-Leo você é o ator ideal para esse filme.
Disse-me Milena, uma jovem e bela roteirista de novelle-vagues brasileiras. Levantei os olhos dos seus belos seios e dei um gole de café. A ficha ainda não tinha caído.
-Do que se trata o filme? Eu quis saber.
-É sobre um rapaz inteligentíssimo, talentoso e que pega todas as mulheres que quer.
-E quem serão essas garotas?
-Umas globais e modelos famosas. Olha Leo, leia o roteiro e daqui a uma semana será o teste com o diretor do filme.
-E você acha que eu tenho mesmo essas características do personagem?
-Eu escrevi pensando em você.
Eu e Milena tivemos uma amizade relâmpago no passado. Acho que eu a impressionei.
Aquela chance de ser uma estrela de um filme orçado em milhões me deixou nas nuvens. Eu já andava pela rua como imaginando as pessoas me olhando e comentando: “Lá vai o Leo Chacra artista de cinema”. Na minha ansiedade já fui tentando adicionar as atrizes globais no face-book. “Oi, eu te como no filme. Adiciona aí”. “Eu sou aquele que dá uns tapinhas na sua bunda e te despreza. No longa da Milena. Adiciona aí”.
Passado uma semana fui ao estúdio conhecer o diretor. Entrei no set, estava à equipe com as câmeras e as luzes, já a postos. O diretor me mandou sentar. Fazia um quadrado com os polegares e os indicadores, como se estivesse me focando. E para minha surpresa, minutos depois de dar a volta em mim sempre me focando, concluiu:
-Ele não serve.
Como não sirvo? Nem dei o texto. Nem fiz a cena. No teatro meu amigo a gente faz a cena depois as pessoas criticam. Pensei, não disse.
-Por que você acha isso? Quis saber a Milena.
Pronto ela vai interceder por mim, é só charme do diretor. Deve ser apaixonado por ela e tem medo da competição.
-As sobrancelhas dele. Não servem.
Milena começou a andar em volta de mim, também fazendo um quadrado com os dedos como se me focasse. Depois deu de ombros e suspirou:
-É você tem razão, as sobranselhas não servem.
Naquele minuto meus sonhos desabaram. Então eu não seria famoso, um astro do cinema e depois lógico da novela das oito, por conta da minha sobrancelha? É só um detalhe, só uma parte.
Foi quando me lembrei do mestre russo, Dostoievski. “A gente se apaixona às vezes por uma parte de uma pessoa e também desapaixona só por causa de uma parte”.
Uma orelha, uma coxa, um pé, uma boca, uma voz, um mexer de cabeça. Será?
Sai de lá pensando na minha amizade com os seios de Milena. Afinal foi o cérebro dela quem me magoou. Logo eu e os seios dela poderíamos continuar grandes amigos. Ambos os seios.
Fui com ela e eles na estréia, verdade é que olhei mais pra eles (seios) do que para o filme.
O ator não era ruim. Milena me disse que ele era gay. Suspirei. “Com tantas globais lindíssimas”. Realmente existem diretores que sabem trabalhar.
E “Fim de tardes amarguradas”, não foi o sucesso retumbante que eu imaginei. Corta!
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