quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

China Hotel.


 Fui ao MIS durante o carnaval. Ver a obra do artista chinês Ai Wei Wei. Um sujeito mal encarado, que lembra um artista beatnick. Achei divertido, ter de escolher, ou tirar os sapatos, ou ficar de meias, ou colocar uma proteção nos pisantes. Que nem fazem em restaurantes japoneses e no museu Imperial de Petrópolis.
 Confesso que não entendi se o, acho que é fotógrafo, é aclamado pela sua rebeldia ao regime atual chinês, ou se realmente não há exagero no seu talento.
 Bem o fato é que estava eu lá no museu da imagem do som, em São Paulo vendo o planeta China finalmente chegar. Que emoção.
 Mas logo comecei achar o Wei Wei tão parecido com os americanos. Com um americano. Afinal o que é um americano? Norte americano.
 A mulher devia ter uns 57. E foi mesmo 57 que ela disse que tinha. Era gaúcha, com orgulho descedente de alemães. Os cabelos lembram a Maítena. O menino tinha 3 anos e não era descendente de alemães.
 De repente ouço uma discussão. Um sujeito de papete, baixo, gordinho, com cara de francês, mas sem sotaque algum dizia a três seguranças negros bem altos que não iria tirar a sua vestimenta:
 “Vocês não podem interferir na minha vestimenta!”
 Logo chega uma menina moça, funcionária da exposição. Eu não ouvia o que ela dizia ao homem. Acho que ela era mestiça, não de índios, mas provavelmente alguma etnia do norte da Ásia. Já ele:
 “Se você concordar em tirar sua blusa, eu fico descalço!”
 Nesta hora até fiquei empolgado. Será? Que eu vou ver os seios da moça? Afinal estava calor, tanto para ficar descalço, como para uma exposição nudista.
 Me deu inveja, da mulher gaúcha de 57 anos. Agora ela tinha aquele menino lindo de três anos. Fiquei com vontade também de adotar um menino negro. Que dupla. Ainda bem que se acharam.
 Certa vez li uma citação que deram créditos ao Mário de Andrade:
 “Ao contrário do que imagina Freud, eu e minha mãe apenas somos bons amigos”.  
 Havia também outro menino no almoço. Loirinho, mãe e pai também branquinhos. A festa inteira estava seduzida pelo loirinho. Um loirinho cheio de vida, com longos cabelos que filhos de pais alternativos usam. Uma risada contagiante.
 O outro, o filho da Maítena não ria muito. Ao contrário do “anjinho”, ficava na dele. Tinha algo no olhar. Como se entendesse toda dor de Lima Barreto. Será? O que uma criança pode entender? Pode sentir? Não seria tudo imaginação minha?
 Passamos a vida toda aprendendo a não ser mais criança a crescer.
 E de que adianta? Se todos somos prisioneiros da repressão. Seja ela chinesa ou não.
 Ouço um pastor dizer na televisão que ninguém gostaria de ter um filho gay. Ele não me conhece. Ele não conhece a mulher gaúcha com cabelos de Maítena e o filho Luis Fernando.
 Ele não conhece o Wei Wei. E principalmente ele não conhece Jesus.



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