Arnaldo
quase não acreditou quando viu o nome do Napinha como agora vice-presidente.
Ele,
Arnaldo havia feito não uma, mas duas grandes faculdades. Direito na São
Francisco e Administração na Getúlio Vargas, e agora Napinha era o
Vice-presidente. Arnaldo vestia a camisa da empresa de telefonia.
Ele
conhecia Napinha por que tinham amigos em comum. Napinha era o tipo de cara que
passava despercebido, feio, mal vestido, sem carisma, sem estilo e sem charme. Então
como ele Arnaldo que malhava todos os dias, tinha uma mulher linda,
carismático, culto, criativo continuava um gerente?
E o
pior, logo depois da promoção de Napinha eles se encontraram na sede da empresa
e Napinha mal o cumprimentou. Deu um oi, assim, meio de lado.
No
outro dia foi para o Rio. Estava num almoço de negócios onde todos falavam de Napinha,
ou melhor dizendo, de Aramando Guimarães que tão jovem havia se tornado
Vice-presidente.
Foi
então que Arnaldo começou a olhar para a mata atlântica numa das janelas do
restaurante do Jardim Botânico. Ouviu um samba, ou talvez uma bossa nova e
relaxou. Pensou: “Quer saber vou ficar aqui no Rio e não vou voltar hoje pra
São Paulo. Eu vou é na Lapa. “
Seguiu
para um hotel, fez o check-in e foi caminhar na praia. “O Napinha!” Ele
pensava.
O
Napinha nunca havia feito uma piada. Não tinha ideologia política, nem hobbies,
nem paixões. Uma vez falaram que ele era chegado numa garota de programa, mas
quem não é? Bom o Paulo do Marketing não era, mas o Paulo era gay.
Bem
da verdade Arnaldo gostava muito do seu emprego. Para sua ambição seu cargo era
o que ele sonhara. Amava a esposa, tinha um bom apartamento, seguro saúde,
sócio de um clube, carro novo, viajava para o exterior... O que ele não
conseguia engolir era o Napinha ser Vice-presidente. Ou seja o que o deixava
louco era a empresa reconhecer alguém que ele acreditava ser pior e menos
qualificado do que ele.
Quando deu por si estava bêbado e na Lapa conversando
com uma cantora de Ribeirão Preto.
“Mas
em Ribeirão tem samba?”
“E
porque você acha que eu estou aqui na lapa?”
A
moça, Raquel havia a pouco se separado de um economista. Ele não entendia o meu
estilo de vida.
Não
demorou muito para Arnaldo trazer o assunto Napinha. Raquel não parecia muito
interessada na empresa de telefonia.
“Você
tem algum contato de alguém que recebem editais de cultura, lá?”
Mas
ele insistia no Napinha. Determinada hora da noite, ele cantou um samba pra
ela.
“Lindo!
De quem é?”
“É
meu...”
Isto
foi há mais ou menos dez anos. Raquel e Arnaldo não estão mais juntos, ficaram
só alguns meses. Suficiente para ele conhecer a rapaziada do Samba.
Um
dia uma grande empresa patrocinou um show da sua escola de samba. As músicas
eram dele, Arnaldo. O presidente da empresa depois veio falar com ele.
Era
um cara bem alegre e falante. O presidente abraçou Arnaldo e o beijou várias
vezes.
“Não
está me reconhecendo Arnaldo? Napinha! Não lembra? Só porque ficou um bamba do
samba não lembra mais dos amigos!”
Arnaldo deu um grande abraço em Napinha. E os
dois beberam até o sol nascer.
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