O Ivan
da Tia Marta.
Não me
lembro quando foi e nem quem me falou, a primeira vez, sobre o Ivan da tia Marta.
Acho
que foi a própria, quando nós sobrinhos a indagamos se ela não casara, e não
tivera nunca um namorado. A tia solteira
teria nos contado sobre o Ivan. Uma paixão sabe-se lá de quando, talvez ainda
dos anos 60, ou até antes.
O que
eu sabia era que o Ivan fora frentista num posto de gasolina, meu avô, pai da
Tia Marta, não permitiu o casamento. Ficando minha Tia Marta solteira até hoje.
Depois
Ivan tornou-se taxista, vindo a falecer há uns 15 ou 20 anos atrás.
Lembro
deste episódio e de um outro, que também faz parte da minha biografia não
autorizada. Fabi, uma amiga atriz, me chamara para participar de um espetáculo
infantil.
Meu
papel seria o de interpretar uma versão de Tarzan. Eu deveria ficar a peça toda
sem camisa, de tanguinha, coisa que não me agradou. Aliás, nada me agradava no
texto, inclusive o texto se chamar Peter Pan. O Tarzan era só um coadjuvante,
praticamente sem fala.
Resolvi ser então assistente de direção. E
arrumamos um rapaz bem mais sarado do que eu, na época, para fazer o rei das
selvas.
O
diretor, uma Tia velha, apaixonou-se pelo novo Tarzan. E passava os ensaios
todos repetindo baixinho para mim:
“A
vida deste rapaz daria um filme”.
Tempos
depois, aprendi que qualquer vida dá um filme. Inclusive a vida da Tia Marta e
do Ivan. Inclusive a sua leitor.
Conto
tudo isto, porque hoje encontrei num restaurante, o diretor do qual fui
assistente, há uns dez anos. Assim por acaso. Ele e Tarzan continuam casados. São
reais. E são felizes, estão montando um Nelson Rodrigues.
Já o
Ivan da minha Tia Marta, nunca terei certeza se ele realmente existiu. E não
sei por que, mas se eu fosse escrever a biografia da minha Tia Marta, o Ivan é
um dos fatos mais interessantes. Digo, o mais.
Talvez
o Ivan seja Vânia, mulher do Moacyr, que era frentista. Talvez minha tia tenha
só cruzado com este frentista, Ivan, e trocado poucas palavras. O resto seria
fantasia dela. Tantas possibilidades.
O fato
é que o Ivan acabou se tornando um tio. Um parente que eu nunca conheci. O Ivan
da Tia Marta.
E toda
vez que eu visito a Tia Marta, eu tenho esta vontade de saber mais sobre o
Ivan. E ela sempre me sai com respostas evasivas:
“Seu avô
não me deixou casar com ele”. “Virou taxista e depois morreu”.
“Mas tia!
Nem a cor do taxi a senhora pode contar? Eu quero detalhes tia.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário