segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Luzia


Acordei na casa de Luzia, era um dia de céu azul. Uma ruivinha que morava num apartamento na Vila Leopoldina. Cheio de livros, muitos de uma única editora, já que a amiga de Luzia, que dividia o apartamento com ela trabalhava nesta editora. Amiga esta que nunca cheguei a conhecer. 
Vesti a roupa, sai do quarto, Luzia já estava na sala tomando café e lendo jornal. Ela lia jornal igual homem. Isto é, com o jornal enfiado na cara e sem conversar com quem está na frente. 
Mas neste dia ela abaixou o jornal. Acho que tomei café preto e fui para a porta. Nos entreolhamos. Eu disse, até. Ela também disse. Até. E entrei no elevador. 
Eu tive a sensação de que nunca mais a veria. Tempos depois, ela me confessou que teve a mesma sensação, a de que nunca mais nos veríamos. Não foi o que aconteceu. 
Nos conhecemos no dia 31 de dezembro. De um ano qualquer, estávamos hospedados no mesmo quarto de uma casa. Explico:
Eu e meu amigo Rafa, fomos passar a virada de ano na Ilha Bela, na casa da nossa amiga Isabel. Os quartos da casa eram bem grandes, e num deles eu, Rafa, Isabel, Luzia e mais três amigas ficamos juntos. 
Foi uma festa para 100 pessoas, nem 99, nem 101, cem pessoas exatas. Todos amigos. Pra mim foi um reveillon que sempre vou lembrar. Eu acabara de terminar um relacionamento com uma menina bem mais nova.
Foi ótimo passar a virada com meus, amigos e amigas da minha idade. E não mais com garotos 15 anos mais novos do que eu. Que alívio! A casa ficava no alto da Ilha, e de lá víamos todo o litoral do continente. A festa foi envolta (ao redor) da piscina. 
Como naqueles filmes franceses, onde amigos celebram a vida juntos. Foi uma festa de muito bom gosto. 
Não sei o porquê, mas não conhecia Luzia. Tínhamos amigos em comum, mas não a conhecia. Naquela noite, antes de eu e Rafa chegarmos à tarde, ela disse que as amigas lhe contaram o seguinte:
Vão vir dois amigos, um é o Rafa, que é lindo, pegador, um charme só. O outro é o Leo. Luzia ao me ver, e também ver Rafa, ambos saindo do carro, imaginou, que eu era Rafa (Lindo, gostoso e pegador), e Rafa era o Leo. Pelo menos foi o que ela me disse. 
Gosto de mulher não se discute. Que frase mais idiota que escrevi agora! 
Conversamos das oito da noite, até umas dez e meia. Na escada do jardim. 
Não sei como fomos parar no quarto. Estávamos praticamente transando. Foi quando a primeira pessoa, outra amiga que estava no quarto entrou. 
Não se incomodem comigo, continuem fazendo o que vocês estavam fazendo antes. 
Como não se incomodar? Eu estava com uma menina, a qual conheci no mesmo dia, pelado numa cama, e agora eu iria ignorar a plateia e continuar?
Esperamos a amiga sair, e recomeçamos. Acontece que a amiga, lá fora na festa, contou o flagra que havia pego. E um por um, uma pessoa de cada vez, a toda hora entrava no quarto. Desarmávamos tudo, e esperávamos a pessoa sair. E novamente recomeçávamos. Depois de umas cinco interrupções, resolvemos transar no banheiro. 
Meia noite, transando no banheiro. Ótima maneira de começar o ano. 
Luzia definitivamente era mais inteligente do que eu, para um monte de coisas. Tipo geopolítica e realpolitik. Tinha um raciocínio britânico, mas uma safadeza bem latina. 
Usava óculos e jogava tênis. O esporte lhe deu coxas maravilhosas. Na época ela trabalhava numa ONG alemã que estudava política. 
O sexo era muito bom, mas às vezes Luzia ficava num mau humor, e entrávamos numa discussão, que quase sempre a minha falta de base, e a minha especialidade em discursos geniais, mas que na verdade são apenas... Nada, perto do dela um raciocínio embasado, esquemático e rebuscado.
Acho que sem o sexo, seria uma infinidade de assuntos, sobre poder, sociedade... O fato é que existem vários tipos de inteligência. 
Nunca acreditei em quantidade intelectual. E sim em qualidade intelectual. 
Este negócio de fulano é hiper inteligente! E daí? Todos somos inteligentes. A humanidade é inteligente. Uma pessoa destituída de inteligência é raríssimo. 
Mas o que me atraiu em Luzia, foi que ela sabia muito bem o que eu era. Mas não sabia como eu agiria. 
Luzia foi estudar em Buenos Aires, conheceu um diplomata e agora vive pelo mundo. 
O que eu aprendi com Luzia, é que talvez as mulheres tenham uma sabedoria da qual os homens debocham. 
É muito bom transar com pessoas inteligentes. 
Quando eu era garoto sempre repetia uma frase que ouvira:
“Qual é a mulher ideal? É aquela que vira pizza às quatro da manhã.”
Hoje eu sei que a mulher ideal, é a que nos faz rir, mesmo às quatro da manhã.

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