DUDU AS 20 ANOS:
Dudu aos vinte já andava de terno pra cima e pra baixo. Estudava direito de manhã e a tarde ele era estagiário num escritório de direito trabalhista.
Tentava sempre pegar uma colega de trabalho, mas a menina era noiva. Dava conversa, mas não cedia.
Dudu adorava encher a cara. Uísque de preferência. Por ele trabalhar e estudar o pai ainda lhe dava um bom dinheiro. Mesada. Achava o filho esforçado. Com este dinheiro ele frequentava os inferninhos. Os cabarets e os puteiros. Naquele tempo a prostituição ainda não havia chegado à internet.
Dudu era um inseguro. Não era feio, porque também aos vinte anos quase todos são bonitos. Mas o seu tipo de conversa era muito maduro e sofisticado para garotas de 20 anos. E sua conta bancária ainda não lhe permitia extravagâncias com mulheres também sofisticadas.
Na verdade permitia, mas era tão inseguro. E com as prostitutas tudo era uma festa. Dudu foi muito feliz aos 20 anos.
AOS 25 ANOS:
Dudu aos vinte cinco anos se tornou um adulto. Já é um homem, um advogado. Seus gestos, conversa em nada lembram um jovem atual. Ele era um ser clássico nesta época. Como um Argentino nos anos 50.
Um dia, digo uma noite, entrou num Cabaret e viu uma linda dançarina. Ficou fascinado por aquele corpo.
E para sua sorte aquele corpo o entendia. O admirava. Ele decidiu que tiraria a moça daquela vida. Não. Decididamente ele não estava apaixonado. Mas a levou passar um feriado no Rio.
A moça engravidou. Sim era uma garota de programa. Mas e daí? Não estamos mais nos anos 50. Casaram-se. Digo juntaram-se, igreja também era demais. Foram para um pequeno apartamento. Um lar. Uma família.
Afastou-se dos amigos. Porque os amigos recusaram-se a apoiá-lo.
Mas a relação durou pouco. A garota voltou para seu destino. O juiz com razão deu a guarda para Dudu.
Então Dudu aos 25 era um pai solteiro. Um pai de um lindo menino. E vamos à luta.
Os avós ajudaram a pagar uma babá, às vezes a creche também era necessária.
Nessa época Dudu começou a fazer muito sucesso entre as mulheres. Um advogado jovem e pai solteiro? Abandonado. Que mulher resiste? Nenhuma.
AOS 30 ANOS:
Pedrinho foi crescendo. E Dudu trabalhando. Um dia o escritório dele se fundiu com um escritório gigante. O endereço mudou. Saíram do centro e foram para a Avenida Paulista.
Lá ele conheceu Marta. Uma advogada divorciada de cinquenta anos e um filho e uma filha na faculdade. Juntaram-se numa grande família. Foi tudo muito divertido. Pedrinho adorou ter uma mãe. Uma não duas. Pois sua irmã torta Raquel o tratava como filho. Fazia tudo por ele. Lhe comprava presentes, levava passear, as amigas dela também. O irmão torto, Rafael jogava futebol com ele. Viam os jogos juntos.
Dudu estava feliz porque Pedrinho estava feliz. Mas um ano depois. Ao acordar e olhar para Marta, pensou: “Eu ainda sou tão jovem”. Fez as malas.
Pegou Pedrinho, levou-o para casa da avó. E começou a sair em todas as baladas. É como se tentasse recuperar um tempo perdido.
Queria meninas novinhas, gemidos novinhos. Chegou a ligar para Raquel, filha da Marta. Saiu com a Raquel e com a Joana amiga da Raquel.
Voltou a frequentar os inferninhos. Os cabarets, os puteiros. E aprendeu tudo de sites de acompanhantes. Pegava até as babás do Pedrinho.
A promiscuidade estava de volta. Era novamente o eterno sair e voltar para a vida adulta. Dudu no caso estava querendo voltar a ser um garotão. Comprou um skate e foi para o parque do Ibirapuera.
AOS 35 ANOS:
Dudu nessas de skate e vídeo game conhece Vanessa. Uma menina que trabalha eventos. A garota não tinha nada de especial a não ser quinze anos a menos do que ele.
No começo não percebeu, mas a garota gastava muito. E como ela era jovem, cabia a Dudu proporcionar tudo. Isso fez com que ele gastasse muito do salário dele. As vezes gastava mais do que o salário.
E então veio a noticia, o demitiram do escritório de advocacia. Claro que para todos ele dizia que havia saído por vontade própria. Até mesmo para a Vanessa ele contava essa história. Mas ser demitido é como perder um parente, deixa qualquer um arrasado.
A menina não diminui os gastos. Manteve a rotina, como se nada houvesse acontecido. Dudu passou a pedir ajuda aos pais para pagar o colégio de Pedrinho.
Vanessa desapareceu por vontade dela mesma. Dudu nem se importou, estava tão preocupado com o que iria fazer agora, que mal dava tempo de ir andar de skate e paquerar garotinhas.
Novamente ele tornou-se o homem clássico de antes. E de tanto falar que ira abrir um negócio próprio, ele mesmo passou a acreditar nisso.
Mas abrir o que? Ele não tinha a natureza de um empreendedor. Uma franquia?
De tanto mandar currículo, veio uma proposta de uma faculdade para ele dar aula. Aceitou claro.
Ficou maravilhado com a faculdade de direito. Ele nunca ouvira falar na instituição. Era nova, nasceu deste boom econômico dos últimos anos do Brasil. Um dos donos era o seu antigo amigo Carlos.
Dudu estava solteiro e com 35 anos. Ficou maravilhado com tantas alunas que admiravam tanto o seu professor. Saiu com meia dúzia delas. O que só aumentou o seu carisma e confiança. No final de um ano ele era o novo diretor da jovem faculdade.
AOS 40 ANOS:
Pedrinho já completara 15 anos. O garoto começou a namorar uma menina da escola. Joana. A menina queria ser cheff de cozinha. Os dois passavam a tardes testando receitas na cozinha.
Uma sexta à noite, Pedrinho chegou bêbado. Dudu sabia que mais dia menos dia, o menino teria seu primeiro porre. Mas o que aconteceu é que Pedrinho tomou corajem para falar. Ele queria conhecer sua mãe.
As lágrimas eram tantas, que comoveram Dudu. Ele então entrou em contato com a ex-sogra e soube do endereço da mãe de Pedrinho.
A mulher que agora beirava os 40 morava na perifeira e estava no seu terceiro ou quarto casamento com um zelador de condomínio. Marcaram uma visita.
Ela os recebeu e Pedrinho conheceu seus outros irmãos menores. A mulher não quis manter o contato.
Aquela visita deixara Pedrinho mal. Talvez tivesse sido melhor nem ter conhecido a sua mãe. E a partir daquele momento, pai e filho se uniram ainda mais. Eles não se largavam, iam a todos os lugares juntos.
Resolveram fazer uma viagem pela Europa juntos. E lá se foram. Pedrinho revelou que queria estudar Direito. E disse que assim que formado teria um escritório junto com pai. Aquilo deixou Dudu muito orgulhoso. Seriam sócios.
Mas durante a viagem o garoto se mostrava tão entusiasmado com gastronomia. Voltaram para o Brasil e começaram pai e filho um blog de crítica gastronômica. Saiam umas duas vezes por semana.
Se entendiam perfeitamente. Dudu estava feliz. Já tinha passado por muita coisa na vida. E entrou aos quarenta, leve e sossegado. Se julgava um afortunado por ter um filho tão bacana. Quem é que tem um filho como o meu? Ele se perguntava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário