Fui ao
MIS durante o carnaval. Ver a obra do artista chinês Ai Wei Wei. Um sujeito mal
encarado, que lembra um artista beatnick. Achei divertido, ter de escolher, ou
tirar os sapatos, ou ficar de meias, ou colocar uma proteção nos pisantes. Que
nem fazem em restaurantes japoneses e no museu Imperial de Petrópolis.
Confesso
que não entendi se o, acho que é fotógrafo, é aclamado pela sua rebeldia ao
regime atual chinês, ou se realmente não há exagero no seu talento.
Bem o
fato é que estava eu lá no museu da imagem do som, em São Paulo vendo o planeta
China finalmente chegar. Que emoção.
Mas
logo comecei achar o Wei Wei tão parecido com os americanos. Com um americano.
Afinal o que é um americano? Norte americano.
A
mulher devia ter uns 57. E foi mesmo 57 que ela disse que tinha. Era gaúcha,
com orgulho descedente de alemães. Os cabelos lembram a Maítena. O menino tinha
3 anos e não era descendente de alemães.
De
repente ouço uma discussão. Um sujeito de papete, baixo, gordinho, com cara de francês,
mas sem sotaque algum dizia a três seguranças negros bem altos que não iria
tirar a sua vestimenta:
“Vocês
não podem interferir na minha vestimenta!”
Logo
chega uma menina moça, funcionária da exposição. Eu não ouvia o que ela dizia
ao homem. Acho que ela era mestiça, não de índios, mas provavelmente alguma
etnia do norte da Ásia. Já ele:
“Se você
concordar em tirar sua blusa, eu fico descalço!”
Nesta
hora até fiquei empolgado. Será? Que eu vou ver os seios da moça? Afinal estava
calor, tanto para ficar descalço, como para uma exposição nudista.
Me deu
inveja, da mulher gaúcha de 57 anos. Agora ela tinha aquele menino lindo de
três anos. Fiquei com vontade também de adotar um menino negro. Que dupla.
Ainda bem que se acharam.
Certa
vez li uma citação que deram créditos ao Mário de Andrade:
“Ao
contrário do que imagina Freud, eu e minha mãe apenas somos bons amigos”.
Havia também
outro menino no almoço. Loirinho, mãe e pai também branquinhos. A festa inteira
estava seduzida pelo loirinho. Um loirinho cheio de vida, com longos cabelos que
filhos de pais alternativos usam. Uma risada contagiante.
O
outro, o filho da Maítena não ria muito. Ao contrário do “anjinho”, ficava na
dele. Tinha algo no olhar. Como se entendesse toda dor de Lima Barreto. Será? O
que uma criança pode entender? Pode sentir? Não seria tudo imaginação minha?
Passamos a vida toda aprendendo a não ser mais
criança a crescer.
E de
que adianta? Se todos somos prisioneiros da repressão. Seja ela chinesa ou não.
Ouço
um pastor dizer na televisão que ninguém gostaria de ter um filho gay. Ele não
me conhece. Ele não conhece a mulher gaúcha com cabelos de Maítena e o filho
Luis Fernando.
Ele
não conhece o Wei Wei. E principalmente ele não conhece Jesus.
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