Antes de conhecer o Teatro do Satyros
localizado na Praça Roosevelt eu conheci o
N.Ex.T. , um tetro próximo dali na Rua Rego
Freitas. Na época o N.Ex.T. tinha outra proposta. Lá acontecia o Terça Insana,
quando este espetáculo ainda era um tanto quanto off.
Mas no
fim tanto o Satyros quanto o N.Ex.T. têm mais ou menos a mesma configuração. Um
bar na frente e um pequeno auditório nos fundos.
A
minha memória mais antiga da Praça Roosevelt foi quando meus pais me levaram
num antigo cine clube que ficava onde hoje é o Teatro do Ator. Assistimos ao “Carteiro
e o Poeta”. Acho que eram os anos 80. Lembro que gostei muito lugar.
Meu
pai sempre foi um pioneiro e garimpeiro cultural. Ele frequentava o Teatro de
Arena nos anos 60, também ali perto. Outro dia descobriu um novo cine clube,
acho que se chama “Matilha”, ali mesmo na Rego Freitas, galeria de arte na
frente e cinema aos fundos.
Mas
voltando. Há uma década, o Satyros aportava na Praça Roosevelt. O lugar tem
prédios que me lembram os de Buenos Aires.
No
começo ficávamos bebendo nos Satyros e depois também nos Parlapatões. Antes e
após as apresentações de teatro.
Eu
achava a rua que separa os teatros e bares da Praça propriamente dita, uma
fronteira do mundo encantado. De um lado a ficção da dramaturgia, feita com a
luz do palco e os atores, do outro aquele lugar sinistro, com árvores antigas,
construções que lembravam ruínas futuristas, nunca tínhamos a visão do todo da
praça, pois a praça ficava elevada em relação aos teatros e bares.
Terça
feira passada fui à praça. Ver de perto a famosa e esperada revitalização. Não
amei. Me lembrou vagamente o concreto do Memorial da América Latina.
O
lugar agora tem a mesma intensidade de luz à noite quanto de dia. Claro que
para uma metrópole que sofre com o pesadelo da violência e das precárias
condições dos aparelhos urbanos, a população sai ganhando.
O
lugar estava lotado, pela primeira vez vi mais gente na praça do que nos bares.
Acontece que para mim, que era um frequentador
que ia uma vez a cada duas semanas, quando não estava eu mesmo em cartaz, o
pesadelo sumiu, mas sumiu também parte de um sonho.
Aquele
lugar sombrio, sinistro, fantástico, um bosque mágico e perigoso no centro de
São Paulo, deu lugar a um horizonte que me lembra as orlas de Santos, Recife,
Caraguatatuba... Só não há o mar no final.
E com
isso tenho a certeza que aquele lugar nunca foi o que foi, por conta só da
arquitetura e do urbanismo.
Aquela
praça é o que é por conta das pessoas. Por conta do acaso de juntar uma rua com
prédios Portenhos, teatros alternativos, como o La Mama de NY, que não tem o
mesmo charme do Satyros. Com o circo dos Parlapatões, com as atrizes gatinhas
andando lado a lado com as garotas de programa bonitinhas.
Com
pessoas de todo o Brasil, com influencia, de arquitetos como Rino Levi,
Niemeyer e Artacho Jurado.
Eu
queria que algum Paulistano parecido em alma, como o Nova Yourquino Wil Eisner,
autor da Avenida Dropsie, contasse todas as décadas da Praça da Roosevelt. Seus
movimentos, sua arquitetura, e principalmente os personagens. Sonhadores,
boêmios, prostitutas, viciados, poetas, descolados, moderninhos, políticos,
curadores, dramaturgos, roqueiros, sambistas e belas moças.
Que
venha uma nova década, que venham outros jovens. Quero que daqui uns vinte, ou trinta
anos, eu volte a Praça Roosevelt e veja jovens curtindo a noite, sem pressa de
ir para casa, para ter acordar cedo no dia seguinte.
Vou
lembrar das minhas noitadas. Lembrar do encantamento. E imaginar que na praça
existam seres mágicos e segredos escondidos. Mesmo porque as mudas plantadas
hoje serão árvores fortes, enormes e cheias de histórias para contar neste dia.
Quem
sabe neste dia, um texto meu, seja montado por um grupo destes jovens.
E que
depois da apresentação, iremos ao Planeta`s jantar, na Rua Augusta e voltaremos
para Praça, para beber. Beber até o sol nascer. Viva!
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