Aceitaria
a sugestão dos pais. Passaria uns meses na Europa. Na Itália. Foi um livro de
turismo com uma foto de uma italiana num vestido de verão com os cabelos voando
ao vento. Atrás uma rua com prédios antigos, mesas nas calçadas, motocas
passando.
Aqui
no Brasil com seus 19 anos ele não era nenhum sucesso. Mas na Itália ele
conseguiria “pegar” um monte de gatas. Seria o lugar ideal. Passar o verão
estudando italiano, na Itália.
Todos
diziam que ela era linda, uma boca carnuda sensual, seios fartos, bunda, ela
estava decidida, faria um book de modelo. A noite ela se imaginava
desfilando. Conheceria o mundo, a
Itália, que ela tanto sonhava.
Ele
depois decidiria que carreira seguir, pensava em ser arquiteto, talvez
economista. Ela seria modelo fotográfica, foi o que recomendaram. Hoje uma
menina precisa ter mais de um metro e oitenta. Pelo menos, para fazer moda. Ela
tinha um e sessenta. E era quase gorda. Quase. Mas um rosto lindo, modelo
fotográfica. É.
Era um
dia realmente quente e de sol. Ela tomava um sorvete numa praça em algum lugar
de Roma.
Ele
viu ali uma chance. Abordou a menina num inglês amador. A garota contou que era
do Texas. Nunca ouvira falar de São José do Rio Preto, muito menos de São José
do Black River, a “Califórnia” Brasileira.
Combinaram um cinema, no outro dia foram a um
museu, almoçaram. E o verão acabou.
Ele
resolveu estender a temporada e se mudou para o quarto dela. Ela morava numa
pensão de americanos.
Ele compra uma máquina fotográfica usada. Começa a tirar fotos nas tardes livres. Roma era um cenário sem fim.
Ele compra uma máquina fotográfica usada. Começa a tirar fotos nas tardes livres. Roma era um cenário sem fim.
Ela
começou um curso de gastronomia. Acabou num restaurante. Na cozinha, na parte
de sobremesas.
Ele
foi estudar fotografia. Conheceu uma modelo magrela e alta. Uma alemã.
Ela fugiu com um chefe espanhol. Dez anos se passaram.
Ela fugiu com um chefe espanhol. Dez anos se passaram.
Ele
tomava um sorvete em uma praça em algum lugar de Barcelona. Ela passa com uma
menina de uns três anos. Se reencontram. Saem, vão à praia, ao teatro, ao
parque.
O marido dela volta de Portugal. Eles fogem
para o Marrocos. O marido vai atrás. No hotel em Casablanca ele dispara a arma
e mata os dois na piscina.
Ela
suspira. Abre os olhos e continua ouvindo aquele garoto brasileiro, contando de
como será seu filme. Sim ele é diretor de cinema, ainda não fez nada, mas é.
Quem
sabe ela não seria uma estrela na próxima temporada de Cannes?
Quem
sabe? Sonhos são incrivelmente superiores e mais interessantes que a realidade.
Nem sempre.
E
hoje? Ele quer saber. Alugam uma moto e saem em direção ao sul. Grécia,
Istambul, Beirute...
Sonhar
definitivamente é um talento. Sol, praia, vinho, história, arte, e 20 poucos anos. Entram numa igreja de mil anos e fingem casar. Saem e bebem, vão até a praia e dormem na praia. Agora são casados. O sol forte, o céu azul, o Mediterrâneo verde, verde como eles.
O mar sorri, ele já viu tantos casais jovens. Mas também já viu tanta guerra, tanta gente morrer afogada.
Mas hoje é verão. E Rio Preto está longe, lá para os lados do Texas.
Os dois correm pela praia, sem protetor solar, sem lenço e sem documento.