quarta-feira, 11 de março de 2015

Os peitos grandes de Laura.

Uma coisa da qual, os americanos, já perceberam há muito tempo, é que mulheres jovens de peitos grandes, impõem respeito. Doutora Laura tinha 37 anos, era alta, gostosa, usava óculos, um rosto sensual, mas nada excepcional e peitos duros e enormes.
Ela ficara famosa pela sua terapia de conversão. O método basicamente consistia, em transformar, “esquerdinhas”, em direitistas convictos.  
 A doutora começou perguntando qual era a minha profissão.
 “Policia”. Falei dando uma risadinha.
 “E você quer começar o tratamento mentindo?”
 Bem da verdade eu não sou policia. Acho que militar pode ser de esquerda, comunista, fascista... Mas a verdade é que policia sempre tem um pé na direita. Também nunca fui um marxista assim... Convicto. Nos meus anos de formação acabei optando pela esquerda. Já nem me lembro mais o por que exatamente. Mas esta posição começou a me atrapalhar ultimamente no escritório. Na carreira, no clube, nas festas em família.
 De repente ser de esquerda ficou fora de moda. Ou fora dos meus círculos de amizade e profissionais.
 A primeira sessão foi interessante. Contei um pouco de mim, da minha vida, falamos de cinema.
 No final, doutora Laura se saiu com esta frase:
 “Você daria um bom policial”.
 Fui embora com aquilo na cabeça. Como teria sido a vida, se eu Jaime, de quarenta e dois anos, ao invés de executivo de banco, fosse um investigador da policia? Ou um detetive Particular? Destes, de romances e filmes policiais?
 Na segunda sessão, contei a Doutora Laura sobre a minha vontade de morar num sitio. Um lugar afastado desta nossa grande metrópole barulhenta.
 “Fale-me mais sobre este sitio. Você teria vontade de plantar o que?” Ela perguntou. Estava muito interessada nisso.
 No final da segunda sessão, doutora Laura, disse que eu tinha alma de cowboy, e que o tal, sitio, era uma vontade inconsciente de ter um rancho, destes de filmes de faroeste.
 Eu argumentei que isto estava mais para cineasta, detetives e cowboys. Do que para estereótipos machões de direita, como soldados, pistoleiros, justiceiros e heróis. E que eu não seria manipulado tão facilmente.
 “Então vamos falar em justiça social”. Ela propôs.
  Coversamos muito sobre justiça social. Aquele papo de boteco sem fim. Ela citou vários economistas de direita. Detonou com vários economistas de esquerda. Deu exemplos de países de esquerda que eram autoritários. E por ai vai. No fundo ela não parecia uma figura propriamente reacionária.
 Na sessão seguinte, voltamos a falar do sitio, rancho, ou o nome que fosse do um lugar bucólico que eu sonhava viver. Nas duas sessões seguintes, falamos do que eu plantaria neste lugar. E como seria a casa. Eu disse que preferia construir do zero uma casa, que seria a minha cara.
 Na semana seguinte, doutora Laura me levou opções de arquitetos que ela havia pesquisado.
 Ficamos mais umas três sessões discutindo o arquiteto. Eu disse que havia visto terras a cem, cento e cinquenta quilômetros de São Paulo. 
  Continuei a fazer analise com Laura, por meses. Ela acompanhou meu divorcio. A compra do terreno. A escolha da cozinha, o paisagista.
 Depois a escolha do bufê, da igreja, dos padrinhos. Casamos-nos no sitio. Eu e Laura.  
 Ela passou a atender pacientes da cidadezinha próxima. E eu investi minhas economias numa produção de alimentos orgânicos.
 Laura desistiu do método, de transformação e recuperação de esquerdistas. Passou a dedicar-se a terapias convencionais. Vamos juntos as aulas de ioga.
 E eu confesso. A primeira vez que bati os olhos nos peitos de Laura, eu soube. Não foi no consultório. Foi antes. Numa festa de um conhecido de um amigo. Foi difícil convencê-la de que eu era um romântico esquerdista. Confesso que me apaixonei por eles. Os peitos. Depois por ela.
 “Ela converte marxistas em libertários”.
 “Dizem que ela tem um método”.
 Após um ano morando juntos, no nosso sitio, ela também confessou.
 “Nunca tive método nenhum. Achei na primeira sessão que você era meio biruta. Depois investiguei, e acabei descobrindo, que alguém tinha pregado uma peça na gente. Mas daí já estávamos vendo o arquiteto, o cartório... E simplesmente fui em frente. Pensei o cara é um babaca, fingir que é paciente, mas tem cura. O problema é que me apaixonei pelo projeto de vida dele. Seu projeto”.
 “Nosso”. Eu emendei, enquanto tomávamos vinho Frances, acompanhado do nosso queijo caseiro, assistindo Havana Connection no youtube.






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