A sereia
de Palermo.
Era um dia de céu completamente azul. Uma
primavera, nem quente nem fria. Ele comia numa peixaria que era restaurante japonês
no almoço. Balcões coletivos eram usados como mesa e os clientes se sentavam em
banquinhos.
Pelo
enorme vidro do lugar ele avistava o trampolim do outro lado da rua. Foi quando
ele a viu pela primeira vez. A sereia de Palermo usava um maiô verde e era uma
saltadora. Todas as outras meninas vestiam maiôs amarelos. Ele sentiu que seu
destino estava ligado ao dela.
“E o
resto?” Marcela me perguntou. Assim que leu este inicio de conto.
“Só
tenho isso por enquanto.” Eu disse. “Adoro
esta imagem para começar o filme.”
E era
verdade. Marcela deu de ombros. Garotas e piscinas, o cinema estava cheio de
garotas, praias, piscinas, lagos... E mistérios.
Sai da
casa de Marcela, uma amiga escritora, romancista, e fui para um encontro com um
investigador.
Era uma
delegacia na zona Norte de Buenos Aires. Afonso, o policial era primo de um
amigo. Eu tinha mencionado num bar que frequento, sempre com os mesmos amigos
de faculdade, minha intenção de conhecer alguém da policia. Uma forma de
pesquisa deste universo, no qual eu tinha interesse para escrever uma história
policial. Henrique ligou na mesma hora para o primo e marcou o encontro entre
nós.
Afonso
foi muito simpático. Era bem mais velho do eu imaginava que ele seria. Estava
investigando dois crimes. Num primeiro um homem de 40 anos morrera ajoelhado ao
lado de uma cama. Me mostrou a foto.
“A
teoria é que ele misturou remédios com bebidas.” Me disse o investigador
Afonso.
O outro
caso era um senhor com Alzheimer, que tinha caído de uma escada no quintal. Seu
filho tivera de sair e largara o senhor sozinho em casa. Que subira numa
escadinha no quintal cairá e batera a cabeça. Fora encontrado morto pelo
próprio filho.
Tudo
deveria ser investigado. Ambos os casos poderiam ter sido assassinatos. Ou não.
Aquela dúvida me fez sair de lá eufórico. Talvez os dois casos, as duas
vítimas, tenham sido mortas pelo mesmo assassino.
Talvez
aparecesse uma terceira vítima, que ainda não fora encontrada. Ou ainda um
quarto assassinato, quem sabe. Quarto? Eram tantas opções que eu nem sabia por
onde começar. Eu teria de ler os relatórios, ir aos locais dos crimes. Entrevistar
conhecidos das vítimas, enfim arrumar um motivo, tudo o que chamamos investigar.
No dia
seguinte. Ele foi até o clube militar. Chamou o técnico dos saltos ornamentais
e pediu para falar com a menina de maiô verde. Ela vestiu um roupão e sentaram
na lanchonete do clube.
Ele, o
detive Afonso mostrou as fotos das vítimas para ela, e perguntou se ela os
conhecia.
Ela
sabia sim quem eles eram. Mas não os conhecia. Eram dois dos três jurados do
seu ultimo campeonato, no qual ela ficara em segundo lugar. A terceira jurada
estava desaparecida.
Por
fim Afonso perguntou:
“Por
que você usa maiô verde, se todas as outras meninas usam maiôs amarelos?”
“Para
ser notada”. Respondeu a sereia.
Uma
semana depois, reencontrei a turma. Henrique não estava.
Cadê o
Henrique? eu perguntei.
“Foi
no velório daquele primo policia dele. O cara se afogou na banheira.” Me
contava Rubens enquanto enchia nossos copos de cerveja.
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