CARLOS AOS 20 ANOS:
Carlos aos 20 anos era ambicioso. Enquanto Álvaro tinha ambições artísticas, Carlos queria ser um empreendedor. Sonhava com um império. Nem terminou o colégio e entrou numa agencia de publicidade. Era redator.
Carlos era um garoto de comunicação. Algo intrínseco. Ele era gordo. Mas era um gordo carismático. Sua rede de relacionamentos aumentava todos os dias. E dos quatro era ele quem conhecia mais meninas.
Era convidado para todos os lugares e eventos. Ninguém se lembra de vê-lo beijando ninguém, mas sempre havia meninas lindas a sua volta. E elas estavam sempre sorrindo.
Carlos começou a despontar na agencia por conta de uma campanha, e logo seu salário era muito bom para alguém da sua idade.
Carlos começou a viajar pelo mundo. Fazer contatos. E por incrível que pareça Carlos era reconhecido nos lugares como um formador de opinião da nova geração.
Um dia num grande evento com inúmeros jornalistas, Carlos foi visto com uma atriz da Globo lindíssima. Depois num restaurante com uma modelo fantástica. Elas diziam que eram só amigas.
Mas a fama estava feita. Quando os amigos perguntavam das beldades, ele só pedia descrição. Fingia que realmente era rodeado delas.
Carlos aos 20 anos era realizado. Mas não era feliz. Sabia que seu mundo era uma farsa.
AOS 25 ANOS:
Carlos aos 25 anos faz uma campanha histórica. Com este sucesso, funda a sua própria agencia de publicidade, a Bollívia. Compra um Loft e um carro do preço de um loft. Vive entre a ponte aérea porque tem clientes no Rio.
Torna-se sócio de um restaurante e de uma balada no Rio. Aluga um apartamento na Barra.
Contrata uma grande assessoria de imprensa, e saí em todas as revistas e jornais. Engorda dez quilos. O que o deixa muito deprimido. Quanto mais engorda, mais quer ganhar dinheiro.
Começa um curso sobre vinhos. Compra uma enorme adega. Mulheres? Não faltam mulheres nesta época para Carlos. Não que ele as pagasse, mas um jantar aqui, um contato ali, um presentinho acolá... Se não podemos agradar as “amigas” pra que ser rico e poderoso?
Ele estava no Aeroporto do Rio quando veio à notícia. “Você ganhou em Cannes!”
Desligou o celular. Sorriu. Agora sua vida não era mais uma farsa.
AOS 30 ANOS:
Mudara seus negócios para o Rio. Vivendo agora em Ipanema. Já tinha dinheiro suficiente para se aposentar, mas ao contrário trabalhava cada vez mais. Sócios em vários negócios. Publicidade, campanhas políticas, produtoras de vídeo, rádios e igrejas evangélicas. Sim igrejas.
Carlos começou a apoiar e trabalhar para os barões evangélicos e em pouco tempo tornou-se ele mesmo um magnata evangélico.
Resolveu se casar com uma garota de família tradicionalíssima da zona sul. Seria o maior casamento evangélico da história. Pois seria um casamento evangélico para o dinheiro antigo. Para a classe alta tradicional da ponte aérea Rio- São Paulo. Filha de um senador.
Viriam todos os políticos importantes de Brasília e o empresariado de São Paulo. Mas duas semanas antes, Carlos ao ver uma secretária muito sensual e suburbana, não aguentou e a levou jantar e saiu com ela na night carioca.
Os fotógrafos paparazzis aproveitaram e clicaram tudo. Um verdadeiro estrago no dia seguinte.
Carlos mandou todos passearem. Afinal o que ele ganhava com aquele casamento? Uma patricinha gastadeira, que nunca trabalhou e chata pra caramba? Nem gostava dela, e ela estava engordando. E ele queria ser o único gordo do casal.
Rico, muito rico e poderoso, cheio de mulher no mundo, casar pra que? Resolveu que esperaria pelo menos mais uma década.
Já sua noiva, esperou só dez meses. E casou-se com um rapaz de uma também tradicional família da zona sul.
