Dez anos depois, tudo fica tão óbvio.
Rubens já estava na mesa sozinho esperando há uns quinze minutos. Quando viu o Delegado Fiúza entrar. Era hora do almoço e o lugar estava cheio. Fiúza não teve dificuldade em identificar Rubens. O delegado era um homem forte não muito alto por volta de cinqüenta anos. Ele não era nem muito simpático, nem muito agressivo. Mas passava a imagem de um policial, ou engenheiro, ou até quem sabe um comerciante. Vestia jeans, sapato e camisa social.
-Então o que você quer saber? Você falou sobre um livro?
Rubens explicou então que se demitira do excelente emprego que tinha em uma grande empresa. Disse ao delegado que a família da sua esposa Carla era muito rica e a sua própria também. Logo ele ainda dispunha de algum tempo livre para um livro. Um intervalo até decidir o que iria fazer no futuro.
-Sociólogo.
O delegado confessou que chegou a cogitar uma faculdade de sociologia. Enfim, há muitos anos ninguém o procurava para falar do caso Gabriela Chavez. Fora o caso em que ele mais se empenhara e nunca mais seu nome saiu tanto na mídia depois daquilo. Seu maior desejo na época era resolver o mistério. Empenhou-se ao máximo. Lembrou até de Rubens e Carla. Mas a vida continua novos casos vieram e esse fora arquivado.
Depois de muito falarem Rubens chegou ao ponto:
-Delegado, é verdade que os três irmãos mais velhos de Gabriela eram os maiores suspeitos?
Para a surpresa de Rubens, Fiúza disse que nunca suspeitou de nenhum dos irmãos. Mas Rubens insistiu e perguntou o que na época rondava todos os ouvidos. Gabriela tinha um caso com o namorado de seu irmão Guilherme. Sabia que Jéssica, namorada de Duda esperava um filho e que Duda não queria que isso viesse a público. Sendo que a única pessoa que sabia da gravidez fora Duda era Gabriela.
Fiúza interropeu. Disse que aqueles fatos não caracterizavam motivo nenhum.
-Essa menina foi uma vítima, mas ela era um demônio libidinoso. Seduziu quem quis homens e mulheres.
-Até o irmão o senhor diz?
-Se você Rubens se refere ao caso entre os jovens Cristiano Chavez e Gabriela Chavez, saiba que eles nunca foram irmãos.
Aquilo assustou Rubens. A revelação o pegou de surpresa. Por outro lado sua teoria agora ganhava mais força.
-E sobre os álibis? Nenhum dos irmãos tinha um álibi.
-Rubens, na época segredos não foram expostos publicamente. Cristiano estava no quarto dormindo. Um quarto no mesmo apartamento em que Gabriela foi assassinada. Na mesma noite.
Rubens olhou pela janela a garoa fina lá fora. Fiúza cortava o bife. Rubens não teve mais dúvidas se ele cruzasse as informações com o delegado Fiúza o mistério estaria desvendado. Provavelmente naquela mesma tarde. E aquilo não o deixava feliz, muito pelo contrário.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Capítulo 12- Os irmãos Chavez
Aventura
De dia o local é um sacolão e à noite se transforma em um enorme e interessante restaurante japonês que mais lembra o bairro da Liberdade e o Mercado Municipal, misturados à essência boemia da Vila Madalena.
Rubens e Beto foram para o tudo ou nada.
— Você não faz PUC? — perguntou Beto, e como ele nem sabia direito para qual das três se dirigir, as três não souberam tão pouco para quem era a pergunta.
— Eu faço.
Foi o que respondeu a terceira.
— Então é de lá.
— De lá o que?
As três que antes fizeram cara feia por serem interrompidas no papo onde resolveriam o que fariam no próximo feriado, agora depois do “então é de lá”, tiveram crise de risos, o que as deixou muito antipáticas.
Os dois deram sorte, pois a mais feinha das três consentiu que os dois sentassem. Logo o trio e a dupla tornou-se uma agradável mesa de cinco.
Beto disparou a falar. Rubens estava um tanto inseguro e constrangido, só observando calado. Beto quis saber o que elas faziam, mas antes que as meninas entre goles de saquê respondessem, ele já declarou em bom tom que o amigo era sociólogo da USP, veja bem: USP, com maiúscula. As três se impressionaram com o tímido. Talvez ele realmente fosse um intelectual e as estava desprezando, quem sabe?
Na empolgação Beto não escondeu seu entusiasmo por Freud e soltou:
— Já leram o mal estar na civilização? Novamente Beto errou feio. As três eram estudantes de psico e o que alguém acharia pedante e cômico como Rubens achou, para elas soou ofensivo. Como se ele estivesse brincando com algo sagrado sem ritual ou iniciação. Bola fora! Tudo bem, fora uma vitória, ao menos conseguiram sentar-se à mesa das três.
Rubens percebeu que o amigo ia afundar e tentou impedir o nocaute.
— Vocês estavam combinando o feriado? Faz um ano nesse feriado que eu e o Beto preparamos uma super festa com vinho, fondue, queijos. Foi à gente mesmo que fez. Convidamos uma turminha e várias gatas. O resultado do investimento foi que as gatas levaram os cachorros e nós dois sobramos tomando vinho e vendo os outros se beijarem.
As três agora se arrependiam muito de tê-los chamado para a mesma mesa. Não há mal nenhum em bater papo sem compromisso, porém as estudantes de psico não se entusiasmavam com o drama dos dois perdedores. Mas qual não foi o espanto dos cinco ao ouvirem:
— Rubens! Venha sentar com a gente.
Era com certeza a menina mais linda que elas já haviam visto. Seu nome? Gabriela Chavez. Lógico!
Neste momento a cotação dos dois subiu a mil por cento e as três psico, quer dizer, estudantes, permaneciam com os queixos caídos.
Beto mal pode crer que não era sonho. De uma mesa com três meras desconhecidas e sem importância fora agora sentar-se com a famosa Gabriela Chavez, a gata mais cobiçada de São Paulo.
Quando o amigo lhe contou que havia estado na ilha dos Chavez, ele desconfiou, porém sentia orgulho de Rubens e se esbaldava em ver as três psico tentando disfarçar a curiosidade do que agora rolava ali naquela mesa de celebridades formadas por Flavinha, Pedro Paulo, a Chavez e Rubens.
Enquanto Pedro Paulo expunha seus comentários sobre o lugar, Rubens se indagava onde estariam Carla e Ícaro.
— São tempos de esquerda, esses nossos. Este lugar é a própria tradução do militantismo descolado paulistano. Que apesar de não me fascinar tanto, posso dizer que é realmente um ambiente genuinamente latino-americano.
— Como assim? Desenvolva. — Pediu Beto.
— Ora, até os lugares ditos GLS são colonizados. Ainda não se firmou a figura do bissexual latino-americano. Hoje os gays têm hábitos nórdicos.
— Talvez exista uma necessidade de a comunidade gay mundial ser uma unidade e tornar a minoria mais forte. — Foi o que Gabriela disse.
— Onde está Ícaro? — Perguntou Rubens à Gabi.
— Saiu com a gelara do circo.
---E a Carla, onde foi?
Rubens percebeu que algo não cheirava bem e por isso desviou o assunto.
Despediam-se os cinco e Gabriela disse a Pedro Paulo que levaria Flavinha em casa. Beto assustou-se quando num surto, ao caminharem em direção ao carro Rubens lhe pedisse que fosse rápido. Deram três reais ao guardador de carro.
— Vai logo, vamos segui-la.
— Quem?
— Gabriela Chavez.
— Por quê?
— No caminho eu te falo. Olha lá o valet entregando a Cherokee preta e elas entrando. Vai!
Rubens estranhou a calma de Gabriela em relação ao seu namorado sumir e a sua melhor amiga também. Percebeu que Gabriela recebera uma ligação e quando Flavinha e Pedro Paulo que viram a amiga sorrir e falar baixinho, indagaram-na de quem era e ela disse: “Meu irmão”, sem explicar qual deles. O nosso detetive pensou: “tem coisa errada aí”. Fora Gabriela quem pedira a conta e estava ansiosa para quem disse que iria dormir. Não dizer o que levou Rubens a essa excitação; se realmente a curiosidade de saber o que uma deusa como Gabriela apronta por aí, o que aliás milhões de seres têm, vide os paparazzi, ou a relação que talvez isso tivesse com a sua amada Carla.
Gabriela deixou Flavinha em sua casa, naquele prédio na Cidade Jardim onde teve a festa de Flavinha no início da história, o primeiro beijo de Ícaro e coisa e tal. Seguiu pela Augusta e o carro sempre atrás da Cherokee.
— Tem certeza que ela não virou na Brasil?
— Absoluta!
Os dois estranharam muito que Gabriela permanecesse na Rua Augusta. Então, quando ela cruzou a Paulista os dois se deliciaram. “Vamos realmente ter aventura hoje à noite”, foi o quem pensaram.
A Cherokee passou pelo Anhangabaú, contornou a Praça da Sé e foi estacionar em um banco financeiro no largo de São Bento.
Eu sei leitor, que não é horário comercial, logo, o que ela estaria fazendo lá? É que agora é costume fazer festas no centro de São Paulo. Os dois pararam na própria rua. A música que vinha de um pequeno prédio de cinco andares no calçadão era animada. A Chavez misturou-se com um grupo que estava chegando e subiu as escadas com outras meninas que se vestiam no estilo dito “retro”.
O prédio com certeza era da década de quarenta e possuía um elevador desses de grade que se fecha manualmente.
Permaneceram em um local mais escuro observando a Chavez que dançava com alguns meninos. Ela dirigiu-se até a outra extremidade do andar onde havia um bar com as antigas enormes janelas abertas para o centro da metrópole e as estrelas. Enquanto pegavam cervejas Gabriela passou bem perto deles muito apressada, mas por sorte não os viu. Correram para o carro e puderam ver a Cherokee saindo. Dessa vez não era Gabriela que dirigia e sim um homem com um gorrinho azul.
A Cherokee deu muitas voltas até parar em um posto de gasolina com loja de conveniência vinte e quatro horas. Os dois desligaram o farol e estacionaram o carro na outra extremidade do posto fingindo verificar os pneus. Gabriela permaneceu no carro e a pessoa que dirigia desceu para comprar cigarros, agora sem o gorro; era um menino muito bonito, de cabelos loiros lisos e brilhantes.
Foi tudo muito rápido e quando Giovanni e Gabriela iam saindo Rubens e Beto... Sim, leitor, com certeza era Giovanni.
Rubens ia fechar a porta do carro, mas sentiu uma mão em seu ombro e viu um homem com olhos sofridos fingindo sorrir:
— Você por aqui, Rubens?
Pronto, não dava mais tempo. A Cherokee sumira e os dois detetives foram tomar uma cerveja com Guilherme Chavez na loja de conveniência. Nenhum dos três mencionou a Cherokee e seus ocupantes e eles fingiram ser apenas uma coincidência. Um encontro casual nessa enorme cidade. E foi só conversa jogada fora. Depois de se despedirem, Beto, que conduzia o amigo para casa, não dormiu aquela noite depois do nosso detetive lhe revelar o escândalo da irmã ser amante do namorado do irmão.
Para Beto que nunca teve amante e único risco sexual que já tivera fora o de ir à Love Story, aquela informação equivaleu à ida do homem à lua ou ao início da terceira guerra mundial.
Na cama, olhando para o teto ele se lamentava: “Por que não acontece nada na minha vida?” E Rubens que a todo instante era acordado pelo telefone, desistiu de atender na terceira vez:
— Não acredito! Dizia Beto do outro lado. — Não acredito!
— Pois então creia. Como diz o filósofo francês, aposte que é verdade, que existe, porque se apostar que não existe, existe mesmo de qualquer jeito. Boa noite... Quer dizer.
Rubens vê a rua iluminada através da janela.
--- Bom dia! E desliga.
De dia o local é um sacolão e à noite se transforma em um enorme e interessante restaurante japonês que mais lembra o bairro da Liberdade e o Mercado Municipal, misturados à essência boemia da Vila Madalena.
Rubens e Beto foram para o tudo ou nada.
— Você não faz PUC? — perguntou Beto, e como ele nem sabia direito para qual das três se dirigir, as três não souberam tão pouco para quem era a pergunta.
— Eu faço.
Foi o que respondeu a terceira.
— Então é de lá.
— De lá o que?
As três que antes fizeram cara feia por serem interrompidas no papo onde resolveriam o que fariam no próximo feriado, agora depois do “então é de lá”, tiveram crise de risos, o que as deixou muito antipáticas.
Os dois deram sorte, pois a mais feinha das três consentiu que os dois sentassem. Logo o trio e a dupla tornou-se uma agradável mesa de cinco.
Beto disparou a falar. Rubens estava um tanto inseguro e constrangido, só observando calado. Beto quis saber o que elas faziam, mas antes que as meninas entre goles de saquê respondessem, ele já declarou em bom tom que o amigo era sociólogo da USP, veja bem: USP, com maiúscula. As três se impressionaram com o tímido. Talvez ele realmente fosse um intelectual e as estava desprezando, quem sabe?
Na empolgação Beto não escondeu seu entusiasmo por Freud e soltou:
— Já leram o mal estar na civilização? Novamente Beto errou feio. As três eram estudantes de psico e o que alguém acharia pedante e cômico como Rubens achou, para elas soou ofensivo. Como se ele estivesse brincando com algo sagrado sem ritual ou iniciação. Bola fora! Tudo bem, fora uma vitória, ao menos conseguiram sentar-se à mesa das três.
Rubens percebeu que o amigo ia afundar e tentou impedir o nocaute.
— Vocês estavam combinando o feriado? Faz um ano nesse feriado que eu e o Beto preparamos uma super festa com vinho, fondue, queijos. Foi à gente mesmo que fez. Convidamos uma turminha e várias gatas. O resultado do investimento foi que as gatas levaram os cachorros e nós dois sobramos tomando vinho e vendo os outros se beijarem.
As três agora se arrependiam muito de tê-los chamado para a mesma mesa. Não há mal nenhum em bater papo sem compromisso, porém as estudantes de psico não se entusiasmavam com o drama dos dois perdedores. Mas qual não foi o espanto dos cinco ao ouvirem:
— Rubens! Venha sentar com a gente.
Era com certeza a menina mais linda que elas já haviam visto. Seu nome? Gabriela Chavez. Lógico!
Neste momento a cotação dos dois subiu a mil por cento e as três psico, quer dizer, estudantes, permaneciam com os queixos caídos.
Beto mal pode crer que não era sonho. De uma mesa com três meras desconhecidas e sem importância fora agora sentar-se com a famosa Gabriela Chavez, a gata mais cobiçada de São Paulo.
Quando o amigo lhe contou que havia estado na ilha dos Chavez, ele desconfiou, porém sentia orgulho de Rubens e se esbaldava em ver as três psico tentando disfarçar a curiosidade do que agora rolava ali naquela mesa de celebridades formadas por Flavinha, Pedro Paulo, a Chavez e Rubens.
Enquanto Pedro Paulo expunha seus comentários sobre o lugar, Rubens se indagava onde estariam Carla e Ícaro.
— São tempos de esquerda, esses nossos. Este lugar é a própria tradução do militantismo descolado paulistano. Que apesar de não me fascinar tanto, posso dizer que é realmente um ambiente genuinamente latino-americano.
— Como assim? Desenvolva. — Pediu Beto.
— Ora, até os lugares ditos GLS são colonizados. Ainda não se firmou a figura do bissexual latino-americano. Hoje os gays têm hábitos nórdicos.
— Talvez exista uma necessidade de a comunidade gay mundial ser uma unidade e tornar a minoria mais forte. — Foi o que Gabriela disse.
— Onde está Ícaro? — Perguntou Rubens à Gabi.
— Saiu com a gelara do circo.
---E a Carla, onde foi?
Rubens percebeu que algo não cheirava bem e por isso desviou o assunto.
Despediam-se os cinco e Gabriela disse a Pedro Paulo que levaria Flavinha em casa. Beto assustou-se quando num surto, ao caminharem em direção ao carro Rubens lhe pedisse que fosse rápido. Deram três reais ao guardador de carro.
— Vai logo, vamos segui-la.
— Quem?
— Gabriela Chavez.
— Por quê?
— No caminho eu te falo. Olha lá o valet entregando a Cherokee preta e elas entrando. Vai!
Rubens estranhou a calma de Gabriela em relação ao seu namorado sumir e a sua melhor amiga também. Percebeu que Gabriela recebera uma ligação e quando Flavinha e Pedro Paulo que viram a amiga sorrir e falar baixinho, indagaram-na de quem era e ela disse: “Meu irmão”, sem explicar qual deles. O nosso detetive pensou: “tem coisa errada aí”. Fora Gabriela quem pedira a conta e estava ansiosa para quem disse que iria dormir. Não dizer o que levou Rubens a essa excitação; se realmente a curiosidade de saber o que uma deusa como Gabriela apronta por aí, o que aliás milhões de seres têm, vide os paparazzi, ou a relação que talvez isso tivesse com a sua amada Carla.
Gabriela deixou Flavinha em sua casa, naquele prédio na Cidade Jardim onde teve a festa de Flavinha no início da história, o primeiro beijo de Ícaro e coisa e tal. Seguiu pela Augusta e o carro sempre atrás da Cherokee.
— Tem certeza que ela não virou na Brasil?
— Absoluta!
Os dois estranharam muito que Gabriela permanecesse na Rua Augusta. Então, quando ela cruzou a Paulista os dois se deliciaram. “Vamos realmente ter aventura hoje à noite”, foi o quem pensaram.
A Cherokee passou pelo Anhangabaú, contornou a Praça da Sé e foi estacionar em um banco financeiro no largo de São Bento.
Eu sei leitor, que não é horário comercial, logo, o que ela estaria fazendo lá? É que agora é costume fazer festas no centro de São Paulo. Os dois pararam na própria rua. A música que vinha de um pequeno prédio de cinco andares no calçadão era animada. A Chavez misturou-se com um grupo que estava chegando e subiu as escadas com outras meninas que se vestiam no estilo dito “retro”.
O prédio com certeza era da década de quarenta e possuía um elevador desses de grade que se fecha manualmente.
Permaneceram em um local mais escuro observando a Chavez que dançava com alguns meninos. Ela dirigiu-se até a outra extremidade do andar onde havia um bar com as antigas enormes janelas abertas para o centro da metrópole e as estrelas. Enquanto pegavam cervejas Gabriela passou bem perto deles muito apressada, mas por sorte não os viu. Correram para o carro e puderam ver a Cherokee saindo. Dessa vez não era Gabriela que dirigia e sim um homem com um gorrinho azul.
A Cherokee deu muitas voltas até parar em um posto de gasolina com loja de conveniência vinte e quatro horas. Os dois desligaram o farol e estacionaram o carro na outra extremidade do posto fingindo verificar os pneus. Gabriela permaneceu no carro e a pessoa que dirigia desceu para comprar cigarros, agora sem o gorro; era um menino muito bonito, de cabelos loiros lisos e brilhantes.
Foi tudo muito rápido e quando Giovanni e Gabriela iam saindo Rubens e Beto... Sim, leitor, com certeza era Giovanni.
Rubens ia fechar a porta do carro, mas sentiu uma mão em seu ombro e viu um homem com olhos sofridos fingindo sorrir:
— Você por aqui, Rubens?
Pronto, não dava mais tempo. A Cherokee sumira e os dois detetives foram tomar uma cerveja com Guilherme Chavez na loja de conveniência. Nenhum dos três mencionou a Cherokee e seus ocupantes e eles fingiram ser apenas uma coincidência. Um encontro casual nessa enorme cidade. E foi só conversa jogada fora. Depois de se despedirem, Beto, que conduzia o amigo para casa, não dormiu aquela noite depois do nosso detetive lhe revelar o escândalo da irmã ser amante do namorado do irmão.
Para Beto que nunca teve amante e único risco sexual que já tivera fora o de ir à Love Story, aquela informação equivaleu à ida do homem à lua ou ao início da terceira guerra mundial.
Na cama, olhando para o teto ele se lamentava: “Por que não acontece nada na minha vida?” E Rubens que a todo instante era acordado pelo telefone, desistiu de atender na terceira vez:
— Não acredito! Dizia Beto do outro lado. — Não acredito!
— Pois então creia. Como diz o filósofo francês, aposte que é verdade, que existe, porque se apostar que não existe, existe mesmo de qualquer jeito. Boa noite... Quer dizer.
Rubens vê a rua iluminada através da janela.
--- Bom dia! E desliga.
Capítulo 11- Os irmãos Chavez
Herói
Era a primeira vez que esse trapezista viajava de avião. Não havia tempo. Sua namorada estava morrendo no hospital em São Paulo e ele fora passar o natal em Londrina. Sentiu certo começo de pânico misturado com prazer quando a aeronave acelerou na pista para a decolagem. Depois olhou no bolso do assento à sua frente e achou graça no nome da revista. Era o mesmo que o seu. “Pois então não sabem que este nome é ruim para voar e bom para sonhar e acidentar-se”.
Já lá em cima, no silêncio, lembrou-se de Gabriela. Como ela estava? Há alguns meses viviam juntos, dormindo todos os dias na mesma cama. E a paixão continuava a mesma. Pelo menos para ele. De repente o céu se abriu e veio o sol. Essa seria uma manhã quente. Tão quente quanto aquela em que Gabriela e Carla foram visitar a sua antiga pensão. Uma espécie de república estudantil de jovens provenientes da província.
Uma vila de casas que se localiza na fronteira de Pinheiros e Vila Madalena.
Gabriela achou as paredes e o chão um tanto abandonados em umas partes onde se encontravam buracos, às vezes preenchidos por uma massa sem pintura que já pulavam para fora como fruta madura. Apesar disso gostou da liberdade e do colorido criativo que os estudantes iam decorando o espaço.
Era uma comuna e todos na verdade, uns vinte moradores e mais alguns agregados em um terreno com três pequenas casas pareciam tão diferentes, nenhum foi arisco, aliás todos que passavam se cumprimentavam com um “oi” e falavam de suas vidas como em um documentário. Será que eles tratavam bem de Ícaro lá? Foi o que Gabi pensou.
— Você sente falta da sua família? Da sua mãe?
— Lógico!
Ele respondeu, depois mostrou sua cama e a menina se assustou quando viu o banheiro e pensou: “Tadinho, com esse chuveirinho elétrico e esse espelhinho que embaça, parece uma maloquinha”.
Do resto adorou e prometeu a si mesma de trabalhar no restaurante onde começara e com isso ganhar independência e morar por sua conta, como Ícaro.
A aeromoça serviu-lhe um suco de laranja.
Meu Deus, como ela estaria? Mas no final tudo daria certo. E não fora tão grave, lhe disseram por telefone. Passariam o natal junto.
Mas ele não entendeu bem: foi um assalto? Uma tentativa de estupro? O que houve com Gabi? Será que ela está bem? Ela precisa de mim.
E o sono veio. Só que ele não podia dormir.
As duas amigas sentaram-se na cama de Ícaro e ele deitou em uma rede que estava do outro lado da janela. “Por que será que Carla está de tão mau humor?” — ele se indagou.
— Tem um filme aí, vocês querem ver?
— Acende um, depois a gente assiste. — respondeu Gabi.
Então os três foram para uma salinha com um sofazinho, que na verdade era mais uma cama improvisada do que um sofá propriamente dito e um pufe. Dois moradores vieram se juntar ao grupo. Shakespeare in love era o nome da fita.
— Esse filme é irado. Já assisti, mas vou adorar ver de novo. — disse a Chavez, e depois se encostou a Ícaro que estava entre ela e Carla.
— Pode colocar a cabeça no meu ombro, Gabi.
Logo que o filme terminou abriram à porta da cozinha e dois estudantes prepararam um cheiroso macarrão com salsichas, e eles, ao verem Gabi não tiveram dúvida em insistir num convite para que todos jantassem juntos naquele começo de noite. A larica era forte e aceitaram.
Era o começo do começo do início do namoro do trapezista e a garota, mas por um descuido de amizade Ícaro beijou a boca das duas amigas muitas vezes, com o que Gabi parecia não se importar.
Carla não estava muito sorridente, mas sorriu na hora das duas irem embora e disse baixinho no ouvido de Ícaro:
— Você acha que vai ter essa princesinha, mas ela ama outro.
— O que é que você está falando aí, Carla?
— Nada não, Gabizinha.
— Se fica doidona... Ah! Me abraça amiga e promete que nunca vai me roubar namorado.
— E como? Mesmo que eu quisesse amiga, todos os homens do mundo são loucos por você. Até os feinhos! Olha aí esse aí.
Carla se referia a Ícaro que achava muita graça em tudo. Mas agora a ficha caíra. Carla realmente devia ser apaixonada por ele como ela mesma em segredo já lhe insinuara.
Teria Carla alguma coisa a ver com o acidente de Gabriela? Era o que Ícaro se indagava enquanto a aeronave se preparava para pousar em São Paulo.
Era a primeira vez que esse trapezista viajava de avião. Não havia tempo. Sua namorada estava morrendo no hospital em São Paulo e ele fora passar o natal em Londrina. Sentiu certo começo de pânico misturado com prazer quando a aeronave acelerou na pista para a decolagem. Depois olhou no bolso do assento à sua frente e achou graça no nome da revista. Era o mesmo que o seu. “Pois então não sabem que este nome é ruim para voar e bom para sonhar e acidentar-se”.
Já lá em cima, no silêncio, lembrou-se de Gabriela. Como ela estava? Há alguns meses viviam juntos, dormindo todos os dias na mesma cama. E a paixão continuava a mesma. Pelo menos para ele. De repente o céu se abriu e veio o sol. Essa seria uma manhã quente. Tão quente quanto aquela em que Gabriela e Carla foram visitar a sua antiga pensão. Uma espécie de república estudantil de jovens provenientes da província.
Uma vila de casas que se localiza na fronteira de Pinheiros e Vila Madalena.
Gabriela achou as paredes e o chão um tanto abandonados em umas partes onde se encontravam buracos, às vezes preenchidos por uma massa sem pintura que já pulavam para fora como fruta madura. Apesar disso gostou da liberdade e do colorido criativo que os estudantes iam decorando o espaço.
Era uma comuna e todos na verdade, uns vinte moradores e mais alguns agregados em um terreno com três pequenas casas pareciam tão diferentes, nenhum foi arisco, aliás todos que passavam se cumprimentavam com um “oi” e falavam de suas vidas como em um documentário. Será que eles tratavam bem de Ícaro lá? Foi o que Gabi pensou.
— Você sente falta da sua família? Da sua mãe?
— Lógico!
Ele respondeu, depois mostrou sua cama e a menina se assustou quando viu o banheiro e pensou: “Tadinho, com esse chuveirinho elétrico e esse espelhinho que embaça, parece uma maloquinha”.
Do resto adorou e prometeu a si mesma de trabalhar no restaurante onde começara e com isso ganhar independência e morar por sua conta, como Ícaro.
A aeromoça serviu-lhe um suco de laranja.
Meu Deus, como ela estaria? Mas no final tudo daria certo. E não fora tão grave, lhe disseram por telefone. Passariam o natal junto.
Mas ele não entendeu bem: foi um assalto? Uma tentativa de estupro? O que houve com Gabi? Será que ela está bem? Ela precisa de mim.
E o sono veio. Só que ele não podia dormir.
As duas amigas sentaram-se na cama de Ícaro e ele deitou em uma rede que estava do outro lado da janela. “Por que será que Carla está de tão mau humor?” — ele se indagou.
— Tem um filme aí, vocês querem ver?
— Acende um, depois a gente assiste. — respondeu Gabi.
Então os três foram para uma salinha com um sofazinho, que na verdade era mais uma cama improvisada do que um sofá propriamente dito e um pufe. Dois moradores vieram se juntar ao grupo. Shakespeare in love era o nome da fita.
— Esse filme é irado. Já assisti, mas vou adorar ver de novo. — disse a Chavez, e depois se encostou a Ícaro que estava entre ela e Carla.
— Pode colocar a cabeça no meu ombro, Gabi.
Logo que o filme terminou abriram à porta da cozinha e dois estudantes prepararam um cheiroso macarrão com salsichas, e eles, ao verem Gabi não tiveram dúvida em insistir num convite para que todos jantassem juntos naquele começo de noite. A larica era forte e aceitaram.
Era o começo do começo do início do namoro do trapezista e a garota, mas por um descuido de amizade Ícaro beijou a boca das duas amigas muitas vezes, com o que Gabi parecia não se importar.
Carla não estava muito sorridente, mas sorriu na hora das duas irem embora e disse baixinho no ouvido de Ícaro:
— Você acha que vai ter essa princesinha, mas ela ama outro.
— O que é que você está falando aí, Carla?
— Nada não, Gabizinha.
— Se fica doidona... Ah! Me abraça amiga e promete que nunca vai me roubar namorado.
— E como? Mesmo que eu quisesse amiga, todos os homens do mundo são loucos por você. Até os feinhos! Olha aí esse aí.
Carla se referia a Ícaro que achava muita graça em tudo. Mas agora a ficha caíra. Carla realmente devia ser apaixonada por ele como ela mesma em segredo já lhe insinuara.
Teria Carla alguma coisa a ver com o acidente de Gabriela? Era o que Ícaro se indagava enquanto a aeronave se preparava para pousar em São Paulo.
Capítulo 10- Os irmãos Chavez
Barroco
Se me perguntassem por que os cabelos de Gabriela Chavez, loiros eram tão bonitos, eu não saberia dizer. Esses pêlos eram diferentes e o jeito que ela gingava ao andar e o barulho de sua respiração que podia ser ouvida por Cris em uma noite tão quieta e que nós sabemos também tão agitada. Às vezes tenho a sensação de que os opostos realmente se atraem como diz o ditado, que erroneamente é creditado aos amantes. Mas o pequeno segue o grande, o comprido só o é na presença do curto. Noite segue o dia, e o dia a noite, a vigília segue o sono e o sono a vigília. E a vida segue a morte.
Mas o preto virará branco e o branco virará preto, e o tempo passa e o tempo passa e o jovem torna-se velho e o velho, criança. O barroco, antigo e o rock, moderno.
— Eles desistiram, todo mundo desistiu, Gabriela! Não tem mais banda, eu acho ótimo. Sabe por quê? Eu quero aprender flauta barroca.
E a menina resolveu se sentar em um pequeno muro onde Cris colocou o pé e deu um gole na cerveja, olhou para cima e viram estrelas, as mesmas que estavam lá desde o século XVII. Depois viu a cruz na torre da catedral, essa que já foi testemunha de muitos beijos naquela praça que dava para o mar, onde a uns cinqüenta metros existia um píer de onde os marinheiros viriam para buscá-los e conduzi-los de volta à ilha dos Chavez.
— Você está me dizendo que quer mudar de estilo musical, Cris? Por que a galerinha não quer mais tocar?
— A gente tem que ser algo na vida, não tem?
— Mas o começo é sempre difícil!
— Não estou falando só disso.
Cris se irritou, mas Gabi permanecia ali, linda, com os joelhos indo e voltando, batendo-se, ora abriam-se. A boquinha aberta e os olhinhos encarando, mas com a testinha apontada. Apesar de Cris ser seu irmão... Bem, uma saia, uma garota bebendo cerveja, o barulho do mar, as estrelas, a igreja, o vento, que eram espíritos boêmios que passavam e subiam, e os irmãos.
— Gabi, eu quero ser amado!
— Eu te amo, Cris!
— E eu estou cansando.
— Cris, nós não fomos os primeiros nem os últimos a... Fazer... A literatura está cheia disto. Um monte de gente é que nem eu e você, mas ninguém fica sabendo. E esse é o jeito que eu te amo e é sincero. Vem cá!
Gabriela tentava explicar a Cris enquanto ao mesmo tempo lhe fazia um cafuné, que não era a intensidade do amor dela, que era pouca, o problema real é que Cris quer outra coisa.
— Concordo carinha, eu não te conheci num bar. Nós não temos um roteiro juntos. Você não me viu atravessando a rua e se apaixonou. Qual é? Eu nunca vou te perder. A gente vai se amar sempre! Então qual é o grilo? Você não é careta, eu menos ainda. Só que o que pega é que eu conheço cada pedacinho seu essa mãozinha, esse narizinho, essa boca que eu adoro beijar, esse cabelo!
Gabriela tentou mudar de assunto e passava os dedos pelos cabelos de Cris. De repente ele se levantou e foi embora para dentro da escuridão da noite. Ela não foi atrás dele porque era óbvio que ele voltaria. Talvez só tivesse ido fazer xixi. Nunca que ele a deixaria ali sozinha, a sua irmãzinha amada.
O vento aumentou e as nuvens fecharam-se de novo. Gabriela ouviu um barulho ao longe e começou a chorar. “Cris não faria isso comigo, Duda sim, mas não meu doce irmão”. E agora aquela praça que parecia tão calma tornara-se sinistra. Um terror. A caçula dos Chavez se lembrou da história do estuprador de Paraty, a qual os empregados da ilha vinham contando.
Do outro lado da praça, Gabriela viu a silhueta de um homem. Na verdade era o Puritano que se adiantara do grupo para alcançar Cris e Gabriela e por sorte talvez pegá-la sozinha e declarar o seu amor, pois já estava desesperado. A praça ficou escura; por causa da tempestade a luz acabara no centro histórico todo, por isso quando o Puritano foi em sua direção, Gabriela fugiu. Correu pela escuridão. Já estava cansada e não sabia mais para onde ir. Olhava para trás, mas não tinha certeza se alguém ainda a seguia. Foi quando ouviu uma voz conhecida, parou e reconheceu aquele menino. Sentiu-se salva, porém o menino não sorriu e tinha alguma coisa na mão. Uma faca talvez?
— Tem alguém caído ali! — Duda avistara um contorno na rua deserta, que poderia ser de uma pessoa caída, como também um tronco de árvore trazido pela chuva que agora diminuía de intensidade. Mas era ela e os três altos irmãos pegaram-na e ajudaram-na a levantar.
Gabriela tinha sangue nas roupas, mas nenhum corte. Ela estava desmaiada e acordou assim que os irmãos a levantaram. O dia amanhecia. E uma chuva agora caia.
Nosso detetive Rubens foi o primeiro a ver os quatro Chavez, molhados, chegando a uma padaria do centro histórico. Carla, Pedro Paulo e o resto das pessoas admirarem-se com aquela cena dos quatro esgotados e o sol nascendo.
Entraram no barco e partiram em direção à ilha no que seria um dia de céu azul e quente. Ninguém se lembrou do casal de Puritanos, que também como Gabriela se perdera durante a tempestade.
Gabriela não contou a ninguém sobre o menino. Quando Carla disse achar ter visto Caio no centro, ela se fingiu de esgotada e fez que nem ouviu. E o barco seguia em direção a ilha, ela adormeceu, mas Cris pode ouvi-la ainda dizer: ---Ícaro.
Se me perguntassem por que os cabelos de Gabriela Chavez, loiros eram tão bonitos, eu não saberia dizer. Esses pêlos eram diferentes e o jeito que ela gingava ao andar e o barulho de sua respiração que podia ser ouvida por Cris em uma noite tão quieta e que nós sabemos também tão agitada. Às vezes tenho a sensação de que os opostos realmente se atraem como diz o ditado, que erroneamente é creditado aos amantes. Mas o pequeno segue o grande, o comprido só o é na presença do curto. Noite segue o dia, e o dia a noite, a vigília segue o sono e o sono a vigília. E a vida segue a morte.
Mas o preto virará branco e o branco virará preto, e o tempo passa e o tempo passa e o jovem torna-se velho e o velho, criança. O barroco, antigo e o rock, moderno.
— Eles desistiram, todo mundo desistiu, Gabriela! Não tem mais banda, eu acho ótimo. Sabe por quê? Eu quero aprender flauta barroca.
E a menina resolveu se sentar em um pequeno muro onde Cris colocou o pé e deu um gole na cerveja, olhou para cima e viram estrelas, as mesmas que estavam lá desde o século XVII. Depois viu a cruz na torre da catedral, essa que já foi testemunha de muitos beijos naquela praça que dava para o mar, onde a uns cinqüenta metros existia um píer de onde os marinheiros viriam para buscá-los e conduzi-los de volta à ilha dos Chavez.
— Você está me dizendo que quer mudar de estilo musical, Cris? Por que a galerinha não quer mais tocar?
— A gente tem que ser algo na vida, não tem?
— Mas o começo é sempre difícil!
— Não estou falando só disso.
Cris se irritou, mas Gabi permanecia ali, linda, com os joelhos indo e voltando, batendo-se, ora abriam-se. A boquinha aberta e os olhinhos encarando, mas com a testinha apontada. Apesar de Cris ser seu irmão... Bem, uma saia, uma garota bebendo cerveja, o barulho do mar, as estrelas, a igreja, o vento, que eram espíritos boêmios que passavam e subiam, e os irmãos.
— Gabi, eu quero ser amado!
— Eu te amo, Cris!
— E eu estou cansando.
— Cris, nós não fomos os primeiros nem os últimos a... Fazer... A literatura está cheia disto. Um monte de gente é que nem eu e você, mas ninguém fica sabendo. E esse é o jeito que eu te amo e é sincero. Vem cá!
Gabriela tentava explicar a Cris enquanto ao mesmo tempo lhe fazia um cafuné, que não era a intensidade do amor dela, que era pouca, o problema real é que Cris quer outra coisa.
— Concordo carinha, eu não te conheci num bar. Nós não temos um roteiro juntos. Você não me viu atravessando a rua e se apaixonou. Qual é? Eu nunca vou te perder. A gente vai se amar sempre! Então qual é o grilo? Você não é careta, eu menos ainda. Só que o que pega é que eu conheço cada pedacinho seu essa mãozinha, esse narizinho, essa boca que eu adoro beijar, esse cabelo!
Gabriela tentou mudar de assunto e passava os dedos pelos cabelos de Cris. De repente ele se levantou e foi embora para dentro da escuridão da noite. Ela não foi atrás dele porque era óbvio que ele voltaria. Talvez só tivesse ido fazer xixi. Nunca que ele a deixaria ali sozinha, a sua irmãzinha amada.
O vento aumentou e as nuvens fecharam-se de novo. Gabriela ouviu um barulho ao longe e começou a chorar. “Cris não faria isso comigo, Duda sim, mas não meu doce irmão”. E agora aquela praça que parecia tão calma tornara-se sinistra. Um terror. A caçula dos Chavez se lembrou da história do estuprador de Paraty, a qual os empregados da ilha vinham contando.
Do outro lado da praça, Gabriela viu a silhueta de um homem. Na verdade era o Puritano que se adiantara do grupo para alcançar Cris e Gabriela e por sorte talvez pegá-la sozinha e declarar o seu amor, pois já estava desesperado. A praça ficou escura; por causa da tempestade a luz acabara no centro histórico todo, por isso quando o Puritano foi em sua direção, Gabriela fugiu. Correu pela escuridão. Já estava cansada e não sabia mais para onde ir. Olhava para trás, mas não tinha certeza se alguém ainda a seguia. Foi quando ouviu uma voz conhecida, parou e reconheceu aquele menino. Sentiu-se salva, porém o menino não sorriu e tinha alguma coisa na mão. Uma faca talvez?
— Tem alguém caído ali! — Duda avistara um contorno na rua deserta, que poderia ser de uma pessoa caída, como também um tronco de árvore trazido pela chuva que agora diminuía de intensidade. Mas era ela e os três altos irmãos pegaram-na e ajudaram-na a levantar.
Gabriela tinha sangue nas roupas, mas nenhum corte. Ela estava desmaiada e acordou assim que os irmãos a levantaram. O dia amanhecia. E uma chuva agora caia.
Nosso detetive Rubens foi o primeiro a ver os quatro Chavez, molhados, chegando a uma padaria do centro histórico. Carla, Pedro Paulo e o resto das pessoas admirarem-se com aquela cena dos quatro esgotados e o sol nascendo.
Entraram no barco e partiram em direção à ilha no que seria um dia de céu azul e quente. Ninguém se lembrou do casal de Puritanos, que também como Gabriela se perdera durante a tempestade.
Gabriela não contou a ninguém sobre o menino. Quando Carla disse achar ter visto Caio no centro, ela se fingiu de esgotada e fez que nem ouviu. E o barco seguia em direção a ilha, ela adormeceu, mas Cris pode ouvi-la ainda dizer: ---Ícaro.
domingo, 28 de novembro de 2010
Capítulo 9- Os irmãos Chavez
Ele abriu a porta do apartamento. Sua jovem esposa estava vendo um seriado americano na televisão. Era domingo à noite. Ele olhou para ela e lembrou de como ele sempre a amara.
Vindo do bar ele pensou nesse passado, de quando eram jovens. De quando ele fazia faculdade de sociologia. Hoje trabalhava em uma grande empresa. Havia se tornado um executivo.
Mas no carro lhe ocorrera algo que nunca havia pensado. Talvez por amar tanto a esposa.
---Eu vi o Ícaro no Genésio agora.
Carla mal tirou os olhos da televisão. Rubens repetiu:
---O Ícaro. Ele está tão diferente. Acho que faz uma década que eu não o via.
---O Ícaro?
Carla agora olhava séria para Rubens. ---Como ele está? Falou com ele?
---Chegou da Europa. Disse que viveu lá por seis anos, fazendo circo. Tomamos alguns chopes.
Carla se levantou e ia dormir. ---Bem estou cansada, amanhã conversamos. Eu estava só te esperando. Boa noite.
Ela ia saindo. Quando Rubens a puxou pelo braço. Ele sentou numa poltrona.
---No carro vindo para cá eu pensei numa coisa Carla.
A esposa disse que era tarde e que não queria conversar. Ainda mais aquele assunto de dez anos atrás, de Paraty, almoço de natal ela não lembrava mais daquilo. Depois que sua amiga fora assassinada ela tentou esquecer de tudo. Nunca pegaram o criminoso, foi horrível. O processo todo, fora dolorido. Pelo menos é o que Rubens achara até então. Até aquele domingo em que ele encontrara Ícaro sem querer num bar da Vila Madalena e ouvira algo quase sem importância. Fato que lhe revelou tudo.
---Estávamos todos em Paraty. Era para um almoço de natal. Um ano antes de Gabriela morrer. O que eu não sabia é que ele também estava lá.
---Ele quem Rubens? Já são duas da manhã.
---Carla eu acho que sei quem matou Gabriela Chavez.
Ela sentou-se no sofá. Deu um olhar para Rubens que ele estranhou. Um olhar que ela nunca dera. Mas ele já tinha certeza.
Vindo do bar ele pensou nesse passado, de quando eram jovens. De quando ele fazia faculdade de sociologia. Hoje trabalhava em uma grande empresa. Havia se tornado um executivo.
Mas no carro lhe ocorrera algo que nunca havia pensado. Talvez por amar tanto a esposa.
---Eu vi o Ícaro no Genésio agora.
Carla mal tirou os olhos da televisão. Rubens repetiu:
---O Ícaro. Ele está tão diferente. Acho que faz uma década que eu não o via.
---O Ícaro?
Carla agora olhava séria para Rubens. ---Como ele está? Falou com ele?
---Chegou da Europa. Disse que viveu lá por seis anos, fazendo circo. Tomamos alguns chopes.
Carla se levantou e ia dormir. ---Bem estou cansada, amanhã conversamos. Eu estava só te esperando. Boa noite.
Ela ia saindo. Quando Rubens a puxou pelo braço. Ele sentou numa poltrona.
---No carro vindo para cá eu pensei numa coisa Carla.
A esposa disse que era tarde e que não queria conversar. Ainda mais aquele assunto de dez anos atrás, de Paraty, almoço de natal ela não lembrava mais daquilo. Depois que sua amiga fora assassinada ela tentou esquecer de tudo. Nunca pegaram o criminoso, foi horrível. O processo todo, fora dolorido. Pelo menos é o que Rubens achara até então. Até aquele domingo em que ele encontrara Ícaro sem querer num bar da Vila Madalena e ouvira algo quase sem importância. Fato que lhe revelou tudo.
---Estávamos todos em Paraty. Era para um almoço de natal. Um ano antes de Gabriela morrer. O que eu não sabia é que ele também estava lá.
---Ele quem Rubens? Já são duas da manhã.
---Carla eu acho que sei quem matou Gabriela Chavez.
Ela sentou-se no sofá. Deu um olhar para Rubens que ele estranhou. Um olhar que ela nunca dera. Mas ele já tinha certeza.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Capítulo 8- Os irmão Chavez
Giovanni
Guilherme é homossexual. Eu ia iniciar falando de infância, vestiário masculino, rumos marginais, masturbações. Para quê? Ele é e pronto. E depois Gui é um Chavez, logo desde cedo pôs sua libido em prática ao invés de se questionar, e por ser bonito não teve maiores dificuldades.
Agora se segure leitora. Abriu a porta do quarto 14 da Pousada Constantinopla, e deu de cara com um gatinho de boné preto virado para trás e sem camisa, de nome Giovanni.
— Oi, Gui! Entra aí.
Giovanni, que estava deitado na cama de lado com a mão direita segurando a cabeça e o joelho esquerdo levantado, não parecia furioso pela demora de Gui. Em verdade fumara um baseado e acordara a pouco, sem ao menos saber que horas eram. Assistia TV, mas com certeza a leitora acharia a barriga de Giovanni que lembrava um tanque de lavar roupa com as entradinhas na altura da cintura que folgava espaço entre a pele e a bermuda, muito superior à programação televisiva de sempre.
Com os peitos durinhos e um braço perfeito com tatuagens tribais, ele se arrepiou todo quando Gui começou a lambê-lo.
— Desculpe, aquela nojentinha ficou me segurando!
— Eu só aceito você falar assim de sua irmã porque eu estava com saudades. Mas eu não gosto que você a chame assim. E para falar sério eu quero conhecê-la para ver se ela é gostosa igual ao irmão. Será que ela transa igual ao irmão?
E como Giovanni que começou, Gui emendou:
— Ela me apresentou um amigo, que, aliás, está dormindo em casa e nós fomos jantar todos juntos. Vê? Ficou putinho? Não é você que gosta de bacanal?
— Da boca para fora, que eu não gosto de dividir o que é meu.
— Seu trouxa! É um caretão gordinho!
— E vocês ficaram por aí de mãos dadas procurando peças pro seu antiquário, não é?
Enquanto os dois rolavam na cama Giovanni ficou por cima e emendou um beijo em Gui e esse quando percebeu que o amante já tinha relaxado concluiu com gestos pornográficos.
— Não, eu e Pedro Paulo não fomos atrás de peças, só fomos tomar sorvete juntos, assim ó!
Os dois amantes tinham muitas horas de paixão, digo de sexo mesmo, mas se conheciam pouco, estavam juntos apenas há algumas semanas e como transaram desde a primeira mordida que foi onze minutos depois da primeira vista, ambos se assustaram quando o telefone tocou. Era da recepção e foi Giovanni quem atendeu.
— Diz que é um rapaz querendo falar com você.
— Mas ninguém sabe onde eu estou!
A princípio Gui teve medo e o mesmo se deu com Giovanni como já disse, mas como estavam em um hotel relativamente grande e cheio, portanto quem quer que fosse não os tornaria vítimas sem alternativas; logo o medo se tornou cautela que se transformou em desconfiança e essa última foi mútua, e como um acusava o outro de estar tramando algo, o que lhes deu além da desconfiança o sentimento que sempre segue e se adiciona à confiança: a curiosidade. Portanto, ambos resolveram deixar o rapaz subir até o quarto. O que levou certo tempo, e enquanto esperavam iam se encarando e calados o que provocava ainda mais tesão em ambos.
Ouviram o barulho de água, muita água caindo. Uma tempestade que começou no mesmo instante em que bateram na porta. Giovanni acendeu as luzes. Gui ficou esperando seu garotinho abrir a porta, mas Giovanni não se mexia. Ele então, irritado, abriu-a com força e depois veio para a cama e se sentou. Giovanni cruzou os braços e ficou perto da janela. Não se via direito o rosto do rapaz que permanecia ainda no corredor escuro. Como o barulho da chuva era intenso não se tinha a sensação de silêncio e o rapaz entrou dizendo “Oi” ou “com licença”, alguma palavra para dentro e depois fechou a porta.
O estranho tinha os olhos vermelhos e marejados de água; sentou-se em uma poltrona e abaixou o olhar para o chão. Não se mexia. Os outros dois trocavam olhares do tipo “Quem é esse?”.
Uma camiseta que estava no braço da poltrona caiu. Giovanni abaixou-se para pegá-la, mas o intruso foi mais veloz, levantou o rosto e deu a camiseta para Giovanni que estendera a mão e depois começou a andar pelo quarto. Gui já ia interrompê-lo e pedir-lhe para ir embora pois era óbvio que Giovanni não o conhecia e também estava claro que o rapaz estava com problemas graves e parecia poder ficar violento. Mas antes que conseguisse abordá-lo, ouviu:
— Guilherme Chavez, eu não sei mais o que fazer e preciso da sua ajuda.
Guilherme é homossexual. Eu ia iniciar falando de infância, vestiário masculino, rumos marginais, masturbações. Para quê? Ele é e pronto. E depois Gui é um Chavez, logo desde cedo pôs sua libido em prática ao invés de se questionar, e por ser bonito não teve maiores dificuldades.
Agora se segure leitora. Abriu a porta do quarto 14 da Pousada Constantinopla, e deu de cara com um gatinho de boné preto virado para trás e sem camisa, de nome Giovanni.
— Oi, Gui! Entra aí.
Giovanni, que estava deitado na cama de lado com a mão direita segurando a cabeça e o joelho esquerdo levantado, não parecia furioso pela demora de Gui. Em verdade fumara um baseado e acordara a pouco, sem ao menos saber que horas eram. Assistia TV, mas com certeza a leitora acharia a barriga de Giovanni que lembrava um tanque de lavar roupa com as entradinhas na altura da cintura que folgava espaço entre a pele e a bermuda, muito superior à programação televisiva de sempre.
Com os peitos durinhos e um braço perfeito com tatuagens tribais, ele se arrepiou todo quando Gui começou a lambê-lo.
— Desculpe, aquela nojentinha ficou me segurando!
— Eu só aceito você falar assim de sua irmã porque eu estava com saudades. Mas eu não gosto que você a chame assim. E para falar sério eu quero conhecê-la para ver se ela é gostosa igual ao irmão. Será que ela transa igual ao irmão?
E como Giovanni que começou, Gui emendou:
— Ela me apresentou um amigo, que, aliás, está dormindo em casa e nós fomos jantar todos juntos. Vê? Ficou putinho? Não é você que gosta de bacanal?
— Da boca para fora, que eu não gosto de dividir o que é meu.
— Seu trouxa! É um caretão gordinho!
— E vocês ficaram por aí de mãos dadas procurando peças pro seu antiquário, não é?
Enquanto os dois rolavam na cama Giovanni ficou por cima e emendou um beijo em Gui e esse quando percebeu que o amante já tinha relaxado concluiu com gestos pornográficos.
— Não, eu e Pedro Paulo não fomos atrás de peças, só fomos tomar sorvete juntos, assim ó!
Os dois amantes tinham muitas horas de paixão, digo de sexo mesmo, mas se conheciam pouco, estavam juntos apenas há algumas semanas e como transaram desde a primeira mordida que foi onze minutos depois da primeira vista, ambos se assustaram quando o telefone tocou. Era da recepção e foi Giovanni quem atendeu.
— Diz que é um rapaz querendo falar com você.
— Mas ninguém sabe onde eu estou!
A princípio Gui teve medo e o mesmo se deu com Giovanni como já disse, mas como estavam em um hotel relativamente grande e cheio, portanto quem quer que fosse não os tornaria vítimas sem alternativas; logo o medo se tornou cautela que se transformou em desconfiança e essa última foi mútua, e como um acusava o outro de estar tramando algo, o que lhes deu além da desconfiança o sentimento que sempre segue e se adiciona à confiança: a curiosidade. Portanto, ambos resolveram deixar o rapaz subir até o quarto. O que levou certo tempo, e enquanto esperavam iam se encarando e calados o que provocava ainda mais tesão em ambos.
Ouviram o barulho de água, muita água caindo. Uma tempestade que começou no mesmo instante em que bateram na porta. Giovanni acendeu as luzes. Gui ficou esperando seu garotinho abrir a porta, mas Giovanni não se mexia. Ele então, irritado, abriu-a com força e depois veio para a cama e se sentou. Giovanni cruzou os braços e ficou perto da janela. Não se via direito o rosto do rapaz que permanecia ainda no corredor escuro. Como o barulho da chuva era intenso não se tinha a sensação de silêncio e o rapaz entrou dizendo “Oi” ou “com licença”, alguma palavra para dentro e depois fechou a porta.
O estranho tinha os olhos vermelhos e marejados de água; sentou-se em uma poltrona e abaixou o olhar para o chão. Não se mexia. Os outros dois trocavam olhares do tipo “Quem é esse?”.
Uma camiseta que estava no braço da poltrona caiu. Giovanni abaixou-se para pegá-la, mas o intruso foi mais veloz, levantou o rosto e deu a camiseta para Giovanni que estendera a mão e depois começou a andar pelo quarto. Gui já ia interrompê-lo e pedir-lhe para ir embora pois era óbvio que Giovanni não o conhecia e também estava claro que o rapaz estava com problemas graves e parecia poder ficar violento. Mas antes que conseguisse abordá-lo, ouviu:
— Guilherme Chavez, eu não sei mais o que fazer e preciso da sua ajuda.
Capítulo 7- Os irmãos Chavez
Jéssica
À noite estavam todos os irmãos Chavez e outros jovens da casa arrumados para irem ao continente jantar. Iriam a um lugar sugerido por Gui e Pedro Paulo. Dona Mercedes em vão tentou persuadi-los a ficarem; ela temia que eles pudessem beber ou que o mar virasse ou ainda qualquer outro imprevisto que prejudicasse o almoço do dia seguinte. E para se mostrar para alguns hóspedes que já haviam chegado juntamente com o Dr. Américo, ela mandou que os filhos fizessem uma coluna, onde ela, na frente de todos os fez prometerem que retornariam cedo e sóbrios depois do jantar. Depois ela suspirou, deu com os ombros e foi acabar os telefonemas e arranjos finais da véspera.
Puritana era a mais arrumada e estava com uma luz diferente da de ontem. Também estava revigorada. Ao chegarem ao píer da vila Duda comunicou que não iria acompanhar o resto do grupo ao restaurante, e antes que alguém pudesse questionar tal precipitada ação tão inesperada ele já havia sumido.
Nessa noite Duda estava atrás de liberdade, de poder ir aonde quisesse sem estar constrangido dos seus movimentos, sem ninguém que o irritasse ou soubesse quem ele era. Decidiu então ir a uma boate de Paraty, freqüentada pelos locais, lugar que raramente um turista se arriscava a entrar.
Muitas garotas bonitas passaram por Duda antes que Jéssica cruzasse seu caminho.
Ela usava uma saia branca e passou com uma postura muito recatada apesar de aparentar muita simpatia. Nada em Jéssica lembrava vulgaridade. Sua pele era negra, seus cabelos longos, sua boca sensual remetia a um frescor de frutas, seus dentes perfeitos e branquíssimos e um corpo esbelto redondíssimo na bunda e nos seios.
Ele foi babando em cima dela e ela, apesar de ter dado um sorriso, se esquivou. Duda não desistiu e a abordou. Ele perguntou seu nome e onde ela morava, mas tudo ia em um tom não natural até então desconhecido de Duda. A intenção dela era parecer normal e no momento que achou o registro certo:
— Eu vou para lá, tá? Tchau!
Ele ainda teve tempo de se virar e ver a ninfa passar com sua saia e brincos compridos e um perfume bom, igual a nenhum outro. Decididamente Duda não abordaria nenhuma outra naquela noite; a decisão então foi beber. Pegou uma cerveja e sentou-se em uma das mesas. Passaram-se dez minutos e Jéssica reapareceu. Ela o puxou para um canto mais deserto e beijaram-se.
As mãos de Duda acariciavam os ombros da bela Jéssica, que pele macia e dura, que boca, apesar de feminina, musculosa. Virou então o corpo de Jéssica e a abraçou por trás, pegando em seus cabelos, e foi o cabelo dela que o fez se apaixonar. Mais tarde ele confessou que nunca vira nem sentira cabelos mais macios e cheirosos que os da menina. A barriga dela era negra e isso o deixou mais excitado, e a menina, percebendo as intenções de Duda em querer carregá-la para outro lugar, se soltou e deixou claro que iria embora. E que se ele ficasse menos atrevido que ligasse para o número do telefone, e assim que o anotou, ouviu:
— Duda, saía daqui! Por favor, senão ele te mata!
Mas Duda riu ao ver que se tratava de um menininho duas vezes menor que ele, e como o local veio para cima dele gritando, com uma ginga de malandro, não se conteve após o pivete apontar o dedo para Jéssica e chamá-la de vagabunda, deu um só soco no queixo do pivete, que ele desmaiou. Tudo foi tão rápido que o resto da boate nem percebeu a agilidade do movimento de Duda e deram o pivete como bêbado desmaiado ou coisa que o valha.
— Vamos embora que eu te levo para casa!
Pegou a menina pelo braço e deixaram o local, que ficava em uma zona neutra entre o centro histórico onde ficam os turistas e a periferia de Paraty. A menina, ao ser interrogada por Duda, sobre quem era aquele tratante vilão? Só disse que sua casa era seguindo em frente à rua de pedra, que tinha um muro antigo de um lado e casas abandonadas e comércio fechado. A vegetação era grande, havia trepadeiras no muro e árvores antigas em ambos os lados da rua que nesse horário encontrava-se deserta. O casal que ia de mãos dadas percebeu que três homens os seguiam e quanto mais eles apertavam o passo mais também os três se apressavam para alcançá-los. Jéssica sugeriu então que virassem à esquerda e saíssem correndo em busca de socorro, o que não foi possível, pois duzentos metros depois foram encurralados em beco pelos sujeitos.
Se o leitor imagina que o pobre fidalgo tremia as pernas ao ponto de desmaiar, vou desapontá-lo. Duda, além de não ter medo algum, sentia-se feliz.
— Oh, playboy! Tá com pressa? Apronta pros neguinhos e foge assim? Comer meu cu você quer, né? Chupar meu pinto você não quer!?
O sujeito que vinha gritando agora andava com um amigo de cada lado e os três eram amigos do outro que Duda derrubara.
— Ele só me defendeu, falou?! Ele agora é meu namorado e ele não quer mais encrenca. Vocês estão em três e eu sei que te conheço, que tu não és covarde e nós estamos indo nessa.
Duda nem ouvia o que Jéssica dizia. Partiu para cima dos três e quando o chefe se deu conta do tamanho do Chavez e da total falta de cautela, não teve outra opção após um soco na orelha e um pisão no peito que o fez voar do que levantar-se e correr.
No que os outros dois seguiram o exemplo do líder. Mas Duda era bom corredor e ainda o alcançou, e dando-lhe uma série de bordoadas só cessou quando teve o desconfiômetro de que poderia pegar mal e a garota considerá-lo perigoso.
A agressividade de Duda não era a de um herói romântico pressionado por algum tipo de injustiça e que favorece fracos e oprimidos; era o que se chama nesses tempos de gratuita, afinal ele não é mercenário.
— Saiba que agora você me causou sérios problemas!
— Mas eu só te defendi
— É, mas você não estará comigo para me defender novamente.
— Quem falou que não?
----E aquele carinha que você derrubou na discoteca me persegue e me amedronta há um ano. Por que você não apareceu antes, hein?
Deixemos de lado por um momento a bela Jéssica e o agora esforçado Duda, que juntos caminham pela rua na noite quieta.
Antes de irmos para a cama ou a lugar que o valha com os dois, voltemos à boate onde eles se conheceram. Se Duda não encontrou nenhum conhecido naquele lugar e se depois de se despedir e sumir de Jéssica sem deixar telefone, seria como se nunca tivesse ido ao lugar. Acontece que às vezes mesmo quando não conhecemos ninguém ao redor, não se pode afirmar que ninguém ao redor nos conhece tão pouco. E Rubens conhecia Duda muito bem, apesar de se cruzarem na multidão e Rubens ao dar um “oi!” nem fora notado pelo bárbaro.
Mas quem diabos é Rubens?— quer saber o leitor.
Ora, pois lhes respondo: Rubens é o detetive desta história. Ou não é isso um romance policial? E já estava mais do que na hora dele surgir. Embora Gabriela nem tenha morrido ainda nesse ponto da história, impossibilitando qualquer início de investigação e tão pouco Rubens deixe de ser um leigo no assunto de criminologia, o que ele é, porém é bom saber que são dessas e outras recordações que Rubens e nós usaremos para caçar o assassino de Gabriela Chavez.
Rubens é amigo de Carla que é amiga de Gabriela. Ele é um tipo magrinho, feinho, de barba mal feita, metade hippie e metade aristocrata. Vagabundo, desses que se vê aos montes em cursos de sociologia pelo país afora. Carreira, aliás, que ele estuda. Porém não pensem que Rubens não tinha também boas qualidades, além do engajamento em ONGs e viagens ao Fórum Social, quer dizer, as boas realmente só sobra duas: uma é a curiosidade e a outra é... Sinto muito, mas este neo-comunista nos será o guia, mais por coincidência de estar nos lugares certos do que por deduções geniais.
Tentou ainda ver Duda já do lado fora, para conseguir cumprimentá-lo direito e perguntar sobre o almoço na ilha dos Chavez no dia seguinte, para o qual dona Anita encontrava-se apreensiva como já dissemos anteriormente. Não vendo ninguém seguiu para o centro histórico no largo do Rosário, onde ficavam os vendedores ambulantes de pulseirinhas. A demora foi de cinco minutos para que Carla que combinara encontrá-lo nessa noite viesse correndo abraçá-lo. Rubens demorou mais tempo que o normal segurando-a entre os braços; era evidente que o futuro sociólogo era apaixonado por sua amiga e confidente. Depois Pedro Paulo, seguido dos irmãos Chavez saudaram Rubens e apresentaram-no ao casal puritano.
— Comemos em um restaurante persa, você deveria ter nos acompanhado.
Mal Carla dizia isso e Gui se apressava a dizer um cuide-se para Gabi, o que após Pedro Paulo perceber que o primogênito dos Chavez partia para uma empreitada solitária, o que o deixou além de constrangido perante os amigos por não ter dado certo, também um pouco magoado, pois havia se iludido na sedução inconsciente de Gui.
— Não fujas meu doce irmão e lembre-te que a minha custódia e segurança foi posta em tuas mãos por nossa responsável mãe.
— Gabriela, minha linda irmã! Deixo-te não sozinha e perdidamente abandonada, mas em melhores mãos e mais cuidadosos olhos do jovem Cris, que escolhe o teu bem estar em prioridade ao próprio. O que eu confesso e tu bem o sabeis, sou um egoísta e sendo mais franco, invejo a tua beleza que de tanta claridade rouba o pouco de colorido que tenho. E se não te convenci, o que noto por essa carinha meiga de cinismo, pois te vi nascer, contente-se em ter o nosso irmão que a bem da verdade em beleza não é menos profundo que vós, ao teu lado. Porque se Cris me desse um terço dos olhares que a ti presenteia, eu por mim seria o mais feliz antiquário da terra!
E fingindo rodar uma capa imaginária sumiu rua adentro, misturando-se à multidão.
— Não vá ainda, Gui. Só mais um minuto, eu ia te dizer...
Essa frase de Gabriela não foi ouvida por Gui, ele estava realmente atrasado. Aliás, como todos nós que estamos sempre por almoçar o que já devíamos ter feito. Mesmo quando em uma atividade o leitor se julga adiantado em outras áreas, há de concordar que muito ainda temos de passar a limpo. Digo isso para iniciarmos o próximo capítulo, mas não pense que Jéssica desaparecerá do mesmo modo quer surgiu.
À noite estavam todos os irmãos Chavez e outros jovens da casa arrumados para irem ao continente jantar. Iriam a um lugar sugerido por Gui e Pedro Paulo. Dona Mercedes em vão tentou persuadi-los a ficarem; ela temia que eles pudessem beber ou que o mar virasse ou ainda qualquer outro imprevisto que prejudicasse o almoço do dia seguinte. E para se mostrar para alguns hóspedes que já haviam chegado juntamente com o Dr. Américo, ela mandou que os filhos fizessem uma coluna, onde ela, na frente de todos os fez prometerem que retornariam cedo e sóbrios depois do jantar. Depois ela suspirou, deu com os ombros e foi acabar os telefonemas e arranjos finais da véspera.
Puritana era a mais arrumada e estava com uma luz diferente da de ontem. Também estava revigorada. Ao chegarem ao píer da vila Duda comunicou que não iria acompanhar o resto do grupo ao restaurante, e antes que alguém pudesse questionar tal precipitada ação tão inesperada ele já havia sumido.
Nessa noite Duda estava atrás de liberdade, de poder ir aonde quisesse sem estar constrangido dos seus movimentos, sem ninguém que o irritasse ou soubesse quem ele era. Decidiu então ir a uma boate de Paraty, freqüentada pelos locais, lugar que raramente um turista se arriscava a entrar.
Muitas garotas bonitas passaram por Duda antes que Jéssica cruzasse seu caminho.
Ela usava uma saia branca e passou com uma postura muito recatada apesar de aparentar muita simpatia. Nada em Jéssica lembrava vulgaridade. Sua pele era negra, seus cabelos longos, sua boca sensual remetia a um frescor de frutas, seus dentes perfeitos e branquíssimos e um corpo esbelto redondíssimo na bunda e nos seios.
Ele foi babando em cima dela e ela, apesar de ter dado um sorriso, se esquivou. Duda não desistiu e a abordou. Ele perguntou seu nome e onde ela morava, mas tudo ia em um tom não natural até então desconhecido de Duda. A intenção dela era parecer normal e no momento que achou o registro certo:
— Eu vou para lá, tá? Tchau!
Ele ainda teve tempo de se virar e ver a ninfa passar com sua saia e brincos compridos e um perfume bom, igual a nenhum outro. Decididamente Duda não abordaria nenhuma outra naquela noite; a decisão então foi beber. Pegou uma cerveja e sentou-se em uma das mesas. Passaram-se dez minutos e Jéssica reapareceu. Ela o puxou para um canto mais deserto e beijaram-se.
As mãos de Duda acariciavam os ombros da bela Jéssica, que pele macia e dura, que boca, apesar de feminina, musculosa. Virou então o corpo de Jéssica e a abraçou por trás, pegando em seus cabelos, e foi o cabelo dela que o fez se apaixonar. Mais tarde ele confessou que nunca vira nem sentira cabelos mais macios e cheirosos que os da menina. A barriga dela era negra e isso o deixou mais excitado, e a menina, percebendo as intenções de Duda em querer carregá-la para outro lugar, se soltou e deixou claro que iria embora. E que se ele ficasse menos atrevido que ligasse para o número do telefone, e assim que o anotou, ouviu:
— Duda, saía daqui! Por favor, senão ele te mata!
Mas Duda riu ao ver que se tratava de um menininho duas vezes menor que ele, e como o local veio para cima dele gritando, com uma ginga de malandro, não se conteve após o pivete apontar o dedo para Jéssica e chamá-la de vagabunda, deu um só soco no queixo do pivete, que ele desmaiou. Tudo foi tão rápido que o resto da boate nem percebeu a agilidade do movimento de Duda e deram o pivete como bêbado desmaiado ou coisa que o valha.
— Vamos embora que eu te levo para casa!
Pegou a menina pelo braço e deixaram o local, que ficava em uma zona neutra entre o centro histórico onde ficam os turistas e a periferia de Paraty. A menina, ao ser interrogada por Duda, sobre quem era aquele tratante vilão? Só disse que sua casa era seguindo em frente à rua de pedra, que tinha um muro antigo de um lado e casas abandonadas e comércio fechado. A vegetação era grande, havia trepadeiras no muro e árvores antigas em ambos os lados da rua que nesse horário encontrava-se deserta. O casal que ia de mãos dadas percebeu que três homens os seguiam e quanto mais eles apertavam o passo mais também os três se apressavam para alcançá-los. Jéssica sugeriu então que virassem à esquerda e saíssem correndo em busca de socorro, o que não foi possível, pois duzentos metros depois foram encurralados em beco pelos sujeitos.
Se o leitor imagina que o pobre fidalgo tremia as pernas ao ponto de desmaiar, vou desapontá-lo. Duda, além de não ter medo algum, sentia-se feliz.
— Oh, playboy! Tá com pressa? Apronta pros neguinhos e foge assim? Comer meu cu você quer, né? Chupar meu pinto você não quer!?
O sujeito que vinha gritando agora andava com um amigo de cada lado e os três eram amigos do outro que Duda derrubara.
— Ele só me defendeu, falou?! Ele agora é meu namorado e ele não quer mais encrenca. Vocês estão em três e eu sei que te conheço, que tu não és covarde e nós estamos indo nessa.
Duda nem ouvia o que Jéssica dizia. Partiu para cima dos três e quando o chefe se deu conta do tamanho do Chavez e da total falta de cautela, não teve outra opção após um soco na orelha e um pisão no peito que o fez voar do que levantar-se e correr.
No que os outros dois seguiram o exemplo do líder. Mas Duda era bom corredor e ainda o alcançou, e dando-lhe uma série de bordoadas só cessou quando teve o desconfiômetro de que poderia pegar mal e a garota considerá-lo perigoso.
A agressividade de Duda não era a de um herói romântico pressionado por algum tipo de injustiça e que favorece fracos e oprimidos; era o que se chama nesses tempos de gratuita, afinal ele não é mercenário.
— Saiba que agora você me causou sérios problemas!
— Mas eu só te defendi
— É, mas você não estará comigo para me defender novamente.
— Quem falou que não?
----E aquele carinha que você derrubou na discoteca me persegue e me amedronta há um ano. Por que você não apareceu antes, hein?
Deixemos de lado por um momento a bela Jéssica e o agora esforçado Duda, que juntos caminham pela rua na noite quieta.
Antes de irmos para a cama ou a lugar que o valha com os dois, voltemos à boate onde eles se conheceram. Se Duda não encontrou nenhum conhecido naquele lugar e se depois de se despedir e sumir de Jéssica sem deixar telefone, seria como se nunca tivesse ido ao lugar. Acontece que às vezes mesmo quando não conhecemos ninguém ao redor, não se pode afirmar que ninguém ao redor nos conhece tão pouco. E Rubens conhecia Duda muito bem, apesar de se cruzarem na multidão e Rubens ao dar um “oi!” nem fora notado pelo bárbaro.
Mas quem diabos é Rubens?— quer saber o leitor.
Ora, pois lhes respondo: Rubens é o detetive desta história. Ou não é isso um romance policial? E já estava mais do que na hora dele surgir. Embora Gabriela nem tenha morrido ainda nesse ponto da história, impossibilitando qualquer início de investigação e tão pouco Rubens deixe de ser um leigo no assunto de criminologia, o que ele é, porém é bom saber que são dessas e outras recordações que Rubens e nós usaremos para caçar o assassino de Gabriela Chavez.
Rubens é amigo de Carla que é amiga de Gabriela. Ele é um tipo magrinho, feinho, de barba mal feita, metade hippie e metade aristocrata. Vagabundo, desses que se vê aos montes em cursos de sociologia pelo país afora. Carreira, aliás, que ele estuda. Porém não pensem que Rubens não tinha também boas qualidades, além do engajamento em ONGs e viagens ao Fórum Social, quer dizer, as boas realmente só sobra duas: uma é a curiosidade e a outra é... Sinto muito, mas este neo-comunista nos será o guia, mais por coincidência de estar nos lugares certos do que por deduções geniais.
Tentou ainda ver Duda já do lado fora, para conseguir cumprimentá-lo direito e perguntar sobre o almoço na ilha dos Chavez no dia seguinte, para o qual dona Anita encontrava-se apreensiva como já dissemos anteriormente. Não vendo ninguém seguiu para o centro histórico no largo do Rosário, onde ficavam os vendedores ambulantes de pulseirinhas. A demora foi de cinco minutos para que Carla que combinara encontrá-lo nessa noite viesse correndo abraçá-lo. Rubens demorou mais tempo que o normal segurando-a entre os braços; era evidente que o futuro sociólogo era apaixonado por sua amiga e confidente. Depois Pedro Paulo, seguido dos irmãos Chavez saudaram Rubens e apresentaram-no ao casal puritano.
— Comemos em um restaurante persa, você deveria ter nos acompanhado.
Mal Carla dizia isso e Gui se apressava a dizer um cuide-se para Gabi, o que após Pedro Paulo perceber que o primogênito dos Chavez partia para uma empreitada solitária, o que o deixou além de constrangido perante os amigos por não ter dado certo, também um pouco magoado, pois havia se iludido na sedução inconsciente de Gui.
— Não fujas meu doce irmão e lembre-te que a minha custódia e segurança foi posta em tuas mãos por nossa responsável mãe.
— Gabriela, minha linda irmã! Deixo-te não sozinha e perdidamente abandonada, mas em melhores mãos e mais cuidadosos olhos do jovem Cris, que escolhe o teu bem estar em prioridade ao próprio. O que eu confesso e tu bem o sabeis, sou um egoísta e sendo mais franco, invejo a tua beleza que de tanta claridade rouba o pouco de colorido que tenho. E se não te convenci, o que noto por essa carinha meiga de cinismo, pois te vi nascer, contente-se em ter o nosso irmão que a bem da verdade em beleza não é menos profundo que vós, ao teu lado. Porque se Cris me desse um terço dos olhares que a ti presenteia, eu por mim seria o mais feliz antiquário da terra!
E fingindo rodar uma capa imaginária sumiu rua adentro, misturando-se à multidão.
— Não vá ainda, Gui. Só mais um minuto, eu ia te dizer...
Essa frase de Gabriela não foi ouvida por Gui, ele estava realmente atrasado. Aliás, como todos nós que estamos sempre por almoçar o que já devíamos ter feito. Mesmo quando em uma atividade o leitor se julga adiantado em outras áreas, há de concordar que muito ainda temos de passar a limpo. Digo isso para iniciarmos o próximo capítulo, mas não pense que Jéssica desaparecerá do mesmo modo quer surgiu.
capítulo 6- Os irmãos Chavez
Paraty
Gabriela é das acreditam no pensamento de alguns sábios antigos que afirmavam ser o nosso planeta Terra um ser vivo e que o equilíbrio entre a convivência das espécies é fundamental para que a mãe natureza continue a existir. Por isso ela amava ir à ilha dos Chavez em Paraty e se esbaldava de fauna e flora.
Duda estacionou a camionete em uma marina e um marinheiro já os aguardava em uma lancha. Ao chegarem à ilha no fim da tarde tiveram uma surpresa: puderam ver Pedro Paulo e Carla na praia antes mesmo de chegarem o píer. Dona Mercedes arranjara com uma amiga um helicóptero e um amigo Senador emprestara o outro, ou seja, tanto ela como o primogênito Guilherme e os amigos de Gabriela não gastaram nem quarenta minutos, ao passo que Duda e a irmã levaram quatro horas para percorrer o mesmo percurso, e olha que Duda corre na estrada. (Que otimismo eu tinha em relação ao tempo de viagem nos anos 90).
À noite fizeram um lanche com poucos à mesa. Talvez, já que estamos a avançar no romance o leitor possa razão cometer certa confusão com os nomes dos personagens.
Em verdade o leitor deve se intrigar como eu mesmo não me perco, por isso mesmo decidi chamar dois personagens que vou agora incluir como casal Puritano.
Pois então, recapitulando os nomes, estavam à mesa Duda, Cris, Gui e Gabriela, que são os irmãos Chavez. Fora eles sua mãe dona Mercedes, sua amiga Lourdes Maria, Pedro Paulo que fora apresentado a Gui, Carla e o casal Puritano de namorados, cujo rapaz era filho de Lourdes Maria.
E essa, por ser uma fresca muito parecida com sua amiga Mercedes, ficou impressionada quando Madame Chavez requisitou que o simpático Cris tocasse Chopin ao piano após o jantar, onde conversavam sobre os recentes casos de estupros que ocorriam já há uma semana em Paraty, relatados pelos funcionários da ilha.
Gabriela que estava excitada com tão mórbida história de garotinhas que mesmo de dia eram forçadas por esse cidadão rastafári que se fazia passar por jovem descolado, a se entregarem aos prazeres do vilão, pediu ao irmão que tocasse para ela alguma coisa clássica.
— Ah, Cris, faz isso para sua irmãzinha!
— Mas eu sou roqueiro, sou oposição, vou agora me deprimir?
— Por favor, vai!
E o músico, com o corpo obedecendo e a boca protestando seguiu em direção ao instrumento como lhe pediram as mulheres da família.
Sentaram-se então todas nos enormes sofás e poltronas brancas num terraço que percorria toda a casa, onde se realizaria o tal esperado almoço de natal.
Lourdes não se conteve e acrescentou um ronco ao piano e para surpresa de todos Cris foi o primeiro a rir e ao que tudo indicava que ele iria trocar Chopin por algo mais contemporâneo e acelerado, não foi o que aconteceu, talvez pela aparição da lua cheia, ele começou a tocar seu repertório de Beethoven.
O rapaz Puritano acordou sua mãe e lhe disse para se recolher ao quarto.
Dona Mercedes despediu-se e foi ter lá para dentro, onde, aliás, Lourdes já havia ido.
Eu creio e acho que o leitor também, que as madrugadas foram inventadas para a prática sexual. Não que as outras horas do dia inclusive da manhã também, não sejam fascinantes.
A moça puritana era bonitinha e o rapaz bem atlético; os únicos assuntos que dispunham eram ou falar mal de alguém ou falar mal de alguma celebridade.
Mas os Chavez odeiam o puritanismo e enquanto o rapaz se distraía a conversar com Carla sobre alguma futilidade Duda e Cris que estavam do outro lado começaram a chamar a Puritana com olhares obscenos para que esta se levantasse e viesse ter com eles.
Gabriela que percebeu a pegadinha dos irmãos aumentou a conversa também com olhares obscenos para o Puritano que nem percebeu então a falta da namorada que já estava no escuro sendo chupada por Cris e Duda.
Vamos dormir que amanhã o dia vai ser puxado, pois os irmãos Chavez irão a Paraty e da última vez que lá foram juntos, até o prefeito foi tirado da cama.
Mas isso só à noite porque de dia o Puritano vai esquiar duas vezes: uma com Cris enquanto Duda transa com Puritana e depois de novo esquia, dessa vez com Duda enquanto Cris está transando com Puritana. Bem da verdade talvez o Puritano até percebesse o que estava rolando. O que não podiam imaginar é que ele, o Puritano já estava loucamente apaixonado por Gabriela.
Gabriela é das acreditam no pensamento de alguns sábios antigos que afirmavam ser o nosso planeta Terra um ser vivo e que o equilíbrio entre a convivência das espécies é fundamental para que a mãe natureza continue a existir. Por isso ela amava ir à ilha dos Chavez em Paraty e se esbaldava de fauna e flora.
Duda estacionou a camionete em uma marina e um marinheiro já os aguardava em uma lancha. Ao chegarem à ilha no fim da tarde tiveram uma surpresa: puderam ver Pedro Paulo e Carla na praia antes mesmo de chegarem o píer. Dona Mercedes arranjara com uma amiga um helicóptero e um amigo Senador emprestara o outro, ou seja, tanto ela como o primogênito Guilherme e os amigos de Gabriela não gastaram nem quarenta minutos, ao passo que Duda e a irmã levaram quatro horas para percorrer o mesmo percurso, e olha que Duda corre na estrada. (Que otimismo eu tinha em relação ao tempo de viagem nos anos 90).
À noite fizeram um lanche com poucos à mesa. Talvez, já que estamos a avançar no romance o leitor possa razão cometer certa confusão com os nomes dos personagens.
Em verdade o leitor deve se intrigar como eu mesmo não me perco, por isso mesmo decidi chamar dois personagens que vou agora incluir como casal Puritano.
Pois então, recapitulando os nomes, estavam à mesa Duda, Cris, Gui e Gabriela, que são os irmãos Chavez. Fora eles sua mãe dona Mercedes, sua amiga Lourdes Maria, Pedro Paulo que fora apresentado a Gui, Carla e o casal Puritano de namorados, cujo rapaz era filho de Lourdes Maria.
E essa, por ser uma fresca muito parecida com sua amiga Mercedes, ficou impressionada quando Madame Chavez requisitou que o simpático Cris tocasse Chopin ao piano após o jantar, onde conversavam sobre os recentes casos de estupros que ocorriam já há uma semana em Paraty, relatados pelos funcionários da ilha.
Gabriela que estava excitada com tão mórbida história de garotinhas que mesmo de dia eram forçadas por esse cidadão rastafári que se fazia passar por jovem descolado, a se entregarem aos prazeres do vilão, pediu ao irmão que tocasse para ela alguma coisa clássica.
— Ah, Cris, faz isso para sua irmãzinha!
— Mas eu sou roqueiro, sou oposição, vou agora me deprimir?
— Por favor, vai!
E o músico, com o corpo obedecendo e a boca protestando seguiu em direção ao instrumento como lhe pediram as mulheres da família.
Sentaram-se então todas nos enormes sofás e poltronas brancas num terraço que percorria toda a casa, onde se realizaria o tal esperado almoço de natal.
Lourdes não se conteve e acrescentou um ronco ao piano e para surpresa de todos Cris foi o primeiro a rir e ao que tudo indicava que ele iria trocar Chopin por algo mais contemporâneo e acelerado, não foi o que aconteceu, talvez pela aparição da lua cheia, ele começou a tocar seu repertório de Beethoven.
O rapaz Puritano acordou sua mãe e lhe disse para se recolher ao quarto.
Dona Mercedes despediu-se e foi ter lá para dentro, onde, aliás, Lourdes já havia ido.
Eu creio e acho que o leitor também, que as madrugadas foram inventadas para a prática sexual. Não que as outras horas do dia inclusive da manhã também, não sejam fascinantes.
A moça puritana era bonitinha e o rapaz bem atlético; os únicos assuntos que dispunham eram ou falar mal de alguém ou falar mal de alguma celebridade.
Mas os Chavez odeiam o puritanismo e enquanto o rapaz se distraía a conversar com Carla sobre alguma futilidade Duda e Cris que estavam do outro lado começaram a chamar a Puritana com olhares obscenos para que esta se levantasse e viesse ter com eles.
Gabriela que percebeu a pegadinha dos irmãos aumentou a conversa também com olhares obscenos para o Puritano que nem percebeu então a falta da namorada que já estava no escuro sendo chupada por Cris e Duda.
Vamos dormir que amanhã o dia vai ser puxado, pois os irmãos Chavez irão a Paraty e da última vez que lá foram juntos, até o prefeito foi tirado da cama.
Mas isso só à noite porque de dia o Puritano vai esquiar duas vezes: uma com Cris enquanto Duda transa com Puritana e depois de novo esquia, dessa vez com Duda enquanto Cris está transando com Puritana. Bem da verdade talvez o Puritano até percebesse o que estava rolando. O que não podiam imaginar é que ele, o Puritano já estava loucamente apaixonado por Gabriela.
domingo, 21 de novembro de 2010
Capítulo 5- Irmãos Chavez
Ícaro
Ícaro treinava no Circo Escola Picadeiro. Ele viera do interior do Paraná para estudar. A sua humilde família que o queria ver doutor, não sabia que ele trocara a faculdade de comunicação por estágio de malabarismo com fogos nos faróis.
Nem só de circo vive o homem, por isso o nosso trapezista trabalhava por pelo menos três dias da semana em um restaurante descolado dos Jardins, próximo à Avenida Paulista.
Depois de passarem pela porta giratória e sentarem, as três meninas ricas, bonitas e charmosas, esperavam para serem atendidas. Ícaro, que era o garçom da praça de mesas mal podia acreditar: Gabriela Chavez sentada ali; levou três cardápios para as três falantes amigas e fez o pedido de bebidas.
— Eu quero uma diet coke com gelo.
— Me traz uma água sem gás.
— Tem Campari?
— Vamos tomar um Proseco?
Foi o que propôs Carla às outras duas, que nem olharam para o garçom Ícaro, tão entusiasmadas que estavam com o papo.
Quando Ícaro ia colocando as bebidas sobre a mesa, arriscou:
— E aí, jogando muito futebol?
Gabriela o olhou com uma carinha do tipo: “O que está acontecendo?” Era um reflexo dela depois de tantas cantadas. Ícaro recuou e fingiu que foi buscar alguma coisa, e prometeu a si mesmo não falar mais nada até elas irem embora.
Carla o achou uma gracinha, no que Flavinha que era super influenciável concordou. Já a Chavez não o aprovou, ainda mais quando viu que o entrão ganhara a confiança das amigas, que decidiram convidá-lo para a festa de aniversário de Flavinha que seria no dia seguinte.
Ícaro contou então que a vira na Bahia. Que jogaram futebol juntos.
Durante essa rápida conversa, as outras duas se divertiam em flertar com o garçom, na saída disseram que a sua presença era realmente exigida na festa.
Ele foi e sozinho. Quando chegou e viu que o número batia com o prédio à sua frente, quis dar meia volta. Era um desses edifícios palacianos com seguranças de terno na porta. Caiu em si e se perguntou o que ele, um rapaz da província, faria ali em uma festa onde não conheceria ninguém e que fora convidado por três garotas bêbadas? Deu meia volta para ir embora, mas lembrou-se do rosto de Gabriela. Percebeu que estava apaixonado e riu. Ícaro criou tal segurança que durou até apertar a campainha, mas aí já era tarde demais.
Abriram à porta e o apartamento estava repleto de jovens endinheirados. Ele realmente não tem nem um conhecido e obviamente não sabia para onde ir e por isso agarrou a primeira taça de vinho branco que passou. Por sorte sua aflição não durou tanto; Carla, assim que o viu apresentou-o a todos.
Carla não demorou nem quinze minutos para ver que Ícaro não tirava os olhos de Gabriela Chavez que estava sentada em um divã em outra ponta do salão e nem o havia cumprimentado.
— Vá até lá falar com ela; aquele que está lá é um só mais um e ela não está nem aí para ele. Mas também não se iluda, pois ela também não está nem aí para você.
Dizendo isso ela passou a conversar com Pedro Paulo e Ícaro pediu licença e foi se lançar à Chavez.
— Oi, Gabriela
A menina não se levantou deixando os rapazes aos quais apresentou um ao outro, e como ela não se lembrava do nome de Ícaro disse apenas “um cara que esteve na Bahia com a gente”; depois ficou em pé e retirou-se. Tanto Ícaro quanto Antonio, esse era o nome do outro conquistador, não se sentiram desconfortáveis com a situação e tornaram-se até cúmplices.
— Ela é linda, não é? — perguntou Antonio a Ícaro.
Antonio sorria, mas Ícaro baixara a cabeça e foi ver a vista do terraço e de lá pôde ver o Circo Escola Picadeiro mais o Morumbi todo que ficava do outro lado do rio Pinheiros.
— Parou de chover?
Era Gabriela que veio a ter ao seu lado.
— Eu estava no mesmo ônibus no qual você foi de Salvador à Lucrécia. Sentei-me no fundo e vi a hora em que você entrou. Depois te vi na vila à noite com seu irmão, não sei por que eu achei que vocês namorassem. No dia seguinte eu e um amigo palhaço também treinamos algumas acrobacias na praia e ele, seu irmão, acho que se chama Cris, não é? Aproximou-se e quis aprender uns truques de malabarismo. Eu pensei “estou ensinando o homem mais sortudo do mundo a fazer malabarismo”. Aí ele me disse que era músico e logo fomos jogar futebol... Foi quando você apareceu de biquíni e eu tive a certeza de que você é a mulher mais linda que já vi...
— Ai, Por que você não fala alguma coisa que eu não saiba hein?
E depois de um silêncio:
— A Carla não vai arrumar ninguém para namorar e a culpa é minha. Todos os caras se aproximam dela querendo me comer e não ela.
— Mas não é o meu caso menina, eu sou virgem. Ícaro disse isso e no mesmo instante se arrependeu, contorcendo os olhos. Gabriela viu que foi sincero e ia brincar dizendo que nem ela era, mas achou melhor ficar quieta e ficou por cinco longos segundos.
— Você tem cara mesmo.
— De virgem?
— Não, de coragem.
— É o olhar que nós temos no circo, é como se tivéssemos umas olheiras escuras embaixo dos olhos e que apesar de parecer maquiagem não é.
— Afinal você é palhaço ou trapezista?
— Eu sou o Tony de Suares que é o palhaço que imita errado os trapezistas.
— Você acha que eu jeito para palhaça?
— Não. Você é bonita demais para ser uma.
Gabriela que estava sorrindo fechou de novo a cara e já ia entrar para a sala.
— Olha, eu me esforço para não dizer que você é linda, mas não estou conseguindo, OK? Mas se você não gosta de elogios eu também não gosto de desprezo e não é só porque você é rica e bonita e eu feio e pobre que vou me desmerecer, pois apesar disso eu tenho outros talentos também.
Gabriela, que parecia brava, começou a rir de repente de Ícaro, depois ficou má e como fora provocada, revidou.
— Vamos ver o que acontece então se eu te der um beijo agora e você recusá-lo, por mim nem vou ligar.
Puxou Ícaro e meteu-lhe a língua dentro da boca, e para sua surpresa foi o melhor beijo da sua vida até então, e depois que eles se soltaram ela saiu atrás de água, dizendo:
— Nossa que vertigem! Fiquei arrepiada!
Ícaro, já sozinho no terraço, olhou para o céu e disse:
— Eu nunca duvidei que você existisse!
Logo em seguida Gabriela voltou trazendo água.
— Com quem é que você está falando? Vem aqui terminar, seu virgenzinho.
O leitor me perguntará se essa conversa de que Ícaro era invicto é real. Só respondo que foi assim que me contaram, se é verdadeira ou não como Gabriela perceberia. O que posso dizer seguindo uma lógica torta, é que sendo a caçula de três grandes e fortes irmãos, dessa vez com Ícaro a garotinha do papai se sentiu a dominadora.
Ícaro treinava no Circo Escola Picadeiro. Ele viera do interior do Paraná para estudar. A sua humilde família que o queria ver doutor, não sabia que ele trocara a faculdade de comunicação por estágio de malabarismo com fogos nos faróis.
Nem só de circo vive o homem, por isso o nosso trapezista trabalhava por pelo menos três dias da semana em um restaurante descolado dos Jardins, próximo à Avenida Paulista.
Depois de passarem pela porta giratória e sentarem, as três meninas ricas, bonitas e charmosas, esperavam para serem atendidas. Ícaro, que era o garçom da praça de mesas mal podia acreditar: Gabriela Chavez sentada ali; levou três cardápios para as três falantes amigas e fez o pedido de bebidas.
— Eu quero uma diet coke com gelo.
— Me traz uma água sem gás.
— Tem Campari?
— Vamos tomar um Proseco?
Foi o que propôs Carla às outras duas, que nem olharam para o garçom Ícaro, tão entusiasmadas que estavam com o papo.
Quando Ícaro ia colocando as bebidas sobre a mesa, arriscou:
— E aí, jogando muito futebol?
Gabriela o olhou com uma carinha do tipo: “O que está acontecendo?” Era um reflexo dela depois de tantas cantadas. Ícaro recuou e fingiu que foi buscar alguma coisa, e prometeu a si mesmo não falar mais nada até elas irem embora.
Carla o achou uma gracinha, no que Flavinha que era super influenciável concordou. Já a Chavez não o aprovou, ainda mais quando viu que o entrão ganhara a confiança das amigas, que decidiram convidá-lo para a festa de aniversário de Flavinha que seria no dia seguinte.
Ícaro contou então que a vira na Bahia. Que jogaram futebol juntos.
Durante essa rápida conversa, as outras duas se divertiam em flertar com o garçom, na saída disseram que a sua presença era realmente exigida na festa.
Ele foi e sozinho. Quando chegou e viu que o número batia com o prédio à sua frente, quis dar meia volta. Era um desses edifícios palacianos com seguranças de terno na porta. Caiu em si e se perguntou o que ele, um rapaz da província, faria ali em uma festa onde não conheceria ninguém e que fora convidado por três garotas bêbadas? Deu meia volta para ir embora, mas lembrou-se do rosto de Gabriela. Percebeu que estava apaixonado e riu. Ícaro criou tal segurança que durou até apertar a campainha, mas aí já era tarde demais.
Abriram à porta e o apartamento estava repleto de jovens endinheirados. Ele realmente não tem nem um conhecido e obviamente não sabia para onde ir e por isso agarrou a primeira taça de vinho branco que passou. Por sorte sua aflição não durou tanto; Carla, assim que o viu apresentou-o a todos.
Carla não demorou nem quinze minutos para ver que Ícaro não tirava os olhos de Gabriela Chavez que estava sentada em um divã em outra ponta do salão e nem o havia cumprimentado.
— Vá até lá falar com ela; aquele que está lá é um só mais um e ela não está nem aí para ele. Mas também não se iluda, pois ela também não está nem aí para você.
Dizendo isso ela passou a conversar com Pedro Paulo e Ícaro pediu licença e foi se lançar à Chavez.
— Oi, Gabriela
A menina não se levantou deixando os rapazes aos quais apresentou um ao outro, e como ela não se lembrava do nome de Ícaro disse apenas “um cara que esteve na Bahia com a gente”; depois ficou em pé e retirou-se. Tanto Ícaro quanto Antonio, esse era o nome do outro conquistador, não se sentiram desconfortáveis com a situação e tornaram-se até cúmplices.
— Ela é linda, não é? — perguntou Antonio a Ícaro.
Antonio sorria, mas Ícaro baixara a cabeça e foi ver a vista do terraço e de lá pôde ver o Circo Escola Picadeiro mais o Morumbi todo que ficava do outro lado do rio Pinheiros.
— Parou de chover?
Era Gabriela que veio a ter ao seu lado.
— Eu estava no mesmo ônibus no qual você foi de Salvador à Lucrécia. Sentei-me no fundo e vi a hora em que você entrou. Depois te vi na vila à noite com seu irmão, não sei por que eu achei que vocês namorassem. No dia seguinte eu e um amigo palhaço também treinamos algumas acrobacias na praia e ele, seu irmão, acho que se chama Cris, não é? Aproximou-se e quis aprender uns truques de malabarismo. Eu pensei “estou ensinando o homem mais sortudo do mundo a fazer malabarismo”. Aí ele me disse que era músico e logo fomos jogar futebol... Foi quando você apareceu de biquíni e eu tive a certeza de que você é a mulher mais linda que já vi...
— Ai, Por que você não fala alguma coisa que eu não saiba hein?
E depois de um silêncio:
— A Carla não vai arrumar ninguém para namorar e a culpa é minha. Todos os caras se aproximam dela querendo me comer e não ela.
— Mas não é o meu caso menina, eu sou virgem. Ícaro disse isso e no mesmo instante se arrependeu, contorcendo os olhos. Gabriela viu que foi sincero e ia brincar dizendo que nem ela era, mas achou melhor ficar quieta e ficou por cinco longos segundos.
— Você tem cara mesmo.
— De virgem?
— Não, de coragem.
— É o olhar que nós temos no circo, é como se tivéssemos umas olheiras escuras embaixo dos olhos e que apesar de parecer maquiagem não é.
— Afinal você é palhaço ou trapezista?
— Eu sou o Tony de Suares que é o palhaço que imita errado os trapezistas.
— Você acha que eu jeito para palhaça?
— Não. Você é bonita demais para ser uma.
Gabriela que estava sorrindo fechou de novo a cara e já ia entrar para a sala.
— Olha, eu me esforço para não dizer que você é linda, mas não estou conseguindo, OK? Mas se você não gosta de elogios eu também não gosto de desprezo e não é só porque você é rica e bonita e eu feio e pobre que vou me desmerecer, pois apesar disso eu tenho outros talentos também.
Gabriela, que parecia brava, começou a rir de repente de Ícaro, depois ficou má e como fora provocada, revidou.
— Vamos ver o que acontece então se eu te der um beijo agora e você recusá-lo, por mim nem vou ligar.
Puxou Ícaro e meteu-lhe a língua dentro da boca, e para sua surpresa foi o melhor beijo da sua vida até então, e depois que eles se soltaram ela saiu atrás de água, dizendo:
— Nossa que vertigem! Fiquei arrepiada!
Ícaro, já sozinho no terraço, olhou para o céu e disse:
— Eu nunca duvidei que você existisse!
Logo em seguida Gabriela voltou trazendo água.
— Com quem é que você está falando? Vem aqui terminar, seu virgenzinho.
O leitor me perguntará se essa conversa de que Ícaro era invicto é real. Só respondo que foi assim que me contaram, se é verdadeira ou não como Gabriela perceberia. O que posso dizer seguindo uma lógica torta, é que sendo a caçula de três grandes e fortes irmãos, dessa vez com Ícaro a garotinha do papai se sentiu a dominadora.
sábado, 20 de novembro de 2010
Capítulo 4- Os irmãos Chavez
Advertência: O leitor deve antes ler os capítulos anteriores a esse.
O beijo daquela noite de luar fora diferente. Já no quarto os dois irmãos tardaram a pegar no sono.
Gabriela virou o rosto para a parede e Cris ficou a mirar o contorno do seu corpo que era desenhado pela luz da lua no lençol branco.
— Boa noite, Gabi!
— Boa! Mas podia ser melhor.
Esta última frase foi dita bem baixinha. Dormiram.
Eram onze da manhã quando o estômago dos dois irmãos os despertou. Lucrécia deveria ter uns dois quilômetros, mas ficava praticamente selvagem, fora um ponto onde todos os turistas e vendedores locais se concentravam. A irmã não se conteve e soltou um suspiro após passarem uma pequena duna e finalmente encararem o verde mar da mesma cor dos seus olhos. Metade da freqüência diária já estava lá.
A banda já era conhecida no pedaço e se instalavam com mais uns quarenta agora conhecidos.
De repente chegou Caio, com olhos ainda meio fechados e a mão em cima, imitando um boné para se proteger da claridade. Não estava de bom humor e completamente estragado da noite passada que fora como ele disse um trash! Mesmo assim foi até o carrinho do Cecílio e pediu uma batida de coco com leite condensado e vodca. Gabriela o seguiu e sentou ao seu lado com uma água de coco. Acabaram indo os dois andar na praia e quando atingiram um local mais reservado, decidiram nadar e no meio das ondas se beijaram e estava tudo indo bem até Gabriela resolver ir embora depois de Caio tentar arrancar seu biquini.
De volta ao guarda-sol não viu ninguém, mas todos a chamavam:
— Vem Gabriela!
— Vem jogar.
Uma pelada havia se iniciado, a qual foi dividida em dois times: o masculino versus o feminino. Essa partida não foi a primeira da vida de Gabriela, mas a segunda, por isso logo na primeira dividida se desequilibrou e veio de encontro à areia fofa. O jogo não parou e a jogada prosseguiu em gol, um garoto veio, agachou-se em gesto de vocação de médico humanista e lhe tocou levemente o pé e com um sorrido perguntou:
— Tudo bem com você, Gabriela?
Seu nome era Ícaro e tinha os cabelos pretos cacheados e a pela branca. A menina agradeceu e sem perder tempo voltou em campo e depois de quinze minutos fez até um gol. Suspeito mas fez, depois de driblar Cris e Pedro.
Foram todos se refrescar no mar e ao final ninguém sabia ao certo quem havia vencido. Ícaro nunca vira pessoa tão maravilhosa e pensou que nunca mais a veria, por isso se empenhou em guardar o retrato de Gabi em sua mente. Como somos impotentes ao destino. E quão errado estava o jovem artista de circo sobre sua sorte.
Estavam agora todos em um pátio que lembrava um cenário de teatro. Janelas de vários tamanhos e formatos, escadas que pareciam ir para os lados e não para cima, varandas ou terraços que sugeriam diálogos amorosos e uma mesa colocada com comida ao centro. A quarta parede com um muro preenchido com árvores em sua frente bem como em suas costas, em alguma propriedade vizinha ou parque.
“Tapete Voador”, esse era o nome da banda de Cris, que se juntara a uma segunda voz local, um regueiro negro de nome Ronaldo, que vestia uma camisa verde camuflada de exército e os cabelos grandes e pontudos para cima e era acompanhado por três violões e Caio.
— Tem bolo. Se você quiser.
— Não, obrigado!
— Cerveja na geladeira.
— Não, obrigado!
— Maconha.
— Ah, isso eu quero.
Tereza, a menina de Ribeirão Preto, tentara ganhar a confiança de Gabriela. Há um mês estava apaixonada por Cris.
— Você tem mais dois irmãos, não é?
— É. E você?
— Eu tenho duas irmãs. Aquela ali sentada, tomando cerveja, viu?
— Vi. É mesmo a sua cara. Quem é a mais velha?
Era Tereza, a outra, a mais nova de todas, era muito jovem e havia ficado em Ribeirão Preto.
Tereza quis saber se os outros Chavez eram também parecidos com ela e Cris, ao que Gabriela respondeu que não e que ela amava mais Cris do que aos outros.
Disse ainda que tinha uma relação muito complicada com Duda e que com certeza eles nunca se dariam bem.
— É um boy babaca. Dirige igual um imbecil, não respeitas as outras vidas, briga no trânsito e quer dar porrada em todo mundo. É um bêbado irresponsável, mau caráter com todas as namoradas... Também bem feito para elas, pois ele só namora putas.
Já o Gui é diferente, é um cavalheiro, é culto, calmo e eu tenho boas conversas com ele. Só que nem tudo ele me conta, ele me esconde muita coisa.
As duas continuaram a conversa, Tereza mais ouvia que falava. A banda fez um intervalo e depois das palmas muitos garotos, inclusive Caio vieram assediar Gabriela. Ela ainda permaneceu sentada e pode ver Cris se dirigindo para o interior da casa com a mão em volta do ombro de Tereza.
Já lá dentro nenhum dos dois tinha pressa em tirar as roupas; Tereza estava com uma camisa justa e tinha enormes seios naturais.
Cris sentou na cama e Tereza em seu colo. Enquanto conversavam se beijavam um pouco, como em um namoro se faz.
— O que você e minha irmã estavam conversando? Falavam sobre mim?
— Que convencimento! Quem disse que o assunto era você?
— E quem mais poderia ser?
— O Caio, por exemplo.
Dizendo isso Tereza partiu para cima de Cris e os dois deitaram na cama, mas ele imediatamente parou e quis saber o que e como Caio havia entrado na história. Tereza já sem camisa nem sutiã em cima de Cris não queria mais namoro e sim sexo.
Mas como Cris não tomou iniciativa apesar de se surpreender com os seios de Tereza que eram mais belos do que supunha a sua vã filosofia. Os bicos eram de um tamanho proporcional, avantajados e de um brilho intenso. Tereza é que uns chamam de cavala, um mulherão, com umas costas lindas, um cabelo liso, uma guerreira germânica, o sonho de qualquer bezerro...
— O que é que Caio tem com Gabriela?
— Olha se for para você desistir de qualquer coisa hoje à noite eu me arrependo agora de ter mencionado o nome de seu amigo. É só um achismo meu, mas como tem muito irmão que é cego...
— Mas Caio é feinho!
— Também não é assim; ele tem seu charme, não é príncipe como tu, mas também não chega a ser um bufão!
Tereza veio e mordeu o lábio inferior de Cris, depois lhe deu um beijo e o puxou de volta para rolarem na cama.
Ele levantou e foi olhar pela fresta da janela e viu Gabi na ponta oposta de onde os músicos estavam, sentada, bolando um baseado, tranqüila, naquele festivo pátio. Tereza, deitada de costas, apoiada em seus cotovelos, observava a paranóia do irmão ciumento.
— Deixa a menina se divertir, eu não achei que você fosse do tipo irmão conservador machista!
— Não é nada disso...
— Vem cá, relaxa!
Ela calou a boca de Cris e o puxou de volta para a cama, mas foi um sobe não sobe que terminou por não subir mesmo.
A menina lhe fazia sexo oral e quando ele colocava o preservativo novamente desanimava.
Cris largou Tereza olhando o teto, se vestiu, desceu as escadas, saiu ao pátio e pediu que Caio, que a essas alturas estava de mãos dadas com Gabriela, fosse comprar jornais, o que ele entendeu e saiu fora. Convidou sua irmã para...
— Vamos transar?
Ela adorou, riu e disse:
— Cris, a gente é irmão.
— Como que você foi ficar com Caio, ele tem as pernas peludas e é sujo, tem bafo e é feinho.
— Não sei, sou louca!
— Então é verdade, e eu estava jogando verde.
— E eu te gozando.
— Tá, mas o convite ainda está de pé.
A irmã, fingindo levar na brincadeira, aceitou e disse não ter pressa, afinal estavam os dois na mesma suíte. E foram dançar forró.
Mas não pensem vocês que Tereza perdeu a noite. Jaime, o baterista, entrou por engano no quarto dela, do mesmo jeito que por engano Cabral veio parar ali no Monte Pasqual. E que noite tiveram!
Os Irmãos Chavez- Capítulo 3
Advertência: Se o leitor ainda não leu o capitulo um e dois, textos anteriores a esse, não entenderá o capítulo 3. Pois trata-se de uma continuação.
O bar ficava próximo da praça onde uma catedral barroca era iluminada. Um quarteirão cinqüenta por cento rural e metade urbano continha os três bares de Lucrécia; a cor predominante eram o branco e o amarelo da nave e torres do templo. Já o “Beco do Sucesso” era edificado em madeira. O vento penetrava com facilidade tanto quanto os clientes, que circulavam também pelos outros dois botecos.
Era meia-noite e o lugar já estava cheio. Em uma das mesas Gabriela em um vestidinho de estampas vivas observava Caio conversando com uma garota no balcão, enquanto bebia whisky com Cris e os outros.
Ela notou que a menina pouco olhava para Caio e estava começando a dar sinais de retirada. Foi então que Gabriela perguntou a si mesma: “Como eu fui transar com esse feinho e baixinho?” “Se com ele tinha sido bom com outro poderia ser até melhor.” Olhou então em volta, mas não viu ninguém que a interessasse, e acabou dando de cara com Cris que vestia uma camiseta preta. Começou a tocar um CD dos Rolling Stones. Cris era realmente lindo, mas que droga! Além de lindo ele tinha um sorriso que com certeza desconcertaria qualquer mulher casada.
— Cris, se você precisar eu trouxe camisinha!
— Para cima de mim, sua punkinha virgem!
— Nem de signo, Cris!
— Então passa para cá que eu vou precisar.
Levantou-se e foi atrás de uma das muitas neo-hippies do lugar.
Caio agora a olhava, mas ela já ocupara os olhos tentando ver aonde o irmão fora.
— Pronto, o Cris deu uma folga! — disse Caio, que viera sentar ao seu lado. Mas ela nem lhe escutou e o álcool agora a fazia rir à toa só de olhar para Guga e Jaime. (É muito nome eu sei).
— Vamos dar role? — propôs Pedro que dizia ter arrumado um beque. Foram.
Subiram para uma colina mais afastada, não para se esconderem com medo de serem pegos por uma autoridade local, mas sim para ficarem mais à vontade e terem uma vista do mar. Era lua cheia e duas garotas vieram se juntar. A brisa morna levantava o cabelo de todos que em formação de roda passavam o baseado de mão em mão, um ou outro apesar da boca seca introduzia com o dedo umas porções de saliva para a seda não descolar. Quando Cris ensinou essa manha para Gabriela ela achou um tanto não higiênica, mas agora nem se dava conta e também o fazia automaticamente.
Caio puxou Gabriela pelo braço até a praia; ficou nítido ao vocalista apesar de estar “doidão” e um tanto alcoolizado, que a menina não estava mais apaixonada e isso reverteu o jogo, ainda mais depois de Gabriela se esquivar das tentativas do vilão em tentar roubar-lhes alguns beijos.
— Você ficou mais doce agora à noite. Disse a mocinha.
— Que calcinha mais linda essa sua Gabi, que você abre as perninhas... Sem querer eu vi lá no bar, com esse vestidinho.
— É me enganei. Você não ta mais doce e sim amargo.
— E você não está mais a fim de mim, não é?
De repente Caio largou seu braço e se afastou. Mal Gabriela teve tempo de virar as costas e Cris surgiu com uma menina.
— Essa é minha irmã e esse é o meu amigo Caio que você conhece bem, ele está tomando conta dela para que nenhum malandro se aproveite da sua falta de experiência.
— Nossa você é linda! — cumprimentou a menina.
—E malandra! — concluiu Caio.
— Ai, como vocês dois estão chatinhos, ninguém precisa tomar conta de mim! Já de vocês...
Cris contou que sua amiga, se é que era só amiga, daria uma festa no dia seguinte na casa onde ela e outras meninas de Ribeirão Preto estavam.
— Vem, vamos dançar forró. — propôs Cris. A irmã aceitou, então os dois desceram a colina em direção ao bar, deixando a menina e Caio atrás, ao luar.
Dançaram algumas músicas e todos ficaram admirados de ver um casal tão apaixonado, e eram lindos diziam alguns. “Tão bonitos que até parecem irmãos.”
Gabriela quis ir dormir e Cris a levou de volta para a pousada. Os dois estavam altos por causa do whisky, mas o sistema neurológico dos dois ainda estava bem coordenado, ainda mais depois da dança. A irmã quis saber se Cris estava beijando a menina de Ribeirão Preto ao que ele bobamente respondeu ser só dela. Estavam agora na porta do chalé que estava trancado.
— Cadê as chaves, Gabriela?
— Onde está Cris, Chaves?
Cris tirou um molho de chaves que caiu no chão. Os dois se abaixaram para pegá-lo e um rápido beijo na boca foi trocado, mas logo interrompido. Cris se apressou em abrir a porta e os dois não se encararam mais. Não fora um beijo de irmãos como já acontecera sempre na presença de testemunhas, apenas o chamado selinho.
O bar ficava próximo da praça onde uma catedral barroca era iluminada. Um quarteirão cinqüenta por cento rural e metade urbano continha os três bares de Lucrécia; a cor predominante eram o branco e o amarelo da nave e torres do templo. Já o “Beco do Sucesso” era edificado em madeira. O vento penetrava com facilidade tanto quanto os clientes, que circulavam também pelos outros dois botecos.
Era meia-noite e o lugar já estava cheio. Em uma das mesas Gabriela em um vestidinho de estampas vivas observava Caio conversando com uma garota no balcão, enquanto bebia whisky com Cris e os outros.
Ela notou que a menina pouco olhava para Caio e estava começando a dar sinais de retirada. Foi então que Gabriela perguntou a si mesma: “Como eu fui transar com esse feinho e baixinho?” “Se com ele tinha sido bom com outro poderia ser até melhor.” Olhou então em volta, mas não viu ninguém que a interessasse, e acabou dando de cara com Cris que vestia uma camiseta preta. Começou a tocar um CD dos Rolling Stones. Cris era realmente lindo, mas que droga! Além de lindo ele tinha um sorriso que com certeza desconcertaria qualquer mulher casada.
— Cris, se você precisar eu trouxe camisinha!
— Para cima de mim, sua punkinha virgem!
— Nem de signo, Cris!
— Então passa para cá que eu vou precisar.
Levantou-se e foi atrás de uma das muitas neo-hippies do lugar.
Caio agora a olhava, mas ela já ocupara os olhos tentando ver aonde o irmão fora.
— Pronto, o Cris deu uma folga! — disse Caio, que viera sentar ao seu lado. Mas ela nem lhe escutou e o álcool agora a fazia rir à toa só de olhar para Guga e Jaime. (É muito nome eu sei).
— Vamos dar role? — propôs Pedro que dizia ter arrumado um beque. Foram.
Subiram para uma colina mais afastada, não para se esconderem com medo de serem pegos por uma autoridade local, mas sim para ficarem mais à vontade e terem uma vista do mar. Era lua cheia e duas garotas vieram se juntar. A brisa morna levantava o cabelo de todos que em formação de roda passavam o baseado de mão em mão, um ou outro apesar da boca seca introduzia com o dedo umas porções de saliva para a seda não descolar. Quando Cris ensinou essa manha para Gabriela ela achou um tanto não higiênica, mas agora nem se dava conta e também o fazia automaticamente.
Caio puxou Gabriela pelo braço até a praia; ficou nítido ao vocalista apesar de estar “doidão” e um tanto alcoolizado, que a menina não estava mais apaixonada e isso reverteu o jogo, ainda mais depois de Gabriela se esquivar das tentativas do vilão em tentar roubar-lhes alguns beijos.
— Você ficou mais doce agora à noite. Disse a mocinha.
— Que calcinha mais linda essa sua Gabi, que você abre as perninhas... Sem querer eu vi lá no bar, com esse vestidinho.
— É me enganei. Você não ta mais doce e sim amargo.
— E você não está mais a fim de mim, não é?
De repente Caio largou seu braço e se afastou. Mal Gabriela teve tempo de virar as costas e Cris surgiu com uma menina.
— Essa é minha irmã e esse é o meu amigo Caio que você conhece bem, ele está tomando conta dela para que nenhum malandro se aproveite da sua falta de experiência.
— Nossa você é linda! — cumprimentou a menina.
—E malandra! — concluiu Caio.
— Ai, como vocês dois estão chatinhos, ninguém precisa tomar conta de mim! Já de vocês...
Cris contou que sua amiga, se é que era só amiga, daria uma festa no dia seguinte na casa onde ela e outras meninas de Ribeirão Preto estavam.
— Vem, vamos dançar forró. — propôs Cris. A irmã aceitou, então os dois desceram a colina em direção ao bar, deixando a menina e Caio atrás, ao luar.
Dançaram algumas músicas e todos ficaram admirados de ver um casal tão apaixonado, e eram lindos diziam alguns. “Tão bonitos que até parecem irmãos.”
Gabriela quis ir dormir e Cris a levou de volta para a pousada. Os dois estavam altos por causa do whisky, mas o sistema neurológico dos dois ainda estava bem coordenado, ainda mais depois da dança. A irmã quis saber se Cris estava beijando a menina de Ribeirão Preto ao que ele bobamente respondeu ser só dela. Estavam agora na porta do chalé que estava trancado.
— Cadê as chaves, Gabriela?
— Onde está Cris, Chaves?
Cris tirou um molho de chaves que caiu no chão. Os dois se abaixaram para pegá-lo e um rápido beijo na boca foi trocado, mas logo interrompido. Cris se apressou em abrir a porta e os dois não se encararam mais. Não fora um beijo de irmãos como já acontecera sempre na presença de testemunhas, apenas o chamado selinho.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Capítulo 2
Os irmãos Chavez
Advertência: Se o leitor ainda não leu o capitulo um, o texto anterior a esse, não entenderá o capítulo 2. Pois trata-se de uma continuação.
Bahia Bucólica
O ônibus vinha lotado de Salvador em direção ao sul, à praia de Lucrécia. Das quatro horas do percurso, mais de três já haviam transcorrido, sem ar condicionado nem cd para ouvir, apenas uma revista feminina era a distração de Gabriela que estava ansiosa para encontrar com Cris, o qual há mais de um mês não via. Pelo telefone ele disse à irmãzinha ser o local o mais belo que conhecera.
Cris era compositor, se considerava guitarrista, mas cada vez eram mais óbvias suas limitações como intérprete e o seu avanço nas composições e arranjos, segundo ele mesmo analisava. Sua banda que se formara na adolescência tinha chegado aos vinte anos não de estrada, mas de idade dos integrantes, esses no rastro do rock clássico.
Estavam eles, todos os cinco, em Lucrécia esperando ansiosos pela ainda adolescente Gabriela que viajava sozinha, do que não fora fácil convencerem os pais a deixarem-na ir ao encontro do irmão.
Enfim o ônibus parou. Gabriela se animou tanto que acordou por completo. Ela vestia shorts verde escuro estilo safári com bolsos dos lados e uma blusinha branca. Suas pernas e costas praticamente tinham grudado no assento; desceu, pegou sua mala, tirou o papel com as indicações de como chegar até a pousada em que Cris estava e começou a caminhar em uma rua de terra.
Três senhores aposentados que importunavam um quarto que estava no banco de cimento do ponto de ônibus cochilando cheirando a pinga lhe indicaram a direção.
Como não eram confiáveis, ainda se certificou com uma mulher gorda. Gabriela nem percebeu, mas já uma meia dúzia de homens e garotos preparava-se para ajudá-la com a mala ou informações, mas a beleza da menina era tanta que os intimidou.
Começou a andar pela estrada de terra, que, aliás, era a única via da encruzilhada com o asfalto.
Ela deveria andar uns mil e trezentos metros, talvez menos, nem se preocupou em encontrar um táxi, também tão pouco passou por sua cabeça a existência de um ali na Bahia.
A cada duzentos metros uma construção, casinhas e janelas coloridas e muitas roupas nos varais. Era fim de tarde e algumas galinhas faziam happy hour, ciscando milho, para variar apareceu um cachorro que veio ao seu encontro, teve medo a princípio, mas uma criança disse que ele não mordia.
— Todo dono fala isso!
— É verdade que de vez em quando ele morde quem eu não gosto, mas só quem eu não gosto, que não é o seu caso, moça!
Gabriela sorriu. Depois veio uma curva e a estrada se alargou; era uma enorme reta. Foi então que viu pessoas lá no fundo do quadro. Uma delas com os braços levantados ela reconheceu ser Cris.
Ele estava com uma bermuda azul escuro que passava a altura dos joelhos, com seu quase um metro e noventa, pois na verdade exceto Gabriela, os outros Chavez eram todos altos, mas ela tinha só um metro e sessenta.
