sábado, 31 de julho de 2010

Bons tempos

Estávamos no rali São Paulo- Juquehy, anos setenta. Meu avô olhou o relógio e disse: “Vamos para um novo recorde, só quinze horas de viagem”.


“É porque a balsa foi rápida, só oito horas de fila. E vai mais devagar Mário, já ta a 12 por hora!” Disse minha avó.

Foi quando vimos uma família de refugiados na praia de Boracéia, o pai deles gritava: “Pelo amor de Deus nos ajudem, nosso carro foi levado pela maré”. Eu, meus avós e meus dois irmãos nos apertamos na variant e os cinco novos passageiros entraram.

Ao chegarmos quase de madrugada os caseiros não estavam nos esperando e minha avó brava: “Vocês não receberam a carta que a gente vinha esse fim de semana?” E o caseiro: “Não senhora o correio faz tempo que não vem. Aliás, dona Amélia verdade que acabou a guerra?”

“Qual guerra”? Quis saber a minha avó. “A grande guerra.” Disse o curioso caseiro.

“Olha compramos este peixe para o almoço de amanhã. Essa família vai dormir aqui e segue para Camburi também amanhã.”

“Sim senhora. E hoje vão jantar fora?” Naqueles bons tempos, jantar fora era jantar no quintal.

“Vó, eu estou com medo desse barulho”. Eu disse. “É só um lobisomem”. Falou o caseiro e minha avó:

“Vai assustar o Leozinho. Não é lobisomem não. São as onças e fecha a janela do quarto para não entrar índio bêbado”.

No dia seguinte a casa toda fedia o peixe fresco que sem geladeira parecia aeroporto de moscas. Mas eram bons aqueles tempos, os mosquitos à vontade, porque repelente não tinha.

Íamos à praia e passávamos óleo jonhson. Diz que era bom pra pele ficar vitaminada, trocava por uma nova.

“Já que o peixe estragou vamos ao mercadinho”. E lá íamos ao mercadinho, duas horas de carro pela lama. Sempre parávamos no Pingüim. Uma espécie de entreposto onde armazenavam galões de gasolina. Nesse fim de semana um incêndio havia ocorrido e empurramos o carro até o centro de São Sebastião.

Era realmente divertida essa época no litoral norte. Quando esquecíamos a sunga em São Paulo, nadávamos pelados. Era tudo uma alegria. Não havia o barulho do ar condicionado. Nem aparelhos de som. Nem gás para cozinhar.

Era tudo tão bucólico. Se ficasse doente, era enterrado lá mesmo.

Ah! Os bons tempos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário