quinta-feira, 27 de junho de 2013

Diário de Nova York 2

 Artistas ricos.  
 “Narciso acha feio o que não é espelho”.      
 Acho que a frase é do Caetano Veloso. Ela para mim significa muito. Talvez pela incapacidade que eu tenho em reconhecer que existem lugares que podem superar em beleza a minha cidade, a minha casa.
 Já o meu irmão que mora em Nova York, e é nascido em São Paulo, não sofre deste mal.
 Pra mim, poucas sensações são tão gostosas quanto à de pousar no aeroporto de Guarulhos. Mesmo que eu nunca tenha visitado Guarulhos.
 O mundo não é feito de países. Ele é feito de cidades e de bairros e de ruas. E claro, de prédios e casas. O tal de arquitetura e urbanismo.
 Eu não posso dizer que amo São Paulo. O que eu gosto muito, é do alternativo da Vila Madalena, dos prédios de Higienópolis, da riqueza da Vila Nova Conceição, da modernidade do Itaim, da sofisticação dos Jardins, da inovação do Baixo Augusta das pessoas da Praça Roosevelt, da calma da Granja Viana, do oriente da Liberdade, do inesperado da Vila Mariana, da Imponência do Morumbi, da casa da sogra no Bonfa (Butantã), do Sesc da Pompéia, de me perder na Lapa, de viajar no Ibirapuera, do céu da  Avenida Paulista e da Praça Buenos Aires. Buenos Aires. Até do nome da Praça eu gosto. Do futurismo da Berrini. E dos bares da Zona Norte, da Zona Leste, dos lagos da Zona Sul, dos nordestinos no centro quatrocentão.  
 Acho também que os lugares têm épocas. Com certeza Nova York foi na primeira metade do século vinte, um lugar extraordinário e teve seu reconhecimento como capital mundial na década de 70. Mas o auge, de novo em minha opinião, o auge foram seus prédios residenciais do final dos anos vinte.
 Os que eu mais admiro e perco a respiração são os de duas torres da Park West. San Remo, Magestic, Bedford, El Dorado e talvez até o Dakota. Este último onde morou John Lennon.
 Se eu fosse filmar uma cena, ou colocar num livro um cenário que definisse Nova York, eu colocaria não um prédio comercial como Empire State ou o Chrysler, mas sim os de duas torres.
 Por mais bonito que possam ser os Arranha Céus refletidos nos rios com suas enormes pontes suspensas, eu ainda fico com os residências da West Park ou Park West.
 Os que conhecem bem a cidade vão me chamar de elitista, já que estes apartamentos, fiquemos só no San Remo, onde viveu e morreu Rita Hayworth. Onde morou Marilyn Monroe, pode chegar a custar 23 milhões de dólares. Mesmo a pessoa tendo a quantia, ainda tem de passar pelo crivo do condomínio. Um bilionário russo, por exemplo, outro dia não passou.
 No San Remo, que Steves Jobs depois de chamar o arquiteto I. M. Pei (Pirâmide do Louvre) para reformar um apartamento, o vendeu para o Bono Vox, da banda U2. O irlandês é vizinho de Paul Simon, de Dustin Hoffman, Steven Spielberg, Steven Martim. E por aí vai. A lista é bem grande.
 Este prédio de linhas fascistas de fazer inveja no Duce, já teve Madona e Sean Pean, candidatos a moradores, recusados.
 Enfim, não precisei saber que tantas celebridades o admiravam, antes de ficar fascinado. E nem sabia que eram tão espetacularmente caros os apartamentos. Como sou ingênuo.
 Mas você quer o que leitor? Isto aqui é Nova York. A maior concentração de Bilionários do Planeta.
 Eu seria muito feliz no Village ou no Brooklyn. Mesmo porque eu gosto de olha-los (os prédios) e não necessariamente de morar neles.
 Parafraseando outro Bilionário: O Paulo Coelho.
 Acho que eu sou como aquele lago, que podia ver o próprio reflexo nos olhos de Narciso. Ou seja, sou só um brasileiro deslumbrado com uma obra prima, que não é europeia, mas nem tão pouco americana. É nova yorquina. Um brasileiro paulistano comum, e não um bilionário russo, nem uma estrela mundial pop.
 Mas com algo em comum com eles. Hoje estamos no mesmo barco, nenhum de nós pode viver lá.
 Podemos vir ao parque, sentar num banco, como estou neste exato momento, olhar pra ele, e escrever esta crônica.
 E ele, o San Remo, num sorriso, parece que ainda o escuto a murmurar como há vinte anos, quando nos conhecemos pela primeira vez:
 “Faria Lima, Praça Buenos Aires, sei... Ei cara saia da minha frente e me deixe ver o Parque”.
 Será que Will Eisner (Avenida Dropsie), concordaria comigo?
 . 

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