-Leo você é o ator ideal para esse filme.
Disse-me Milena, uma jovem e bela roteirista de novelle-vagues brasileiras. Levantei os olhos dos seus belos seios e dei um gole de café. A ficha ainda não tinha caído.
-Do que se trata o filme? Eu quis saber.
-É sobre um rapaz inteligentíssimo, talentoso e que pega todas as mulheres que quer.
-E quem serão essas garotas?
-Umas globais e modelos famosas. Olha Leo, leia o roteiro e daqui a uma semana será o teste com o diretor do filme.
-E você acha que eu tenho mesmo essas características do personagem?
-Eu escrevi pensando em você.
Eu e Milena tivemos uma amizade relâmpago no passado. Acho que eu a impressionei.
Aquela chance de ser uma estrela de um filme orçado em milhões me deixou nas nuvens. Eu já andava pela rua como imaginando as pessoas me olhando e comentando: “Lá vai o Leo Chacra artista de cinema”. Na minha ansiedade já fui tentando adicionar as atrizes globais no face-book. “Oi, eu te como no filme. Adiciona aí”. “Eu sou aquele que dá uns tapinhas na sua bunda e te despreza. No longa da Milena. Adiciona aí”.
Passado uma semana fui ao estúdio conhecer o diretor. Entrei no set, estava à equipe com as câmeras e as luzes, já a postos. O diretor me mandou sentar. Fazia um quadrado com os polegares e os indicadores, como se estivesse me focando. E para minha surpresa, minutos depois de dar a volta em mim sempre me focando, concluiu:
-Ele não serve.
Como não sirvo? Nem dei o texto. Nem fiz a cena. No teatro meu amigo a gente faz a cena depois as pessoas criticam. Pensei, não disse.
-Por que você acha isso? Quis saber a Milena.
Pronto ela vai interceder por mim, é só charme do diretor. Deve ser apaixonado por ela e tem medo da competição.
-As sobrancelhas dele. Não servem.
Milena começou a andar em volta de mim, também fazendo um quadrado com os dedos como se me focasse. Depois deu de ombros e suspirou:
-É você tem razão, as sobranselhas não servem.
Naquele minuto meus sonhos desabaram. Então eu não seria famoso, um astro do cinema e depois lógico da novela das oito, por conta da minha sobrancelha? É só um detalhe, só uma parte.
Foi quando me lembrei do mestre russo, Dostoievski. “A gente se apaixona às vezes por uma parte de uma pessoa e também desapaixona só por causa de uma parte”.
Uma orelha, uma coxa, um pé, uma boca, uma voz, um mexer de cabeça. Será?
Sai de lá pensando na minha amizade com os seios de Milena. Afinal foi o cérebro dela quem me magoou. Logo eu e os seios dela poderíamos continuar grandes amigos. Ambos os seios.
Fui com ela e eles na estréia, verdade é que olhei mais pra eles (seios) do que para o filme.
O ator não era ruim. Milena me disse que ele era gay. Suspirei. “Com tantas globais lindíssimas”. Realmente existem diretores que sabem trabalhar.
E “Fim de tardes amarguradas”, não foi o sucesso retumbante que eu imaginei. Corta!
sábado, 31 de julho de 2010
A gatinha pára-quedista.
A minha perversão sexual é na verdade muito tímida. Sim todos nós invariavelmente temos nossas perversões, seja transar com casacos de pele, com pessoas de chulé, anões, garçonetes ou marinheiros.
Diz o mestre austríaco que até beijo na boca é perversão. Sim uma vez que o aparelho digestivo é usado para fins sexuais e não para se tomar uma sopa é batata, digo é perversão.
Por isso sim eu tenho uma perversão. Chegue mais perto. Vou falar baixinho. Mais perto um pouco. Eu... Tenho atração, quer dizer tesão mesmo, por pessoas que amo. Pronto falei.
A leitora romântica dirá que isso é lindo. É certo e honrado. Mas daí vem o senhor Freud e diz que ter desejos só e exclusivamente pelo objeto amado é perversão. Ainda mais quando esse objeto tem uma diferença bem grande de idade com você. Quando digo bem grande, quero dizer que Heleonora tem oitenta anos e eu trinta e cinco.
Meus amigos morrem de inveja de mim. Principalmente os casados. É porque Heleonora teve muitos homens em sua vida é uma mulher madura que sabe o que quer. Já as amigas não entendem como eu posso me envolver com uma mulher mais velha. O que elas não sabem é que eu me atraio pelas rugas de Heleonora, pelos seus cabelos brancos que eu considero um charme. Já as mulheres da minha idade são imaturas, galinhas, periguetes, só pensam em sassaricar.
E quer saber? Se Heleonora ficar parecida com a minha sogra então melhor. Sim minha sogra é budista, pedala, é super alto-astral. Ela a minha sogra, numa dessas viagens budistas conheceu um francês e foi morar um ano com ele no litoral Índia.
Nunca achei Heleonora velha. Aliás, ela tem um pique. Outro dia estávamos na praia e ela quis transar ali na areia. Eu argumentei que era de noite e estava frio. Foi quando ela deixou tudo bem claro, ou a gente transava todos os dias da semana, ou não tinha mais namoro. Que mulher da minha idade tem essa disposição?
Numa outra noite transamos no banheiro da balada. Detalhe foi à terceira transa do dia e havíamos comido uma feijoada. Acontece que de uns tempos pra cá ela vem tendo umas idéias de se relacionar com alguém da idade dela. Eu particularmente ando bem desconfiado do seu professor de pára-quedismo. Ele é quase da idade dela, deve ter uns oitenta e dois. E é bonito o desgraçado. A barriga é um tanquinho. Alto, usa umas camisas estampadas, cheio de tatuagens. Mas deixa estar. Tem uma amiga dela que toda vez que encontro dá em cima de mim. A Rosa. Ela é ainda mais velhinha que a Heleonora. E meio surdinha o que me deixa assim um pouquinho até seduzido.
Às vezes eu penso nessas perversões todas e dou graças a Deus pela minha, ser tão comum e tão normal se comparada às maluquices que tem por aí.
