Era só um teste de publicidade. Mas a minha mente já ia longe. Sempre que me chamam para trabalhar como ator, me vem James Dean na cabeça.
Por que James Dean? Acho que quando criança, ou entrando na vida adulta, quando temos de escolher o que fazer da vida, eu ora queria ser arquiteto, ora cineasta. Mas antes disso, de ambas ocupações, eu queria ser ator.
Queria ser James Dean.
Meus pais é que me falaram de James Dean pela primeira vez. Disseram-me que ele, o James Dean, tinha algo de sobre natural. Um mito. A geração dos meus pais tem outros mitos também. Che Guevara, Beatles...
Mas Leo! Você já tem 40 anos de idade, James Dean morreu com 24. James Dean fazia filmes grandiosos. Você está indo fazer um simples teste publicitário. Não tem nada a ver.
James Dean, não ficava pensando numa crônica antes de filmar. Ele provavelmente pensava no texto, no personagem, na cena, ele era um ator, não um escritor.
Acho que o negócio do James Dean comigo, era, ou ainda é, algo só pra agradar meus pais.
Nesta mesma época, em que eles compraram um video cassete, e colocaram “Casablanca” e “Rebelde sem causa” para vermos, eu era fã mesmo do Eddie Murphy, Clint Eastwood e principalmente do Errol Flynn.
Depois conheci Al Pacino, Jeremy Irons e Peter Sellers. Ai quando entrei na escola de teatro, queria ser Jardel Filho e Sergio Cardoso.
Então veio uma fase de Diogo Vilella, Pedro Cardoso. E hoje minha cabeça confunde tudo, penso no James Dean, mas é uma mistura de Leonardo de Caprio com Marlon Brando que me vem na cabeça.
Enfim. Decorei todo o texto. Mas ao chegar ao teste, o produtor de casting, me diz que o meu texto é outro. Que eu não aparento o perfil do texto que eu tinha decorado. Que haviam me mandado. Registro mais jovem no video, ele diz.
Ao mesmo instante uma menina sai do estúdio e diz pra entrar mais dois atores. Ela passa por todos e vai na rua fumar. É muito jovem. Descubro que é a diretora. Me pareceu simpática. Empolgada. Nunca fui de querer agradar diretores. Sempre quis é agradar a mim mesmo.
Tento argumentar com a diretora que eu decorei o outro texto, e se por um acaso, eu não poderia fazer os dois textos. O que eu tinha decorado antes, e o novo, que eu tivera só 5 minutos durante a maquiagem pra decorar.
Claro que eu sabia, que absolutamente, ela não iria perder tempo comigo, fazendo um texto que não é o meu perfil.
Mas o que queria mesmo era me desculpar, justificar, por não saber tão bem o texto. As vezes atores passam por ingênuos, mas são bem ligeiros.
“O que você é do Guga Chacra? ”
Ela me perguntou isso depois de olhar para a minha claquete com o meu nome: Leo Chacra.
“Você conhece o meu irmão? ”
Perguntei por perguntar. É claro que conhece, ele é da TV.
A verdade é que eu não sabia o texto. A pior coisa que pode acontecer a um ator, é não saber o texto. Fica parecendo que ele é ruim. É como um cantor tentar cantar, sem saber a letra da música.
Mas há coisas que ninguém explica. Pouco antes de começar a cena, nosso cérebro se divide em dois. Duas metades bem definidas.
Uma metade busca o texto desesperadamente, busca as marcas, a indicação da diretora, fica pensando na crônica que vai escrever, fica imaginando se a diretora está de regime, por isso sai tanto pra fumar. Se a diretora gosta de meninos, ou de meninas. Se o corpo está solto, na maldita camisa que a figurinista escolheu apertada pra caralho, que me deixa gordo. Na dicção, na contenção dos gestos...
Já a outra metade da cabeça, sabe-se la de onde, começa a dar entonações, sabe o texto, tem um domínio total do que está acontecendo. Se joga e começa a fazer coisas que nada tem a ver com Leo, ou com James Dean, começa a querer mais. Fazer mais. Não quer mais sair dali. Esta segunda metade, quer fazer a cena, de mais dez maneiras diferentes.
Enquanto a outra metade, a mais moderada, tímida, racional, só pensa em ir embora, pegar o cache teste. Sair dali o mais rápido possível. Ela sente que eu estou duro. Que as frases saem tremidas.
No final a diretora bate palmas.
“Você conseguiu. Deu o texto inteirinho sem errar”.
Convivendo com atores há 23 anos, dirigindo atores, namorando atrizes, e ainda fazendo pontas aqui e lá como ator, chego cada vez mais a conclusão, que ser ator, é a capacidade, de deixar o cérebro funcionando com duas partes independentes que se dão muito bem.
Mas também sou obrigado a concordar, que a simples química com o diretor, pode fazer um ator render ou ser um total desastre.
Porque a cena nunca é só do ator. É do diretor também. Pelo menos quando eu estou dirigindo. Como disse o Boal uma vez:
“O diretor, quando dirige, está assim como o pintor quando faz uma tela, criando arte, fazendo arte”.
Deixar de dirigir, quando o ator está sublime, também é uma arte.
Mas nesta vida já vi de tudo. Já vi diretor dizer que o ator não sabe, e é ruim. Humilhar o ator. E mesmo assim, o ator ir pra casa feliz.
Como eu disse. Cada um com a sua química.
O fato é que assim como um grande chef sabe:
“Que um prato, nunca será melhor do que os ingredientes”.
