sábado, 20 de dezembro de 2014

Casais.

 Marcos viu Priscila a primeira vez na padaria. O rapaz lia jornal num sábado de uma manhã quente. Numa mesa mais ao canto.
 Ela sentou-se na sua frente. Com outra mesa entre eles.
 De onde eu conheço esta menina? Ele pensou.
 Priscila era um espetáculo. Alta, sensual, languida, ria feliz. Talvez estivesse acordando de uma noite espetacular.
 Falava ao telefone ao mesmo tempo que mordia as torradas. Uma boca carnuda, dentes brancos e lindos. Não notou a presença de Marcos.
 Ele disfarçava, mas o fato é que nem lia mais as notícias. Só tentava disfarçadamente olhar a moça. Ela devia ter uns 25, quem sabe 28 anos. Não mais.
 Priscila se levantou e partiu. Que pernas!
 Segundos depois ele se lembraria. De onde conhecia Priscila.
 Ela era filha da Marta!
 Um fim de semana antes, na piscina do clube, ele e Marta conversavam sobre casamentos, ex-maridos e ex-esposas. Aquela coisa toda. Eram ambos da mesma turma. Embora com idades diferentes.
 Marta falara de quando fora casada com um Italiano, depois de quando morou na França com um Americano.
 Marta fora modelo. Era alta, mais de ossada larga. Na época se usava muito, diferente das modelos magras de hoje.
 Os dois tomavam caipirinha, e a passaram a tarde juntos.
 Marta o teria mostrado fotos da filha.
 “Priscila. Ela tem 26 anos. Filha do Americano”.
 Com o pretexto de ter visto Priscila na padaria, Marcos ligou para Marta.
 Saíram para jantar.
 Dias depois se encontraram de novo na piscina. Tornaram a sair. Começaram a namorar. Um mês se passou.
 Depois, de uma noite de amor, os dois foram num sábado de manhã, tomar café naquela mesma padaria.
 Neste dia, Marcos, curioso, disse que queria conhecer Priscila, filha de Marta. Já que ela era o pretexto deles estarem se vendo.
 “Impossível”. Ela disse.  
 “Mas por que é impossível?” Ele quis saber.  
 Nisto, Gil, funcionário da padaria interrompe:
 “Requeijão do lado como sempre Dona Marta?”
 Marcos olha surpreso para Marta. Ela sorri. Gil deixa o requeijão ao lado, sem entender e sai.
 “Faz um ano que ela está na França com o pai”.  
 “Então era você? Sempre foi você, o tempo todo?”
 “Acho que sempre foi. Desculpe. Mas eu me diverti tanto, em ser confundida com minha filha. Me fez tão bem”.
 E foram juntos pra piscina. Felizes. O casal.






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