Um amigo meu, por exemplo, da minha idade com uma menina de vinte oito anos? Coitado do Freud se fosse vivo, teria de escrever o quarto ensaio sexual, o quinto o sexto. Deixa o meu amigo, melhor não julgar as pessoas. Vocês não acham? A leitora me desculpe, eu estou vendo aqui no relógio e é hora de abrir o antiquário. Licença que hoje vão os filhos de Heleonora jantar em casa. Antonio Carlos agora se aposentou. Dá um trabalho, tem uns ciúmes da mãe. Amanhã tenho um casamento de outra amiga de Heleonora. Por incrível que pareça nenhum velório essa semana. Porque o que a Heleonora tem de amigo que arruma velório de última hora. Sempre amigos dela, os meus não. Por que será?
Diz o mestre austríaco que até beijo na boca é perversão. Sim uma vez que o aparelho digestivo é usado para fins sexuais e não para se tomar uma sopa é batata, digo é perversão.
Por isso sim eu tenho uma perversão. Chegue mais perto. Vou falar baixinho. Mais perto um pouco. Eu... Tenho atração, quer dizer tesão mesmo, por pessoas que amo. Pronto falei.
A leitora romântica dirá que isso é lindo. É certo e honrado. Mas daí vem o senhor Freud e diz que ter desejos só e exclusivamente pelo objeto amado é perversão. Ainda mais quando esse objeto tem uma diferença bem grande de idade com você. Quando digo bem grande, quero dizer que Heleonora tem oitenta anos e eu trinta e cinco.
Meus amigos morrem de inveja de mim. Principalmente os casados. É porque Heleonora teve muitos homens em sua vida é uma mulher madura que sabe o que quer. Já as amigas não entendem como eu posso me envolver com uma mulher mais velha. O que elas não sabem é que eu me atraio pelas rugas de Heleonora, pelos seus cabelos brancos que eu considero um charme. Já as mulheres da minha idade são imaturas, galinhas, periguetes, só pensam em sassaricar.
E quer saber? Se Heleonora ficar parecida com a minha sogra então melhor. Sim minha sogra é budista, pedala, é super alto-astral. Ela a minha sogra, numa dessas viagens budistas conheceu um francês e foi morar um ano com ele no litoral Índia.
Nunca achei Heleonora velha. Aliás, ela tem um pique. Outro dia estávamos na praia e ela quis transar ali na areia. Eu argumentei que era de noite e estava frio. Foi quando ela deixou tudo bem claro, ou a gente transava todos os dias da semana, ou não tinha mais namoro. Que mulher da minha idade tem essa disposição?
Numa outra noite transamos no banheiro da balada. Detalhe foi à terceira transa do dia e havíamos comido uma feijoada. Acontece que de uns tempos pra cá ela vem tendo umas idéias de se relacionar com alguém da idade dela. Eu particularmente ando bem desconfiado do seu professor de pára-quedismo. Ele é quase da idade dela, deve ter uns oitenta e dois. E é bonito o desgraçado. A barriga é um tanquinho. Alto, usa umas camisas estampadas, cheio de tatuagens. Mas deixa estar. Tem uma amiga dela que toda vez que encontro dá em cima de mim. A Rosa. Ela é ainda mais velhinha que a Heleonora. E meio surdinha o que me deixa assim um pouquinho até seduzido.
Às vezes eu penso nessas perversões todas e dou graças a Deus pela minha, ser tão comum e tão normal se comparada às maluquices que tem por aí.
Um amigo meu, por exemplo, da minha idade com uma menina de vinte oito anos? Coitado do Freud se fosse vivo, teria de escrever o quarto ensaio sexual, o quinto o sexto. Deixa o meu amigo, melhor não julgar as pessoas. Vocês não acham? A leitora me desculpe, eu estou vendo aqui no relógio e é hora de abrir o antiquário. Licença que hoje vão os filhos de Heleonora jantar em casa. Antonio Carlos agora se aposentou. Dá um trabalho, tem uns ciúmes da mãe. Amanhã tenho um casamento de outra amiga de Heleonora. Por incrível que pareça nenhum velório essa semana. Porque o que a Heleonora tem de amigo que arruma velório de última hora. Sempre amigos dela, os meus não. Por que será?
Bons tempos
Estávamos no rali São Paulo- Juquehy, anos setenta. Meu avô olhou o relógio e disse: “Vamos para um novo recorde, só quinze horas de viagem”.
“É porque a balsa foi rápida, só oito horas de fila. E vai mais devagar Mário, já ta a 12 por hora!” Disse minha avó.
Foi quando vimos uma família de refugiados na praia de Boracéia, o pai deles gritava: “Pelo amor de Deus nos ajudem, nosso carro foi levado pela maré”. Eu, meus avós e meus dois irmãos nos apertamos na variant e os cinco novos passageiros entraram.
Ao chegarmos quase de madrugada os caseiros não estavam nos esperando e minha avó brava: “Vocês não receberam a carta que a gente vinha esse fim de semana?” E o caseiro: “Não senhora o correio faz tempo que não vem. Aliás, dona Amélia verdade que acabou a guerra?”
“Qual guerra”? Quis saber a minha avó. “A grande guerra.” Disse o curioso caseiro.
“Olha compramos este peixe para o almoço de amanhã. Essa família vai dormir aqui e segue para Camburi também amanhã.”
“Sim senhora. E hoje vão jantar fora?” Naqueles bons tempos, jantar fora era jantar no quintal.
“Vó, eu estou com medo desse barulho”. Eu disse. “É só um lobisomem”. Falou o caseiro e minha avó:
“Vai assustar o Leozinho. Não é lobisomem não. São as onças e fecha a janela do quarto para não entrar índio bêbado”.
No dia seguinte a casa toda fedia o peixe fresco que sem geladeira parecia aeroporto de moscas. Mas eram bons aqueles tempos, os mosquitos à vontade, porque repelente não tinha.
Íamos à praia e passávamos óleo jonhson. Diz que era bom pra pele ficar vitaminada, trocava por uma nova.
“Já que o peixe estragou vamos ao mercadinho”. E lá íamos ao mercadinho, duas horas de carro pela lama. Sempre parávamos no Pingüim. Uma espécie de entreposto onde armazenavam galões de gasolina. Nesse fim de semana um incêndio havia ocorrido e empurramos o carro até o centro de São Sebastião.
Era realmente divertida essa época no litoral norte. Quando esquecíamos a sunga em São Paulo, nadávamos pelados. Era tudo uma alegria. Não havia o barulho do ar condicionado. Nem aparelhos de som. Nem gás para cozinhar.
Era tudo tão bucólico. Se ficasse doente, era enterrado lá mesmo.
Ah! Os bons tempos.
“É porque a balsa foi rápida, só oito horas de fila. E vai mais devagar Mário, já ta a 12 por hora!” Disse minha avó.
Foi quando vimos uma família de refugiados na praia de Boracéia, o pai deles gritava: “Pelo amor de Deus nos ajudem, nosso carro foi levado pela maré”. Eu, meus avós e meus dois irmãos nos apertamos na variant e os cinco novos passageiros entraram.
Ao chegarmos quase de madrugada os caseiros não estavam nos esperando e minha avó brava: “Vocês não receberam a carta que a gente vinha esse fim de semana?” E o caseiro: “Não senhora o correio faz tempo que não vem. Aliás, dona Amélia verdade que acabou a guerra?”
“Qual guerra”? Quis saber a minha avó. “A grande guerra.” Disse o curioso caseiro.
“Olha compramos este peixe para o almoço de amanhã. Essa família vai dormir aqui e segue para Camburi também amanhã.”
“Sim senhora. E hoje vão jantar fora?” Naqueles bons tempos, jantar fora era jantar no quintal.
“Vó, eu estou com medo desse barulho”. Eu disse. “É só um lobisomem”. Falou o caseiro e minha avó:
“Vai assustar o Leozinho. Não é lobisomem não. São as onças e fecha a janela do quarto para não entrar índio bêbado”.
No dia seguinte a casa toda fedia o peixe fresco que sem geladeira parecia aeroporto de moscas. Mas eram bons aqueles tempos, os mosquitos à vontade, porque repelente não tinha.
Íamos à praia e passávamos óleo jonhson. Diz que era bom pra pele ficar vitaminada, trocava por uma nova.
“Já que o peixe estragou vamos ao mercadinho”. E lá íamos ao mercadinho, duas horas de carro pela lama. Sempre parávamos no Pingüim. Uma espécie de entreposto onde armazenavam galões de gasolina. Nesse fim de semana um incêndio havia ocorrido e empurramos o carro até o centro de São Sebastião.
Era realmente divertida essa época no litoral norte. Quando esquecíamos a sunga em São Paulo, nadávamos pelados. Era tudo uma alegria. Não havia o barulho do ar condicionado. Nem aparelhos de som. Nem gás para cozinhar.
Era tudo tão bucólico. Se ficasse doente, era enterrado lá mesmo.
Ah! Os bons tempos.
Mister Colde e a mulher brasileira
Eu perguntei a ela: “O que vocês comem na Argentina”? E Martina respondeu: “Nada”. “Como nada”? Eu indaguei. E ela: “Olha para não mentir desde que eu cheguei a Juquehy, fiquei uma semana sem comer nada. Não resisti e no oitavo dia comi uma havannet. Depois fiquei mais uma semana sem comer de arrependimento”.
O leitor não deve estar entendendo. Explico, Martina é uma jovem e belíssima mulher de Buenos Aires. Ela está na nossa pousada e misses Colde ficou sua íntima.
Buenos Aires por sua vez é a segunda maior cidade do Brasil perdendo apenas para o Rio. Fica num reinado chamado Argentina. Deve ser algo como o nosso país de Galles, concluiu misses Colde.
Não só Martina é interessante, as outras mulheres brasileiras também o são. Enquanto pelo mundo se acredita erroneamente que o futebol é o esporte nacional do Brasil, eu alguns anos depois de Darwin descobri que é a prova do biquíni o esporte preferido aqui. Pelo menos pelas mulheres.
Este esporte consiste em provar de 20 a 40 biquínis por dia durante o verão. Depois elas andam a praia toda e voltam duas ou três vezes. Algumas mais empolgadas chegam a colocar o dedo na garganta e vomitar o almoço para um melhor desempenho.
Mas a campeã nacional nem Brasileira é. É uma franco-alemã de nome Gisele Budchen. Narigudinha e charmosa, ela deve ser muito boa, pois há fotos suas espalhadas por todas as cabines de prova de biquínis do Brasil.
Outra descoberta também me foi revelada por Martina. As mulheres após vestirem os biquínis mergulham numa feira de ciganos arrematando tudo de pulseiras, colares e brincos ordinários. Esses ciganos são chamados de hippies e Martina me garantiu que o verdadeiro nome deveria ser feirinha Argentina.
Eu desconfio que seja nostalgia das primeiras nativas as quais os Espanhóis erroneamente chamavam de índias, pois as bestas ibéricas acreditavam que aqui eram as Índias Britânicas.
Então isso é a mulher Brasileira? Perguntará o leitor.
Uma louca por acumular biquínis, perder peso, se depilar toda para parecer uma índia nativa? Não leitor.
A mulher Brasileira como toda mulher do mundo quer ser amada. Elas têm um andar diferente, um balanço, um sorriso... Quando dizem que as praias do Brasil são as mais lindas, não é só por conta do mar, da serra e o sol tropical. É por causa delas. Morenas, negras, ruivas, loiras, japonesas e índias. Sem elas não existiria bossa nova, nem samba, nem carnaval e muito menos futebol.
Se vocês querem a minha opinião britânica. O homem brasileiro não está à altura.
O leitor não deve estar entendendo. Explico, Martina é uma jovem e belíssima mulher de Buenos Aires. Ela está na nossa pousada e misses Colde ficou sua íntima.
Buenos Aires por sua vez é a segunda maior cidade do Brasil perdendo apenas para o Rio. Fica num reinado chamado Argentina. Deve ser algo como o nosso país de Galles, concluiu misses Colde.
Não só Martina é interessante, as outras mulheres brasileiras também o são. Enquanto pelo mundo se acredita erroneamente que o futebol é o esporte nacional do Brasil, eu alguns anos depois de Darwin descobri que é a prova do biquíni o esporte preferido aqui. Pelo menos pelas mulheres.
Este esporte consiste em provar de 20 a 40 biquínis por dia durante o verão. Depois elas andam a praia toda e voltam duas ou três vezes. Algumas mais empolgadas chegam a colocar o dedo na garganta e vomitar o almoço para um melhor desempenho.
Mas a campeã nacional nem Brasileira é. É uma franco-alemã de nome Gisele Budchen. Narigudinha e charmosa, ela deve ser muito boa, pois há fotos suas espalhadas por todas as cabines de prova de biquínis do Brasil.
Outra descoberta também me foi revelada por Martina. As mulheres após vestirem os biquínis mergulham numa feira de ciganos arrematando tudo de pulseiras, colares e brincos ordinários. Esses ciganos são chamados de hippies e Martina me garantiu que o verdadeiro nome deveria ser feirinha Argentina.
Eu desconfio que seja nostalgia das primeiras nativas as quais os Espanhóis erroneamente chamavam de índias, pois as bestas ibéricas acreditavam que aqui eram as Índias Britânicas.
Então isso é a mulher Brasileira? Perguntará o leitor.
Uma louca por acumular biquínis, perder peso, se depilar toda para parecer uma índia nativa? Não leitor.
A mulher Brasileira como toda mulher do mundo quer ser amada. Elas têm um andar diferente, um balanço, um sorriso... Quando dizem que as praias do Brasil são as mais lindas, não é só por conta do mar, da serra e o sol tropical. É por causa delas. Morenas, negras, ruivas, loiras, japonesas e índias. Sem elas não existiria bossa nova, nem samba, nem carnaval e muito menos futebol.
Se vocês querem a minha opinião britânica. O homem brasileiro não está à altura.
A bailarina de Degas
Quando o mestre Inglês nos diz que nunca houve história mais triste do que a de Julieta e Romeu, dentre algumas razões foi a de que eles nunca tomaram um café da manhã juntos.
Porque para mim a coisa mais romântica que há é tomar café da manhã a dois. Na madrugada é fácil se apaixonar, com meia garrafa de velho barreiro na cabeça então. Se não digo coisas lindas como Romeu na sacada, eu pelo menos tenho a impressão de está-las dizendo.
Na juventude já escalei quatro andares atrás de uma menina. Não dei sorte. Nem eu nem o vizinho do quarto andar dela, que ao abrir a janela me viu vomitando em cima dele mesmo. Errei por pouco, por seis andares já que ela morava no décimo.
Ultimamente, tomando café da manhã vendo o mar de Juquehy e dividindo a mesa com os meus sobrinhos que nesse horário almoçam, venho me lembrando dos meus cafés da manhã da infância. Nas férias em que eu desenhava a dois olhos e um sorriso na margarina imitando o comercial.
Na adolescência o café da manha desaparece. Lembro que eu realmente só acordava na segunda ou terceira aula, quando Daniela ou Bruna atravessavam a sala usando aquelas calças de moleton coladas. Eram um despertador que fazia sonhar.
Mas redescobrimos o café da manhã depois na vida adulta. Alguns a base de pizza fria, ressaca e coca-cola. Bem americano. Outros lindos como os de Paris, clichê mesmo. Croassant, ovo mexidos, suco de laranja, lendo Rolling Stones, ela me disse que me amava e não voltaria mais para o marido. Voltou.
Na cama, ou mesmo sozinho na padaria vendo casais chegarem depois de uma balada noturna de mãos dadas e óculos escuros.
E falando em padarias onde solitários como nós, tomamos café, ontem a caminho da padaria depois de ter comprado um jornal na banca eu ver um Ipê florido, achei que seria a visão mais linda do dia. Estava enganado.
Uma matéria do meu irmão empolgante sobre KGB, CIA. Depois uma do filho da Elis falando da Elis, que eu não entendi muito. Baixo o jornal, dou um gole de café. Quando de repente a vejo. No caixa. As batatas das pernas branquinhas numa saia azul, ela sorria e levantava uma perna enquanto a outra girava, tal qual uma bailarina de Degas.
Será que eu tampo o rosto e continuo a ler? Será que ela me viu? Bárbara, esse é o nome dela. Uma menina que eu conheci no Masp. Jantamos, andamos por praças e ruas, mas nunca tomamos café da manhã juntos. Ela nunca quis.
Será que eu a chamo? Será que não? Vou chamar. Vou chamar. Ela se vai antes que eu pronuncie Bárbara. O Ipê definitivamente não foi à visão mais linda do dia.
Romeu e Julieta acordam. Ele tem de ir embora. Ela diz que ainda é noite. Ele ouve a cotovia, ela diz que é a coruja. E ele pula a janela e ele vai. Sem croassant, sem ovos mexidos, sem café e sem jornal.
Nunca houve história tão triste como a de Julieta e seu amado Romeu.
Porque para mim a coisa mais romântica que há é tomar café da manhã a dois. Na madrugada é fácil se apaixonar, com meia garrafa de velho barreiro na cabeça então. Se não digo coisas lindas como Romeu na sacada, eu pelo menos tenho a impressão de está-las dizendo.
Na juventude já escalei quatro andares atrás de uma menina. Não dei sorte. Nem eu nem o vizinho do quarto andar dela, que ao abrir a janela me viu vomitando em cima dele mesmo. Errei por pouco, por seis andares já que ela morava no décimo.
Ultimamente, tomando café da manhã vendo o mar de Juquehy e dividindo a mesa com os meus sobrinhos que nesse horário almoçam, venho me lembrando dos meus cafés da manhã da infância. Nas férias em que eu desenhava a dois olhos e um sorriso na margarina imitando o comercial.
Na adolescência o café da manha desaparece. Lembro que eu realmente só acordava na segunda ou terceira aula, quando Daniela ou Bruna atravessavam a sala usando aquelas calças de moleton coladas. Eram um despertador que fazia sonhar.
Mas redescobrimos o café da manhã depois na vida adulta. Alguns a base de pizza fria, ressaca e coca-cola. Bem americano. Outros lindos como os de Paris, clichê mesmo. Croassant, ovo mexidos, suco de laranja, lendo Rolling Stones, ela me disse que me amava e não voltaria mais para o marido. Voltou.
Na cama, ou mesmo sozinho na padaria vendo casais chegarem depois de uma balada noturna de mãos dadas e óculos escuros.
E falando em padarias onde solitários como nós, tomamos café, ontem a caminho da padaria depois de ter comprado um jornal na banca eu ver um Ipê florido, achei que seria a visão mais linda do dia. Estava enganado.
Uma matéria do meu irmão empolgante sobre KGB, CIA. Depois uma do filho da Elis falando da Elis, que eu não entendi muito. Baixo o jornal, dou um gole de café. Quando de repente a vejo. No caixa. As batatas das pernas branquinhas numa saia azul, ela sorria e levantava uma perna enquanto a outra girava, tal qual uma bailarina de Degas.
Será que eu tampo o rosto e continuo a ler? Será que ela me viu? Bárbara, esse é o nome dela. Uma menina que eu conheci no Masp. Jantamos, andamos por praças e ruas, mas nunca tomamos café da manhã juntos. Ela nunca quis.
Será que eu a chamo? Será que não? Vou chamar. Vou chamar. Ela se vai antes que eu pronuncie Bárbara. O Ipê definitivamente não foi à visão mais linda do dia.
Romeu e Julieta acordam. Ele tem de ir embora. Ela diz que ainda é noite. Ele ouve a cotovia, ela diz que é a coruja. E ele pula a janela e ele vai. Sem croassant, sem ovos mexidos, sem café e sem jornal.
Nunca houve história tão triste como a de Julieta e seu amado Romeu.
Mister Colde
Olá o meu nome é Mister Colde. Sou crítico profissional. Especializado em gastronomia. Venho de uma pequena cidade próxima a Londres chamada Pertum. Adoro o significado das palavras. É um hobby que eu tenho.
Londres significa em latim longe de Roma. Já Pertum, significa perto de Londres. Ou seja, a minha cidade é literalmente traduzida em: “Perto de longe de Roma”.
Eu e misses Colde estamos de viagem a trabalho no Brasil. Num lugar chamado Litoral Norte. Fiquei surpreso em saber que alguns nomes daqui não vêm do português. Português por sua vez é uma língua falada na Espanha, mas aqui graças a Deus, alguns nativos falam Inglês.
Vejam só que curioso são os nomes de lugares e praias daqui: Juquehy, é uma praia que dizem ter sido batizada por Fernão de Magalhães, navegador espanhol, que estava a caminho do seu estreito. Ao passar de caravela por aqui viu Janaína, uma indiazinha de Cuiabá que passava férias com a família.
Fernão deslumbrado mandou o piloto parar e desceu em Juquehy. Atrás de Janaína. Ele notou que uma música era tocada em algum lugar. Perguntou a índia Janaína de onde vinha o som. Ela, enjoada que era, para despistá-lo, disse que a música vinha da areia.
Logo Fernão para agradar a nativa batizou a praia com o nome de Juquehy. Que em sueco, sim sueco porque Fernão era sueco de parte de mãe, quer dizer “Areias cantantes”. Curiosamente em maconhes é o mesmo nome.
E Fernão encantado com a região decidiu parar lá todas as vezes que saia de férias para o seu estreito.
São dele também os nomes: Barra do Sahy (barra da água), Barra do Una (barra do preto), Camburi (rio que muda), Boiçucanga (cobra da cabeça grande). Já praia das conchas diz à lenda que piratas esconderam um tesouro nela, nas pedras da lateral da praia e para disfarçar encheram o local com conchas.
Já um jovem jornalista uma vez me contou uma história em Nova York, sobre um garoto chamado Juliano que queria ter ido à praia e a família não o levou. Logo seria: “Ju quer ir”. “Juquehy”. É muita imaginação.
Enfim já provei o Guaraná, a água de coco, a caipirinha e a noite eu vou a um restaurante local saber o quanto exótica é a gastronomia nativa. Porque nós Ingleses, vocês sabem, somos os melhores do mundo em matéria de gastronomia, nós temos tradição.
Aguardem as críticas. Oh my gosh! Misses colde está fazendo top-less. Maldita caipirinha!
Londres significa em latim longe de Roma. Já Pertum, significa perto de Londres. Ou seja, a minha cidade é literalmente traduzida em: “Perto de longe de Roma”.
Eu e misses Colde estamos de viagem a trabalho no Brasil. Num lugar chamado Litoral Norte. Fiquei surpreso em saber que alguns nomes daqui não vêm do português. Português por sua vez é uma língua falada na Espanha, mas aqui graças a Deus, alguns nativos falam Inglês.
Vejam só que curioso são os nomes de lugares e praias daqui: Juquehy, é uma praia que dizem ter sido batizada por Fernão de Magalhães, navegador espanhol, que estava a caminho do seu estreito. Ao passar de caravela por aqui viu Janaína, uma indiazinha de Cuiabá que passava férias com a família.
Fernão deslumbrado mandou o piloto parar e desceu em Juquehy. Atrás de Janaína. Ele notou que uma música era tocada em algum lugar. Perguntou a índia Janaína de onde vinha o som. Ela, enjoada que era, para despistá-lo, disse que a música vinha da areia.
Logo Fernão para agradar a nativa batizou a praia com o nome de Juquehy. Que em sueco, sim sueco porque Fernão era sueco de parte de mãe, quer dizer “Areias cantantes”. Curiosamente em maconhes é o mesmo nome.
E Fernão encantado com a região decidiu parar lá todas as vezes que saia de férias para o seu estreito.
São dele também os nomes: Barra do Sahy (barra da água), Barra do Una (barra do preto), Camburi (rio que muda), Boiçucanga (cobra da cabeça grande). Já praia das conchas diz à lenda que piratas esconderam um tesouro nela, nas pedras da lateral da praia e para disfarçar encheram o local com conchas.
Já um jovem jornalista uma vez me contou uma história em Nova York, sobre um garoto chamado Juliano que queria ter ido à praia e a família não o levou. Logo seria: “Ju quer ir”. “Juquehy”. É muita imaginação.
Enfim já provei o Guaraná, a água de coco, a caipirinha e a noite eu vou a um restaurante local saber o quanto exótica é a gastronomia nativa. Porque nós Ingleses, vocês sabem, somos os melhores do mundo em matéria de gastronomia, nós temos tradição.
Aguardem as críticas. Oh my gosh! Misses colde está fazendo top-less. Maldita caipirinha!
Cara de boy
Desocupada leitora, você imagina o tempo que nós homens gastamos nos vestindo para um primeiro encontro? Digo quando realmente estamos muito interessados na moça em questão? Quase sempre elas perguntam ainda pelo celular: “Que roupa eu visto”? O que eu posso responder? Eu nem sei qual eu visto.
Abro o armário, olho aquele monte de roupas bagunçadas. Porque minhas camisetas teimam em se misturar com as bermudas e malhas? As calças com as camisas? E depois de muito revirar, nos damos conta de que a roupa que queremos vestir ou é antiga, ou está suja.
