segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A sereia de Palermo.

A sereia de Palermo.

Era um dia de céu completamente azul. Uma primavera, nem quente nem fria. Ele comia numa peixaria que era restaurante japonês no almoço. Balcões coletivos eram usados como mesa e os clientes se sentavam em banquinhos.
 Pelo enorme vidro do lugar ele avistava o trampolim do outro lado da rua. Foi quando ele a viu pela primeira vez. A sereia de Palermo usava um maiô verde e era uma saltadora. Todas as outras meninas vestiam maiôs amarelos. Ele sentiu que seu destino estava ligado ao dela.
 “E o resto?” Marcela me perguntou. Assim que leu este inicio de conto.
 “Só tenho isso por enquanto.” Eu disse.  “Adoro esta imagem para começar o filme.”
 E era verdade. Marcela deu de ombros. Garotas e piscinas, o cinema estava cheio de garotas, praias, piscinas, lagos... E mistérios.
 Sai da casa de Marcela, uma amiga escritora, romancista, e fui para um encontro com um investigador.
 Era uma delegacia na zona Norte de Buenos Aires. Afonso, o policial era primo de um amigo. Eu tinha mencionado num bar que frequento, sempre com os mesmos amigos de faculdade, minha intenção de conhecer alguém da policia. Uma forma de pesquisa deste universo, no qual eu tinha interesse para escrever uma história policial. Henrique ligou na mesma hora para o primo e marcou o encontro entre nós.
 Afonso foi muito simpático. Era bem mais velho do eu imaginava que ele seria. Estava investigando dois crimes. Num primeiro um homem de 40 anos morrera ajoelhado ao lado de uma cama. Me mostrou a foto.
 “A teoria é que ele misturou remédios com bebidas.” Me disse o investigador Afonso.
 O outro caso era um senhor com Alzheimer, que tinha caído de uma escada no quintal. Seu filho tivera de sair e largara o senhor sozinho em casa. Que subira numa escadinha no quintal cairá e batera a cabeça. Fora encontrado morto pelo próprio filho.
 Tudo deveria ser investigado. Ambos os casos poderiam ter sido assassinatos. Ou não. Aquela dúvida me fez sair de lá eufórico. Talvez os dois casos, as duas vítimas, tenham sido mortas pelo mesmo assassino.
 Talvez aparecesse uma terceira vítima, que ainda não fora encontrada. Ou ainda um quarto assassinato, quem sabe. Quarto? Eram tantas opções que eu nem sabia por onde começar. Eu teria de ler os relatórios, ir aos locais dos crimes. Entrevistar conhecidos das vítimas, enfim arrumar um motivo, tudo o que chamamos investigar.  
 No dia seguinte. Ele foi até o clube militar. Chamou o técnico dos saltos ornamentais e pediu para falar com a menina de maiô verde. Ela vestiu um roupão e sentaram na lanchonete do clube.
 Ele, o detive Afonso mostrou as fotos das vítimas para ela, e perguntou se ela os conhecia.
 Ela sabia sim quem eles eram. Mas não os conhecia. Eram dois dos três jurados do seu ultimo campeonato, no qual ela ficara em segundo lugar. A terceira jurada estava desaparecida.
 Por fim Afonso perguntou:
 “Por que você usa maiô verde, se todas as outras meninas usam maiôs amarelos?”
 “Para ser notada”. Respondeu a sereia.
 Uma semana depois, reencontrei a turma. Henrique não estava.
 Cadê o Henrique? eu perguntei.
 “Foi no velório daquele primo policia dele. O cara se afogou na banheira.” Me contava Rubens enquanto enchia nossos copos de cerveja.




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