AOS 35 ANOS:
Apesar de ter sido sempre um empreendedor da iniciativa privada, Carlos aos 35 anos tinha vários negócios com o Estado.
Seus principais clientes eram políticos, muitos deles representantes de eleitores evangélicos.
Mas Carlos começou a se meter em tudo, não só em propaganda política, mas também livros escolares, universidades, fundações, lobby propriamente dito.
Vendeu todas as suas participações em pequenos comércios como baladas, restaurantes, e postos de gasolina. Agora investia tudo em imóveis, escolas, universidades e negócios variados com o governo.
Mas uma investigação da policia federal chegou até ele. Seu império desabou. Seu nome caiu na imprensa e seus clientes do governo se afastaram.
A sociedade naquele tempo pedia fim da corrupção. Os políticos se safaram, mas para isso colocaram a culpa no corruptor Carlos.
Gastou uma fortuna com advogados, e no fim não adiantou, foi condenado a cinco anos de prisão.
A devassa da polícia constatou que seus bens valiam menos do ele devia de imposto de renda.
Então aos 35 anos, Carlos estava novamente pobre e condenado à prisão.
Seria agora muito difícil se levantar. E para piorar Carlos não estava com ninguém, suas namoradas interesseiras desapareceram.
Os amigos também. A faculdade que fora vendida continuou empregando Dudu.
Aquilo o deixou feliz. Por mais que seus amigos estivessem distantes, ele Carlos nunca deixou de gostar deles.
Carlos era um homem com ambição. Aquela temporada da prisão só iria dar um novo curso a sua vida, mas não tiraria a sua vontade de fazer, realizar e crescer.
AOS 40 ANOS:
Depois de três anos preso, Carlos consegue a liberdade. Continuou a viver no Rio. Procurou emprego como corretor de imóveis, mas só conseguiu numa imobiliária do subúrbio. Acabou demitido um mês depois.
Pensou em virar taxista. Mudar o nome. Entrou em contato com várias agencias de publicidade. Tentou convencer de que ainda era um ótimo redator. Ninguém o recebeu.
Procurou sua ex-noiva, agora divorciada, Catarina. Ela disse não o conhecer e também não o recebeu.
Arrumou outra imobiliária na zona Norte do Rio e se mudou para uma quitinete. Um dia bebendo num bar da zona Norte ficou bêbado, e contou toda sua história para um senhor aposentado.
O velho perguntou, por que ele não escrevia um livro contando sua vida? Daria até um filme.
É isso! Carlos pensou. Com isso vou me reerguer. Entrou em contato com vários jornalistas e escritores. Mas nenhum se interessou. Mas pra que chamar um escritor? Afinal eu sei escrever.
Foi ele mesmo para frente de um velho micro e começou a digitar. Passou praticamente três semanas escrevendo o livro.
Mandou o material para algumas editoras. Todos amaram a história. Pegou a melhor oferta.
Pouco antes do lançamento foi ao programa da Jô. A entrevista foi um sucesso. A noite de autógrafos tanto em São Paulo como no Rio, foi um evento de enorme proporção.
Carlos se viu sem agenda para tantas entrevistas e programas. Os jornalistas não saiam mais da sua quitinete. Até que tiveram a ideia de fazer um programa na TV, com ele como apresentador.
O programa foi um sucesso. Em um ano Carlos era de novo um homem rico e respeitado. Mas diferente do jovem deslumbrado, era um cara de 40 anos calejado.
Pensou em reabrir a sua agencia Bollívia. Mas desistiu. Começou um regime. Era uma nova fase na sua vida. Uma virada.
Quem disse que não podemos nos reerguer e fazer tudo de novo?
Com a diferença que agora era tudo dentro da lei. Carlos descobriu aos 40 anos, que a maior malandragem que existe é ser honesto.
Deu uma enorme festa de quarenta anos no Rio. E convidou todos os seus amigos do colégio, Álvaro, Dudu e Rodriguinho. No dia seguinte foram os quatro para praia.
Vinte anos se passaram, mas é como se eles ainda fossem os mesmos. Prontos para recomeçar tudo de novo. Ou mesmo começar.
Afinal tudo, o mundo, a alegria e a vida começam aos 40.
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