domingo, 13 de outubro de 2013

O Ivan da Tia Marta.

  O Ivan da Tia Marta.
 Não me lembro quando foi e nem quem me falou, a primeira vez, sobre o Ivan da tia Marta.
 Acho que foi a própria, quando nós sobrinhos a indagamos se ela não casara, e não tivera nunca um namorado.  A tia solteira teria nos contado sobre o Ivan. Uma paixão sabe-se lá de quando, talvez ainda dos anos 60, ou até antes.
 O que eu sabia era que o Ivan fora frentista num posto de gasolina, meu avô, pai da Tia Marta, não permitiu o casamento. Ficando minha Tia Marta solteira até hoje.
 Depois Ivan tornou-se taxista, vindo a falecer há uns 15 ou 20 anos atrás.
 Lembro deste episódio e de um outro, que também faz parte da minha biografia não autorizada. Fabi, uma amiga atriz, me chamara para participar de um espetáculo infantil.
 Meu papel seria o de interpretar uma versão de Tarzan. Eu deveria ficar a peça toda sem camisa, de tanguinha, coisa que não me agradou. Aliás, nada me agradava no texto, inclusive o texto se chamar Peter Pan. O Tarzan era só um coadjuvante, praticamente sem fala.
 Resolvi ser então assistente de direção. E arrumamos um rapaz bem mais sarado do que eu, na época, para fazer o rei das selvas.
 O diretor, uma Tia velha, apaixonou-se pelo novo Tarzan. E passava os ensaios todos repetindo baixinho para mim:
 “A vida deste rapaz daria um filme”.
 Tempos depois, aprendi que qualquer vida dá um filme. Inclusive a vida da Tia Marta e do Ivan. Inclusive a sua leitor.
 Conto tudo isto, porque hoje encontrei num restaurante, o diretor do qual fui assistente, há uns dez anos. Assim por acaso. Ele e Tarzan continuam casados. São reais. E são felizes, estão montando um Nelson Rodrigues.
 Já o Ivan da minha Tia Marta, nunca terei certeza se ele realmente existiu. E não sei por que, mas se eu fosse escrever a biografia da minha Tia Marta, o Ivan é um dos fatos mais interessantes. Digo, o mais.
 Talvez o Ivan seja Vânia, mulher do Moacyr, que era frentista. Talvez minha tia tenha só cruzado com este frentista, Ivan, e trocado poucas palavras. O resto seria fantasia dela. Tantas possibilidades.
 O fato é que o Ivan acabou se tornando um tio. Um parente que eu nunca conheci. O Ivan da Tia Marta.
 E toda vez que eu visito a Tia Marta, eu tenho esta vontade de saber mais sobre o Ivan. E ela sempre me sai com respostas evasivas:
 “Seu avô não me deixou casar com ele”. “Virou taxista e depois morreu”.
 “Mas tia! Nem a cor do taxi a senhora pode contar? Eu quero detalhes tia.” 

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