Artistas ricos.
“Narciso acha feio o que não é espelho”.
Acho
que a frase é do Caetano Veloso. Ela para mim significa muito. Talvez pela
incapacidade que eu tenho em reconhecer que existem lugares que podem superar
em beleza a minha cidade, a minha casa.
Já o
meu irmão que mora em Nova York, e é nascido em São Paulo, não sofre deste mal.
Pra
mim, poucas sensações são tão gostosas quanto à de pousar no aeroporto de
Guarulhos. Mesmo que eu nunca tenha visitado Guarulhos.
O mundo
não é feito de países. Ele é feito de cidades e de bairros e de ruas. E claro, de
prédios e casas. O tal de arquitetura e urbanismo.
Eu não
posso dizer que amo São Paulo. O que eu gosto muito, é do alternativo da Vila
Madalena, dos prédios de Higienópolis, da riqueza da Vila Nova Conceição, da
modernidade do Itaim, da sofisticação dos Jardins, da inovação do Baixo Augusta
das pessoas da Praça Roosevelt, da calma da Granja Viana, do oriente da
Liberdade, do inesperado da Vila Mariana, da Imponência do Morumbi, da casa da
sogra no Bonfa (Butantã), do Sesc da Pompéia, de me perder na Lapa, de viajar
no Ibirapuera, do céu da Avenida
Paulista e da Praça Buenos Aires. Buenos Aires. Até do nome da Praça eu gosto.
Do futurismo da Berrini. E dos bares da Zona Norte, da Zona Leste, dos lagos da
Zona Sul, dos nordestinos no centro quatrocentão.
Acho
também que os lugares têm épocas. Com certeza Nova York foi na primeira metade
do século vinte, um lugar extraordinário e teve seu reconhecimento como capital
mundial na década de 70. Mas o auge, de novo em minha opinião, o auge foram
seus prédios residenciais do final dos anos vinte.
Os que
eu mais admiro e perco a respiração são os de duas torres da Park West. San
Remo, Magestic, Bedford, El Dorado e talvez até o Dakota. Este último onde
morou John Lennon.
Se eu
fosse filmar uma cena, ou colocar num livro um cenário que definisse Nova York,
eu colocaria não um prédio comercial como Empire State ou o Chrysler, mas sim
os de duas torres.
Por
mais bonito que possam ser os Arranha Céus refletidos nos rios com suas enormes
pontes suspensas, eu ainda fico com os residências da West Park ou Park West.
Os que
conhecem bem a cidade vão me chamar de elitista, já que estes apartamentos,
fiquemos só no San Remo, onde viveu e morreu Rita Hayworth. Onde morou Marilyn
Monroe, pode chegar a custar 23 milhões de dólares. Mesmo a pessoa tendo a
quantia, ainda tem de passar pelo crivo do condomínio. Um bilionário russo, por
exemplo, outro dia não passou.
No San
Remo, que Steves Jobs depois de chamar o arquiteto I. M. Pei (Pirâmide do
Louvre) para reformar um apartamento, o vendeu para o Bono Vox, da banda U2. O
irlandês é vizinho de Paul Simon, de Dustin Hoffman, Steven Spielberg, Steven
Martim. E por aí vai. A lista é bem grande.
Este
prédio de linhas fascistas de fazer inveja no Duce, já teve Madona e Sean Pean,
candidatos a moradores, recusados.
Enfim,
não precisei saber que tantas celebridades o admiravam, antes de ficar
fascinado. E nem sabia que eram tão espetacularmente caros os apartamentos. Como
sou ingênuo.
Mas
você quer o que leitor? Isto aqui é Nova York. A maior concentração de
Bilionários do Planeta.
Eu
seria muito feliz no Village ou no Brooklyn. Mesmo porque eu gosto de olha-los
(os prédios) e não necessariamente de morar neles.
Parafraseando
outro Bilionário: O Paulo Coelho.
Acho
que eu sou como aquele lago, que podia ver o próprio reflexo nos olhos de
Narciso. Ou seja, sou só um brasileiro deslumbrado com uma obra prima, que não
é europeia, mas nem tão pouco americana. É nova yorquina. Um brasileiro
paulistano comum, e não um bilionário russo, nem uma estrela mundial pop.
Mas
com algo em comum com eles. Hoje estamos no mesmo barco, nenhum de nós pode
viver lá.
Podemos vir ao parque, sentar num banco, como
estou neste exato momento, olhar pra ele, e escrever esta crônica.
E ele,
o San Remo, num sorriso, parece que ainda o escuto a murmurar como há vinte
anos, quando nos conhecemos pela primeira vez:
“Faria
Lima, Praça Buenos Aires, sei... Ei cara saia da minha frente e me deixe ver o
Parque”.
Será
que Will Eisner (Avenida Dropsie), concordaria comigo?
.
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