Um diretor deveria saber, que uma cena, nunca será melhor que o texto e os atores.
Por que James Dean? Acho que quando criança, ou entrando na vida adulta, quando temos de escolher o que fazer da vida, eu ora queria ser arquiteto, ora cineasta. Mas antes disso, de ambas ocupações, eu queria ser ator.
Queria ser James Dean.
Meus pais é que me falaram de James Dean pela primeira vez. Disseram-me que ele, o James Dean, tinha algo de sobre natural. Um mito. A geração dos meus pais tem outros mitos também. Che Guevara, Beatles...
Mas Leo! Você já tem 40 anos de idade, James Dean morreu com 24. James Dean fazia filmes grandiosos. Você está indo fazer um simples teste publicitário. Não tem nada a ver.
James Dean, não ficava pensando numa crônica antes de filmar. Ele provavelmente pensava no texto, no personagem, na cena, ele era um ator, não um escritor.
Acho que o negócio do James Dean comigo, era, ou ainda é, algo só pra agradar meus pais.
Nesta mesma época, em que eles compraram um video cassete, e colocaram “Casablanca” e “Rebelde sem causa” para vermos, eu era fã mesmo do Eddie Murphy, Clint Eastwood e principalmente do Errol Flynn.
Depois conheci Al Pacino, Jeremy Irons e Peter Sellers. Ai quando entrei na escola de teatro, queria ser Jardel Filho e Sergio Cardoso.
Então veio uma fase de Diogo Vilella, Pedro Cardoso. E hoje minha cabeça confunde tudo, penso no James Dean, mas é uma mistura de Leonardo de Caprio com Marlon Brando que me vem na cabeça.
Enfim. Decorei todo o texto. Mas ao chegar ao teste, o produtor de casting, me diz que o meu texto é outro. Que eu não aparento o perfil do texto que eu tinha decorado. Que haviam me mandado. Registro mais jovem no video, ele diz.
Ao mesmo instante uma menina sai do estúdio e diz pra entrar mais dois atores. Ela passa por todos e vai na rua fumar. É muito jovem. Descubro que é a diretora. Me pareceu simpática. Empolgada. Nunca fui de querer agradar diretores. Sempre quis é agradar a mim mesmo.
Tento argumentar com a diretora que eu decorei o outro texto, e se por um acaso, eu não poderia fazer os dois textos. O que eu tinha decorado antes, e o novo, que eu tivera só 5 minutos durante a maquiagem pra decorar.
Claro que eu sabia, que absolutamente, ela não iria perder tempo comigo, fazendo um texto que não é o meu perfil.
Mas o que queria mesmo era me desculpar, justificar, por não saber tão bem o texto. As vezes atores passam por ingênuos, mas são bem ligeiros.
“O que você é do Guga Chacra? ”
Ela me perguntou isso depois de olhar para a minha claquete com o meu nome: Leo Chacra.
“Você conhece o meu irmão? ”
Perguntei por perguntar. É claro que conhece, ele é da TV.
A verdade é que eu não sabia o texto. A pior coisa que pode acontecer a um ator, é não saber o texto. Fica parecendo que ele é ruim. É como um cantor tentar cantar, sem saber a letra da música.
Mas há coisas que ninguém explica. Pouco antes de começar a cena, nosso cérebro se divide em dois. Duas metades bem definidas.
Uma metade busca o texto desesperadamente, busca as marcas, a indicação da diretora, fica pensando na crônica que vai escrever, fica imaginando se a diretora está de regime, por isso sai tanto pra fumar. Se a diretora gosta de meninos, ou de meninas. Se o corpo está solto, na maldita camisa que a figurinista escolheu apertada pra caralho, que me deixa gordo. Na dicção, na contenção dos gestos...
Já a outra metade da cabeça, sabe-se la de onde, começa a dar entonações, sabe o texto, tem um domínio total do que está acontecendo. Se joga e começa a fazer coisas que nada tem a ver com Leo, ou com James Dean, começa a querer mais. Fazer mais. Não quer mais sair dali. Esta segunda metade, quer fazer a cena, de mais dez maneiras diferentes.
Enquanto a outra metade, a mais moderada, tímida, racional, só pensa em ir embora, pegar o cache teste. Sair dali o mais rápido possível. Ela sente que eu estou duro. Que as frases saem tremidas.
No final a diretora bate palmas.
“Você conseguiu. Deu o texto inteirinho sem errar”.
Convivendo com atores há 23 anos, dirigindo atores, namorando atrizes, e ainda fazendo pontas aqui e lá como ator, chego cada vez mais a conclusão, que ser ator, é a capacidade, de deixar o cérebro funcionando com duas partes independentes que se dão muito bem.
Mas também sou obrigado a concordar, que a simples química com o diretor, pode fazer um ator render ou ser um total desastre.
Porque a cena nunca é só do ator. É do diretor também. Pelo menos quando eu estou dirigindo. Como disse o Boal uma vez:
“O diretor, quando dirige, está assim como o pintor quando faz uma tela, criando arte, fazendo arte”.
Deixar de dirigir, quando o ator está sublime, também é uma arte.
Mas nesta vida já vi de tudo. Já vi diretor dizer que o ator não sabe, e é ruim. Humilhar o ator. E mesmo assim, o ator ir pra casa feliz.
Como eu disse. Cada um com a sua química.
O fato é que assim como um grande chef sabe:
“Que um prato, nunca será melhor do que os ingredientes”.
Um diretor deveria saber, que uma cena, nunca será melhor que o texto e os atores.
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