segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O bamba.

  Arnaldo quase não acreditou quando viu o nome do Napinha como agora vice-presidente.
 Ele, Arnaldo havia feito não uma, mas duas grandes faculdades. Direito na São Francisco e Administração na Getúlio Vargas, e agora Napinha era o Vice-presidente. Arnaldo vestia a camisa da empresa de telefonia.
 Ele conhecia Napinha por que tinham amigos em comum. Napinha era o tipo de cara que passava despercebido, feio, mal vestido, sem carisma, sem estilo e sem charme. Então como ele Arnaldo que malhava todos os dias, tinha uma mulher linda, carismático, culto, criativo continuava um gerente?
 E o pior, logo depois da promoção de Napinha eles se encontraram na sede da empresa e Napinha mal o cumprimentou. Deu um oi, assim, meio de lado.
 No outro dia foi para o Rio. Estava num almoço de negócios onde todos falavam de Napinha, ou melhor dizendo, de Aramando Guimarães que tão jovem havia se tornado Vice-presidente.
 Foi então que Arnaldo começou a olhar para a mata atlântica numa das janelas do restaurante do Jardim Botânico. Ouviu um samba, ou talvez uma bossa nova e relaxou. Pensou: “Quer saber vou ficar aqui no Rio e não vou voltar hoje pra São Paulo. Eu vou é na Lapa. “
 Seguiu para um hotel, fez o check-in e foi caminhar na praia. “O Napinha!” Ele pensava.
 O Napinha nunca havia feito uma piada. Não tinha ideologia política, nem hobbies, nem paixões. Uma vez falaram que ele era chegado numa garota de programa, mas quem não é? Bom o Paulo do Marketing não era, mas o Paulo era gay.
  Bem da verdade Arnaldo gostava muito do seu emprego. Para sua ambição seu cargo era o que ele sonhara. Amava a esposa, tinha um bom apartamento, seguro saúde, sócio de um clube, carro novo, viajava para o exterior... O que ele não conseguia engolir era o Napinha ser Vice-presidente. Ou seja o que o deixava louco era a empresa reconhecer alguém que ele acreditava ser pior e menos qualificado do que ele.
 Quando deu por si estava bêbado e na Lapa conversando com uma cantora de Ribeirão Preto.
 “Mas em Ribeirão tem samba?”
 “E porque você acha que eu estou aqui na lapa?”
  A moça, Raquel havia a pouco se separado de um economista. Ele não entendia o meu estilo de vida.
 Não demorou muito para Arnaldo trazer o assunto Napinha. Raquel não parecia muito interessada na empresa de telefonia.
 “Você tem algum contato de alguém que recebem editais de cultura, lá?”
 Mas ele insistia no Napinha. Determinada hora da noite, ele cantou um samba pra ela.
 “Lindo! De quem é?”
 “É meu...”
 Isto foi há mais ou menos dez anos. Raquel e Arnaldo não estão mais juntos, ficaram só alguns meses. Suficiente para ele conhecer a rapaziada do Samba.
 Um dia uma grande empresa patrocinou um show da sua escola de samba. As músicas eram dele, Arnaldo. O presidente da empresa depois veio falar com ele.
 Era um cara bem alegre e falante. O presidente abraçou Arnaldo e o beijou várias vezes.
 “Não está me reconhecendo Arnaldo? Napinha! Não lembra? Só porque ficou um bamba do samba não lembra mais dos amigos!”
 Arnaldo deu um grande abraço em Napinha. E os dois beberam até o sol nascer.  

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