Quando o mestre Inglês nos diz que nunca houve história mais triste do que a de Julieta e Romeu, dentre algumas razões foi a de que eles nunca tomaram um café da manhã juntos.
Porque para mim a coisa mais romântica que há é tomar café da manhã a dois. Na madrugada é fácil se apaixonar, com meia garrafa de velho barreiro na cabeça então. Se não digo coisas lindas como Romeu na sacada, eu pelo menos tenho a impressão de está-las dizendo.
Na juventude já escalei quatro andares atrás de uma menina. Não dei sorte. Nem eu nem o vizinho do quarto andar dela, que ao abrir a janela me viu vomitando em cima dele mesmo. Errei por pouco, por seis andares já que ela morava no décimo.
Ultimamente, tomando café da manhã vendo o mar de Juquehy e dividindo a mesa com os meus sobrinhos que nesse horário almoçam, venho me lembrando dos meus cafés da manhã da infância. Nas férias em que eu desenhava a dois olhos e um sorriso na margarina imitando o comercial.
Na adolescência o café da manha desaparece. Lembro que eu realmente só acordava na segunda ou terceira aula, quando Daniela ou Bruna atravessavam a sala usando aquelas calças de moleton coladas. Eram um despertador que fazia sonhar.
Mas redescobrimos o café da manhã depois na vida adulta. Alguns a base de pizza fria, ressaca e coca-cola. Bem americano. Outros lindos como os de Paris, clichê mesmo. Croassant, ovo mexidos, suco de laranja, lendo Rolling Stones, ela me disse que me amava e não voltaria mais para o marido. Voltou.
Na cama, ou mesmo sozinho na padaria vendo casais chegarem depois de uma balada noturna de mãos dadas e óculos escuros.
E falando em padarias onde solitários como nós, tomamos café, ontem a caminho da padaria depois de ter comprado um jornal na banca eu ver um Ipê florido, achei que seria a visão mais linda do dia. Estava enganado.
Uma matéria do meu irmão empolgante sobre KGB, CIA. Depois uma do filho da Elis falando da Elis, que eu não entendi muito. Baixo o jornal, dou um gole de café. Quando de repente a vejo. No caixa. As batatas das pernas branquinhas numa saia azul, ela sorria e levantava uma perna enquanto a outra girava, tal qual uma bailarina de Degas.
Será que eu tampo o rosto e continuo a ler? Será que ela me viu? Bárbara, esse é o nome dela. Uma menina que eu conheci no Masp. Jantamos, andamos por praças e ruas, mas nunca tomamos café da manhã juntos. Ela nunca quis.
Será que eu a chamo? Será que não? Vou chamar. Vou chamar. Ela se vai antes que eu pronuncie Bárbara. O Ipê definitivamente não foi à visão mais linda do dia.
Romeu e Julieta acordam. Ele tem de ir embora. Ela diz que ainda é noite. Ele ouve a cotovia, ela diz que é a coruja. E ele pula a janela e ele vai. Sem croassant, sem ovos mexidos, sem café e sem jornal.
Nunca houve história tão triste como a de Julieta e seu amado Romeu.
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