Enfim a vida toda eu quis fazer um tipo descolado, meio mau, rebelde. Alguém que seduzisse as mulheres e apavorasse os homens. Coloco uma roupa me olho no espelho. Troco à calça. Tudo pronto. Resolvo mudar de novo. E que sapato eu vou?
Mas toda a vida, minhas escolhas são interpretadas como coisa de boy. Explico, meu prato preferido é qualquer comida de boteco, picadinho, feijoada... Bebida? Cachaça. Time? Corinthians. Mas dizem: “É o boy querendo ser cachaceiro”. “É o boy querendo ser corintiano”. Se colocar uma regata bem cafona e um chinelo, lá vem alguém: “Olha o boy querendo usar regata e chinelo de boy”. Uma vez comprei um fusca bem velho e pensei quero ver alguém falar alguma coisa agora. E disseram: “Olha o boy agora andando de fusca”.
Passei a ouvir samba. E então: “Olha o boy ouvindo Samba”.
Se colocar roupa larga, é o boy de roupa larga. Se colocar roupa apertada é o boy de roupa apertada. Se sair de ônibus para buscar a menina, dirão: “Olha o boy fazendo tipo”.
Quanto mais me esforço para parecer outra coisa, mais caio no mesmo lugar. “Olha o boy querendo ser outra coisa”. “Esses óculos é coisa de boy”. “Natação é coisa de boy”. “Regime é coisa de boy”. “Gordo é boy”. “Está magro porque é boy”. “Pensa isso porque é boy”. “É boy por isso pensa isso”.
Foi então que eu tive o ímpeto de assumir o estereotipo. Comprei um carro alemão. Mandei blindar. Roupa no Ermenegildo. Convidei a menina mais boy que eu conheço do facebook para ir ao Fasano jantar. Expliquei a situação pra ela: “Nós vamos, na minha Mercedes jantar no Fasano. Ok?” E ela: “Você está achando que eu sou alguma puta”? Respondi que não, que a achava uma princesa. E que ela deveria ser bem tratada, mas se ela quisesse, nós poderíamos ir ao teatro na Praça Roosevelt. “Adoro teatro ela disse”. E depois mencionei que podíamos jantar na mercearia São Pedro da vila madalena. A qual ela disse que freqüentava.
Bem tirei meu fusca da garagem, os seguranças da casa dela acharam à coisa mais normal do mundo. Eu de casaco de exército americano, calça rasgada e ela vestida como neo-hippie. Acabamos no samba do Ó do borogodó, tomando caldinho de feijão e cerveja de garrafa. Foi à noite mais boy de anos. Agora ela quer me levar num lugar que as amigas que moram em Paris descobriram. É em São Miguel Paulista. Ela disse que é chiquetérrimo.
Abro o armário, olho aquele monte de roupas bagunçadas. Porque minhas camisetas teimam em se misturar com as bermudas e malhas? As calças com as camisas? E depois de muito revirar, nos damos conta de que a roupa que queremos vestir ou é antiga, ou está suja.
Enfim a vida toda eu quis fazer um tipo descolado, meio mau, rebelde. Alguém que seduzisse as mulheres e apavorasse os homens. Coloco uma roupa me olho no espelho. Troco à calça. Tudo pronto. Resolvo mudar de novo. E que sapato eu vou?
Mas toda a vida, minhas escolhas são interpretadas como coisa de boy. Explico, meu prato preferido é qualquer comida de boteco, picadinho, feijoada... Bebida? Cachaça. Time? Corinthians. Mas dizem: “É o boy querendo ser cachaceiro”. “É o boy querendo ser corintiano”. Se colocar uma regata bem cafona e um chinelo, lá vem alguém: “Olha o boy querendo usar regata e chinelo de boy”. Uma vez comprei um fusca bem velho e pensei quero ver alguém falar alguma coisa agora. E disseram: “Olha o boy agora andando de fusca”.
Passei a ouvir samba. E então: “Olha o boy ouvindo Samba”.
Se colocar roupa larga, é o boy de roupa larga. Se colocar roupa apertada é o boy de roupa apertada. Se sair de ônibus para buscar a menina, dirão: “Olha o boy fazendo tipo”.
Quanto mais me esforço para parecer outra coisa, mais caio no mesmo lugar. “Olha o boy querendo ser outra coisa”. “Esses óculos é coisa de boy”. “Natação é coisa de boy”. “Regime é coisa de boy”. “Gordo é boy”. “Está magro porque é boy”. “Pensa isso porque é boy”. “É boy por isso pensa isso”.
Foi então que eu tive o ímpeto de assumir o estereotipo. Comprei um carro alemão. Mandei blindar. Roupa no Ermenegildo. Convidei a menina mais boy que eu conheço do facebook para ir ao Fasano jantar. Expliquei a situação pra ela: “Nós vamos, na minha Mercedes jantar no Fasano. Ok?” E ela: “Você está achando que eu sou alguma puta”? Respondi que não, que a achava uma princesa. E que ela deveria ser bem tratada, mas se ela quisesse, nós poderíamos ir ao teatro na Praça Roosevelt. “Adoro teatro ela disse”. E depois mencionei que podíamos jantar na mercearia São Pedro da vila madalena. A qual ela disse que freqüentava.
Bem tirei meu fusca da garagem, os seguranças da casa dela acharam à coisa mais normal do mundo. Eu de casaco de exército americano, calça rasgada e ela vestida como neo-hippie. Acabamos no samba do Ó do borogodó, tomando caldinho de feijão e cerveja de garrafa. Foi à noite mais boy de anos. Agora ela quer me levar num lugar que as amigas que moram em Paris descobriram. É em São Miguel Paulista. Ela disse que é chiquetérrimo.
Cara de boy
Desocupada leitora, você imagina o tempo que nós homens gastamos nos vestindo para um primeiro encontro? Digo quando realmente estamos muito interessados na moça em questão? Quase sempre elas perguntam ainda pelo celular: “Que roupa eu visto”? O que eu posso responder? Eu nem sei qual eu visto.
Abro o armário, olho aquele monte de roupas bagunçadas. Porque minhas camisetas teimam em se misturar com as bermudas e malhas? As calças com as camisas? E depois de muito revirar, nos damos conta de que a roupa que queremos vestir ou é antiga, ou está suja.
