 Ana então inventou uma entrevista com Álvaro no apartamento dele. Ela disse que estava com tanta saudades daquele lugar e de Álvaro também.
 “Então volta.” Ele propôs.
 “Não posso. Já sou casada.”
 Tomou o final da cerveja e se foi.
 Álvaro ficou ali sozinho, olhando pela janela. E minutos depois ele já estava na prancheta desenhando um museu.
 Estava feliz. Na companhia da sua paixão. O amor da sua vida. A arquitetura. 

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