Enfim a vida toda eu quis fazer um tipo descolado, meio mau, rebelde. Alguém que seduzisse as mulheres e apavorasse os homens. Coloco uma roupa me olho no espelho. Troco à calça. Tudo pronto. Resolvo mudar de novo. E que sapato eu vou?
Mas toda a vida, minhas escolhas são interpretadas como coisa de boy. Explico, meu prato preferido é qualquer comida de boteco, picadinho, feijoada... Bebida? Cachaça. Time? Corinthians. Mas dizem: “É o boy querendo ser cachaceiro”. “É o boy querendo ser corintiano”. Se colocar uma regata bem cafona e um chinelo, lá vem alguém: “Olha o boy querendo usar regata e chinelo de boy”. Uma vez comprei um fusca bem velho e pensei quero ver alguém falar alguma coisa agora. E disseram: “Olha o boy andando de fusca”.
Passei a ouvir samba. E então: “Olha o boy ouvindo Samba”.
Se colocar roupa larga, é o boy de roupa larga. Se colocar roupa apertada é o boy de roupa apertada. Se sair de ônibus para buscar a menina, dirão: “Olha o boy fazendo tipo”.
Quanto mais me esforço para parecer outra coisa, mais caio no mesmo lugar. “Olha o boy querendo ser outra coisa”. “Esses óculos é coisa de boy”. “Natação é coisa de boy”. “Regime é coisa de boy”. “Gordo é boy”. “Está magro porque é boy”. “Pensa isso porque é boy”. “É boy por isso pensa isso”.
Foi então que eu tive o ímpeto de assumir o estereotipo. Comprei um carro alemão. Mandei blindar. Roupa no Ermenegildo. Convidei a menina mais boy que eu conheço do facebook para ir ao Fasano jantar. Expliquei a situação pra ela: “Nós vamos, na minha Mercedes jantar no Fasano. Ok?” E ela: “Você está achando que eu sou alguma puta”? Respondi que não, que a achava uma princesa. E que ela deveria ser bem tratada, mas se ela quisesse, nós poderíamos ir ao teatro na Praça Roosevelt. “Adoro teatro ela disse”. E depois mencionei que podíamos jantar na mercearia São Pedro da vila madalena. A qual ela disse que freqüentava.
Bem tirei meu fusca da garagem, os seguranças da casa dela acharam à coisa mais normal do mundo. Eu de casaco de exército americano, calça rasgada e ela vestida como neo-hippie. Acabamos no samba do Ó do borogodó, tomando caldinho de feijão e cerveja de garrafa. Foi à noite mais boy de anos. Agora ela quer me levar num lugar que as amigas que moram em Paris descobriram. É em São Miguel Paulista. Ela disse que é chiquetérrimo.
Abro o armário, olho aquele monte de roupas bagunçadas. Porque minhas camisetas teimam em se misturar com as bermudas e malhas? As calças com as camisas? E depois de muito revirar, nos damos conta de que a roupa que queremos vestir ou é antiga, ou está suja.
Enfim a vida toda eu quis fazer um tipo descolado, meio mau, rebelde. Alguém que seduzisse as mulheres e apavorasse os homens. Coloco uma roupa me olho no espelho. Troco à calça. Tudo pronto. Resolvo mudar de novo. E que sapato eu vou?
Mas toda a vida, minhas escolhas são interpretadas como coisa de boy. Explico, meu prato preferido é qualquer comida de boteco, picadinho, feijoada... Bebida? Cachaça. Time? Corinthians. Mas dizem: “É o boy querendo ser cachaceiro”. “É o boy querendo ser corintiano”. Se colocar uma regata bem cafona e um chinelo, lá vem alguém: “Olha o boy querendo usar regata e chinelo de boy”. Uma vez comprei um fusca bem velho e pensei quero ver alguém falar alguma coisa agora. E disseram: “Olha o boy andando de fusca”.
Passei a ouvir samba. E então: “Olha o boy ouvindo Samba”.
Se colocar roupa larga, é o boy de roupa larga. Se colocar roupa apertada é o boy de roupa apertada. Se sair de ônibus para buscar a menina, dirão: “Olha o boy fazendo tipo”.
Quanto mais me esforço para parecer outra coisa, mais caio no mesmo lugar. “Olha o boy querendo ser outra coisa”. “Esses óculos é coisa de boy”. “Natação é coisa de boy”. “Regime é coisa de boy”. “Gordo é boy”. “Está magro porque é boy”. “Pensa isso porque é boy”. “É boy por isso pensa isso”.
Foi então que eu tive o ímpeto de assumir o estereotipo. Comprei um carro alemão. Mandei blindar. Roupa no Ermenegildo. Convidei a menina mais boy que eu conheço do facebook para ir ao Fasano jantar. Expliquei a situação pra ela: “Nós vamos, na minha Mercedes jantar no Fasano. Ok?” E ela: “Você está achando que eu sou alguma puta”? Respondi que não, que a achava uma princesa. E que ela deveria ser bem tratada, mas se ela quisesse, nós poderíamos ir ao teatro na Praça Roosevelt. “Adoro teatro ela disse”. E depois mencionei que podíamos jantar na mercearia São Pedro da vila madalena. A qual ela disse que freqüentava.
Bem tirei meu fusca da garagem, os seguranças da casa dela acharam à coisa mais normal do mundo. Eu de casaco de exército americano, calça rasgada e ela vestida como neo-hippie. Acabamos no samba do Ó do borogodó, tomando caldinho de feijão e cerveja de garrafa. Foi à noite mais boy de anos. Agora ela quer me levar num lugar que as amigas que moram em Paris descobriram. É em São Miguel Paulista. Ela disse que é chiquetérrimo.
Do salão
Já dizia Paulo Autran, que mesa com mais de cinco pessoas não presta não. Eu quando chego a um compromisso e vejo uma mesona com dezenas de pessoas penso que se não seria melhor nós ficarmos todos de pé. Acaba que não invariavelmente eu fico ao lado de pessoas ou que mal conheço ou que não suporto.
Mas outro dia sentei ao lado de uma gata elegante e jovem numa dessas mesas. Ela mesma foi puxando papo, me disse que era chefe de cozinha, me mostrou suas tatuagens de panelinha e colherinha, chegou até... Acreditem, chegou a pegar na minha mão. Eu que nessas horas começo a agradecer São Jorge, estava crente ter ganhado na loteria. Foi quando o namorado, marido, dono da menina, vindo não sei de onde, me apertou a outra mão. Uma amiga que presenciou a cena disse que eu mudei de cor. Não só de cor, de lugar também.
Acabei do lado de uma gringa, que trabalhava numa multinacional dessas de celulares, sei lá eu qual, sei lá se a gordinha era afinal americana, porto-riquenha, sapatona- caminhoneira, hetero, só sei que falava. Falava. Falava em inglês, português, espanhol. Deu cartão, bebemos e acordamos num motel. Razão tinha Paulo Autran.
Agora eu admiro quem entra num restaurante sozinho. Aliás, eu vou muito a restaurantes, sozinho. Afinal sou solteiro e cada vez mais longe de sair dessa situação, vide o caso real da gordinha acima. E a outra magrinha? Que tatuagens. Ah! E cheff de cozinha ainda por cima, mesmo porque se cozinhasse mal, nem tinha importância. Mas claro casada à desgraçada.
Voltando o bom de ir a restaurantes só, é que os funcionários do restaurante já sabem seu nome, você já sabe, aquele garçom ali é evangélico ex alcoólatra, claro. O outro faz carteira de estudante falsificada. Aquela ali, aquela ali mesmo a hostess. Já dei em cima umas vinte vezes, só sorri. Encontrei um dia na balada e nada. Agora sorri mais ainda.
Inclusive a minha melhor refeição da vida foi sozinho. Sim. Lá pelos idos dos anos noventa do século passado. A aventura foi a seguinte. Tinha eu meus vinte anos de idade. Estava num trem indo de Paris a Barcelona. Ninguém no mundo sabia aonde eu me encontrava. Lia o livro: “Chato o rei do Brasil”. O vagão restaurante praticamente vazio. Por do sol, já em terras espanholas. Para minha surpresa eu e o garçom nos entendíamos perfeitamente. Pensei devo ser um gênio para línguas, pois faz pouco mais de uma hora que estou na Catalunha e já falo catalão. Precisava ter certeza da proeza. Então perguntei ao Garçom:
“Nos otros estamos falando catalão”? Sim porque podia ser um espanhol. Mas havia algo de diferente na língua e eu a estava a compreendendo tão bem. Ele, o Garçom, me respondeu:
“Não. É português mesmo. Morei oito anos em Salvador.”
Enfim, fechei o livro. Tomei vinho espanhol. Olhei o por do sol na janela. E vi. O fidalgo Dom Quixote, montado no seu Rocinante, seguido por Sancho Pança numa mula.
Foi a melhor refeição da minha vida. Sozinho, com vinte anos, num trem nas montanhas do litoral da Catalunha, vendo o por do sol. Qual foi o cardápio?
Juro que não lembro. Só lembro daquele cara com vinte anos sem responsabilidade nenhuma, sem traumas, sem conhecimento nenhum de vinhos e que a única preocupação era a de falar em Catalão. Vale!
Mas outro dia sentei ao lado de uma gata elegante e jovem numa dessas mesas. Ela mesma foi puxando papo, me disse que era chefe de cozinha, me mostrou suas tatuagens de panelinha e colherinha, chegou até... Acreditem, chegou a pegar na minha mão. Eu que nessas horas começo a agradecer São Jorge, estava crente ter ganhado na loteria. Foi quando o namorado, marido, dono da menina, vindo não sei de onde, me apertou a outra mão. Uma amiga que presenciou a cena disse que eu mudei de cor. Não só de cor, de lugar também.
Acabei do lado de uma gringa, que trabalhava numa multinacional dessas de celulares, sei lá eu qual, sei lá se a gordinha era afinal americana, porto-riquenha, sapatona- caminhoneira, hetero, só sei que falava. Falava. Falava em inglês, português, espanhol. Deu cartão, bebemos e acordamos num motel. Razão tinha Paulo Autran.
Agora eu admiro quem entra num restaurante sozinho. Aliás, eu vou muito a restaurantes, sozinho. Afinal sou solteiro e cada vez mais longe de sair dessa situação, vide o caso real da gordinha acima. E a outra magrinha? Que tatuagens. Ah! E cheff de cozinha ainda por cima, mesmo porque se cozinhasse mal, nem tinha importância. Mas claro casada à desgraçada.
Voltando o bom de ir a restaurantes só, é que os funcionários do restaurante já sabem seu nome, você já sabe, aquele garçom ali é evangélico ex alcoólatra, claro. O outro faz carteira de estudante falsificada. Aquela ali, aquela ali mesmo a hostess. Já dei em cima umas vinte vezes, só sorri. Encontrei um dia na balada e nada. Agora sorri mais ainda.
Inclusive a minha melhor refeição da vida foi sozinho. Sim. Lá pelos idos dos anos noventa do século passado. A aventura foi a seguinte. Tinha eu meus vinte anos de idade. Estava num trem indo de Paris a Barcelona. Ninguém no mundo sabia aonde eu me encontrava. Lia o livro: “Chato o rei do Brasil”. O vagão restaurante praticamente vazio. Por do sol, já em terras espanholas. Para minha surpresa eu e o garçom nos entendíamos perfeitamente. Pensei devo ser um gênio para línguas, pois faz pouco mais de uma hora que estou na Catalunha e já falo catalão. Precisava ter certeza da proeza. Então perguntei ao Garçom:
“Nos otros estamos falando catalão”? Sim porque podia ser um espanhol. Mas havia algo de diferente na língua e eu a estava a compreendendo tão bem. Ele, o Garçom, me respondeu:
“Não. É português mesmo. Morei oito anos em Salvador.”
Enfim, fechei o livro. Tomei vinho espanhol. Olhei o por do sol na janela. E vi. O fidalgo Dom Quixote, montado no seu Rocinante, seguido por Sancho Pança numa mula.
Foi a melhor refeição da minha vida. Sozinho, com vinte anos, num trem nas montanhas do litoral da Catalunha, vendo o por do sol. Qual foi o cardápio?
Juro que não lembro. Só lembro daquele cara com vinte anos sem responsabilidade nenhuma, sem traumas, sem conhecimento nenhum de vinhos e que a única preocupação era a de falar em Catalão. Vale!
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