Os dois eram os únicos que pareciam irmãos, apesar de Gabriela ter olhos verdes e os cabelos de anjo loiros, já o músico era castanho claro de olhos e cabelos, mas esses eram compridos e lembravam os da irmã. Ele vinha sem camiseta, descalço e com a barba crescida. Com colares nativos do artesanato local, tal quais os amigos que o acompanhavam. O que a caçula dos Chavez não imaginava é que eles tinham tirado o dia todo para recebê-la, mas se confundiram no horário do ônibus e não puderam ir recebê-la no ponto.
— Boa tarde, mademoisele Gabriela!
Jaime, o baterista, colocou um dos joelhos na terra e chocalhou a mão de cima até o meio da altura da menina e essa lhe estendeu a mão para que ele lhe desse um beijo, como num cumprimento barroco.
Depois o irmão a abraçou e a rodopiou duas vezes, recolocando-a no lugar para ficar admirando-a.
Os outros dois Guga e Pedrinho que já haviam pegado a mala da moça, agora faziam fila para ganhar um beijo.
— Me desculpem não ter conseguido trazer nem uma amiga, mas foi tão rápido que eu decidi vir, que nenhuma pôde se programar. Apesar de não faltar fãs de vocês, mas essas não são minhas amigas!
— Cara Gabriela, saiba que apesar de guardarmos esperança de algum dia, um de nós vir a ser cunhado de Cris, pois milagres acontecem todos os dias, estamos nos dando muito bem nessas férias com as locais e as turistas também.
Foi aí que Gabriela percebeu a falta de Caio, o vocalista. Ele não fora junto recebê-la. A verdade é que ela estava acostumada a grandes recepções masculinas, afinal era linda e a caçula de três irmãos. Mas Caio era diferente, era um segredo, ninguém sabia pelo menos ela não havia dito a ninguém. Exceto à sua melhor amiga: o vocalista a cantara, e a fez deixar de ser donzela.
Seguiram em direção a pousada e a menina não perguntou por Caio, pensava ela que nem passava pela cabeça de Cris tal traição ou até passava, quem sabe, e afinal Cris era seu irmão e não namorado.
A banda alugara um chalé com duas salas, suítes, e ainda uma pequena copa, e tudo cercado por uma varanda com redes. Era um dos quinze chalés do complexo da pousada. Três estavam em uma suíte e dois em outra. Agora, com a chegada de Gabriela ela ficaria com Cris em um dos quartos e os outros quatro ficariam juntos, pois Lucrécia estava sem nenhuma cama sobrando em toda a vila.
Depois de ter arrumado as roupas no armário foi ter com a banda; sentaram-se em uma mesa e disseram que a levariam à noite até a vila, onde compareciam quase todas as noites a um bar para dançar e beber.
— Toca forró?
— Depois das duas e meia até nascer o dia é o Brasil real na pista! — respondeu-lhe Guga.
— Mas se você está com a idéia de dançar é melhor ir dormir um pouco. — Concluiu Pedro, enquanto Jaime lhe mostrava ainda um lanche o qual, ele ia colocando sobre a mesa.
Em cinco minutos adormeceu. Cris levou-a para o quarto.
Já era noite quando acordou meio sem se lembrar onde estava e até entender o espaço, onde era a porta, a janela e o banheiro.
Viu que alguém estava sentado na outra cama, observando-a no breu. Ela concluiu que era Cris e depois de se espreguiçar lançou os braços em direção à figura, pois achando ser o irmão, este a levantaria e lhe daria um beijo.
— Oi, é macia a minha cama?
— Essa era a sua cama?
Como o rapaz veio para a frente beijá-la, acabou entrando no raio de luz que vinha da porta aberta para a sala. Foi quando Gabriela viu a enorme boca vermelha e reconheceu Caio.
O vocalista era parecido com uma daquelas estátuas da Ilha de Páscoa, com lábios bem vermelhos e uma pele escura. Caio não contrastava nas plantações de cacau. Não tinha uma beleza clássica, nem tão pouco exótica, mas era charmoso para as adolescentes.
O que Cris tinha de inseguro Caio tinha de seguro, ou seja, ele era um babaca que não sabe que o é e se considera o tal. Pior é que temos a propensão de nos apaixonar por pessoas assim.
— Oh, grosseria, por que você não foi me buscar também? Estava ocupado com o quê?
Ele não respondeu, continuou a encará-la, riu e ia deixando o quarto quando Gabriela disse:
— Te trouxe um presente!
Mas ele nem se virou e saiu.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Os irmãos Chavez- capítulo 1
Prólogo
O texto: “Os irmãos Chavez” foi escrito há dez anos. Trata-se de uma novela ou ainda um pequeno romance canastrão.
Numa época em que eu vivia entre o clube Paulistano, Vila Madalena e a praia de Juquehy, aqui transformada na fictícia praia de Lucrecia, na Bahia e uma ilha em Paraty.
A trama mostra algumas facetas sexuais dos jovens de classe alta, de vinte anos no final dos anos 90. Retratados nos Chavez, seus amigos e amantes.
Gabriela, a caçula, é linda, desejada por todos os homens da história e invejada pelas mulheres, porém namora um menino feio e inexpressivo.
Duda é masculino, violento, esportista, visceral e ama as meninas negras.
Cris é feminino, músico, meigo, e é também apaixonado pela irmã Gabriela.
Gui, o mais velho, é clássico, gay e namora um menino sarado.
Nenhum deles, da família dos Chavez é baseado na minha família. Fora a minha própria exceção. Creio que eu mesmo sou metade Duda e metade Cris, os filhos do meio.
Publicarei pedaço por pedaço dessa história. Espero imensamente que os leitores se identifiquem e acreditem se tratar de pessoas reais.
Também não tenho certeza se continuarei a publicar as crônicas durante esse período, tudo depende da audiência.
Então vamos lá, o terceiro sinal foi dado. Abrem-se as cortinas.
Com vocês:
OS IRMÃOS CHAVEZ
Choque
Ela saiu da loja de roupas em que trabalha, atravessou o Shopping Iguatemi, cumprimentou três ou ainda dois conhecidos na multidão. Era uma sexta-feira de fim de ano, seguiu para casa e no outro dia amanheceu morta. Fora assassinada com facadas ou talvez com tesouradas na barriga.
O porteiro do prédio afirmou tê-la visto entrar com seu carro em companhia de um homem sentado no assento do passageiro, para dentro da garagem. O mesmo funcionário do condomínio disse ainda a polícia não ter visto o tal homem sair.
A vítima se chama Gabriela Chavez e beleza igual nunca se viu. Era filha do mais bem sucedido cirurgião plástico do Brasil de então, doutor Américo Chavez.
Gabriela havia a pouco deixado à casa dos pais para ir morar com seu namorado Ícaro, um artista de circo que nesse dia estava visitando a família em Londrina, tendo mais de trinta pessoas como álibi.
Já os irmãos mais velhos da caçula Gabriela, Duda, Cris e Gui, nenhum deles tinha estado com testemunhas ou evento que servisse de álibi. Mas não vamos ser ansiosos e já no início do livro lançar suspeitas, ainda mais essas que com a repercussão da tragédia em toda a sociedade da capital paulista nem foram notadas no começo. Exceto por alguns mais curiosos por desvendar mistérios do que chorar por uma desconhecida ou mesmo afirmar que foi obra de um monstro. Humano ou não, é difícil saber, mas, contudo a população concordava em um aspecto: existia um criminoso e aquilo não fora um suicídio.
Às quatro horas da madrugada de sexta para sábado Ícaro recebeu um telefonema de Gabriela:
— Desculpe, acho que fiz... Uma burrada.
Depois desta frase ela ou alguém teria desligado o telefone. Ícaro tentou umas quatro ou cinco vezes chamá-la de volta em vão, conforme ele relatou em seu depoimento. Tendo fracassado, ligou imediatamente para a mãe de Gabriela, dona Anita Chavez, esposa do Dr. Américo.
O casal não tardou em acionar a polícia e às cinco da manhã, eles já se encontravam no apartamento de Gabriela com mais uma equipe de vinte pessoas que dobrava de número a cada cinco minutos.
A menina semiviva foi posta em uma ambulância. O dia amanhecia enquanto a sirene cruzava a cidade. Um anjo sangrava genes que foram se encontrar em uma loteria cósmica de quase infinitas probabilidades, que nem matematicamente seguida de uma explicação em português seriam suficientes para tentativa de descrição desta Afrodite, uma deusa mortal que agora sumia.
Não poucas vezes pensamos: não é a pessoa ideal que eu queria como filho, ou como irmão, mas já que o são eu os amo. Gabriela era realmente amada pelos familiares que quando tentavam imaginar um outro ser que não ela para irmã ou filha, essa figura criada era sempre inferior à sombra de Gabriela Chavez.
Mas de todos os Chavez, talvez Cristiano, o segundo filho, era o que mais demonstrava seu amor. Tinha a irmã como um objeto sagrado a ser posto em altar para ser reverenciado.
Voltemos então ao tempo para melhor entendermos a relação de Cris e Gabriela, prometo depois retornar e descrever o velório e o que se passou dali em diante.
O texto: “Os irmãos Chavez” foi escrito há dez anos. Trata-se de uma novela ou ainda um pequeno romance canastrão.
Numa época em que eu vivia entre o clube Paulistano, Vila Madalena e a praia de Juquehy, aqui transformada na fictícia praia de Lucrecia, na Bahia e uma ilha em Paraty.
A trama mostra algumas facetas sexuais dos jovens de classe alta, de vinte anos no final dos anos 90. Retratados nos Chavez, seus amigos e amantes.
Gabriela, a caçula, é linda, desejada por todos os homens da história e invejada pelas mulheres, porém namora um menino feio e inexpressivo.
Duda é masculino, violento, esportista, visceral e ama as meninas negras.
Cris é feminino, músico, meigo, e é também apaixonado pela irmã Gabriela.
Gui, o mais velho, é clássico, gay e namora um menino sarado.
Nenhum deles, da família dos Chavez é baseado na minha família. Fora a minha própria exceção. Creio que eu mesmo sou metade Duda e metade Cris, os filhos do meio.
Publicarei pedaço por pedaço dessa história. Espero imensamente que os leitores se identifiquem e acreditem se tratar de pessoas reais.
Também não tenho certeza se continuarei a publicar as crônicas durante esse período, tudo depende da audiência.
Então vamos lá, o terceiro sinal foi dado. Abrem-se as cortinas.
Com vocês:
OS IRMÃOS CHAVEZ
Choque
Ela saiu da loja de roupas em que trabalha, atravessou o Shopping Iguatemi, cumprimentou três ou ainda dois conhecidos na multidão. Era uma sexta-feira de fim de ano, seguiu para casa e no outro dia amanheceu morta. Fora assassinada com facadas ou talvez com tesouradas na barriga.
O porteiro do prédio afirmou tê-la visto entrar com seu carro em companhia de um homem sentado no assento do passageiro, para dentro da garagem. O mesmo funcionário do condomínio disse ainda a polícia não ter visto o tal homem sair.
A vítima se chama Gabriela Chavez e beleza igual nunca se viu. Era filha do mais bem sucedido cirurgião plástico do Brasil de então, doutor Américo Chavez.
Gabriela havia a pouco deixado à casa dos pais para ir morar com seu namorado Ícaro, um artista de circo que nesse dia estava visitando a família em Londrina, tendo mais de trinta pessoas como álibi.
Já os irmãos mais velhos da caçula Gabriela, Duda, Cris e Gui, nenhum deles tinha estado com testemunhas ou evento que servisse de álibi. Mas não vamos ser ansiosos e já no início do livro lançar suspeitas, ainda mais essas que com a repercussão da tragédia em toda a sociedade da capital paulista nem foram notadas no começo. Exceto por alguns mais curiosos por desvendar mistérios do que chorar por uma desconhecida ou mesmo afirmar que foi obra de um monstro. Humano ou não, é difícil saber, mas, contudo a população concordava em um aspecto: existia um criminoso e aquilo não fora um suicídio.
Às quatro horas da madrugada de sexta para sábado Ícaro recebeu um telefonema de Gabriela:
— Desculpe, acho que fiz... Uma burrada.
Depois desta frase ela ou alguém teria desligado o telefone. Ícaro tentou umas quatro ou cinco vezes chamá-la de volta em vão, conforme ele relatou em seu depoimento. Tendo fracassado, ligou imediatamente para a mãe de Gabriela, dona Anita Chavez, esposa do Dr. Américo.
O casal não tardou em acionar a polícia e às cinco da manhã, eles já se encontravam no apartamento de Gabriela com mais uma equipe de vinte pessoas que dobrava de número a cada cinco minutos.
A menina semiviva foi posta em uma ambulância. O dia amanhecia enquanto a sirene cruzava a cidade. Um anjo sangrava genes que foram se encontrar em uma loteria cósmica de quase infinitas probabilidades, que nem matematicamente seguida de uma explicação em português seriam suficientes para tentativa de descrição desta Afrodite, uma deusa mortal que agora sumia.
Não poucas vezes pensamos: não é a pessoa ideal que eu queria como filho, ou como irmão, mas já que o são eu os amo. Gabriela era realmente amada pelos familiares que quando tentavam imaginar um outro ser que não ela para irmã ou filha, essa figura criada era sempre inferior à sombra de Gabriela Chavez.
Mas de todos os Chavez, talvez Cristiano, o segundo filho, era o que mais demonstrava seu amor. Tinha a irmã como um objeto sagrado a ser posto em altar para ser reverenciado.
Voltemos então ao tempo para melhor entendermos a relação de Cris e Gabriela, prometo depois retornar e descrever o velório e o que se passou dali em diante.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Geração stand-up
Uma jovem prima me levou a uma festa neste último ferido. Numa casa na praia de Juquehy com muitas árvores e bosques. Quando cheguei notei que as pessoas eram muito bonitas, bonitas mesmo.
Depois reparei que eu era o mais velho do lugar. Lá pelas cinco e meia da manhã resolvi que não incomodaria nem a prima nem outras amigas que acabei encontrando na baladinha e iria voltar a pé mesmo pela praia vendo o sol nascer.
Nem mesmo dei dez passos um desses carros grandes importados parou ao meu lado e baixou o tatinho que as janelas blindadas baixam.
“Você quer carona?”
No início achei que a menina queria alguma informação.
“Pra onde vocês tão indo?”
“Pra onde você quiser”.
Entrei no carro. Havia três meninas de vinte anos. Perguntei quem eram.
“As da faap levantem a mão”. Disse a de trás que junto com a do banco de passageiro levantaram a mão.
“As da puc levantem a mão”.
Dessa vez a do volante levantou a mão.
Pensei comigo. Esse é o primeiro trauma que essas jovens vão levar pra vida. Nada de usp. Porque um universitário da usp não tem teatro pra dizer que é da usp. Ele diz assim meio que jogando fora:
“Faço usp”. Baixinho, como se não tivesse importância.
Depois de alguns “conhece?” Descobri que era amigo de um primo de uma delas e que meus pais conheciam a família da outra.
Mesmo eu e aquelas três meninas não sendo da mesma geração éramos da mesma tal Zelite paulistana. Mas como elas me vendo de havaianas, calça jeans rasgada e camiseta sabiam disso?
O que será que elas pensaram? “Vamos dar carona pra esse menino, porque ele é um dos nossos? É um eleitor do Serra. Conhece Paris, tem também um irmão que vive em Nova York, freqüenta um clube tradicional como nosso talvez até o mesmo clube. Tem caseiro, é neto de imigrantes, ou bis neto no caso delas. Enfim ele tem pedigree como nós, logo vamos ajudar a classe”.
Ou será: “Veja esse tiozinho! Parece um naufrago, vamos levar ele tadinho”. E se fossem aquele grupo de meninos da paulista me espancariam achando que estavam sendo homofônicos?
Olha, diz o historiador Jacques Le Goff que o termo geração foi inventado pela geração dos anos sessenta. Anteriormente alguém que nasceu 12 anos antes de você ou doze anos depois não necessariamente compartilhava das mesmas vivencias.
Digo tudo isso porque não senti naquelas três, algo de afinidade real. Confesso que somos ou temos a mesma origem e procedência. E que apesar do meu fraco por lolitas nem todas as jovens me provocam a alma.
O que me atrai, é uma coisa de menina e mulher ainda em formação. Como se fosse uma obra em processo. Quando enxergo que aquele ser tem potencial. Que não se ensina nada a essa pessoa, apenas se mostra o que ela já sabe, mas não via.
“Você nasceu em 1974?!?!”
“Nasci”.
Vendo a satisfação delas de imaginarem que terão ainda 16 anos pelo menos de curtição pela frente, me dá vontade de dizer e aconselhar alguns pontos:
Primeiro não confiem no seu dna. Larguem os carboidratos e comecem uma academia já.
Segundo amem, amem muito, sofram. Mas dêem bastante também, porque uma coisa não exclui a outra.
Terceiro não acreditem que as gerações passadas foram melhores. Vocês são a geração “stand-up”, algo pós a geração “veio”. E por mais que os babacas nostálgicos torçam o nariz pela total liberdade de expressão que vocês têm, dizendo que vocês são alienadas, não acreditem.
Porque no fundo stand-up incômoda porque pode tudo, até ser alienado. Porque só existe na democracia. Porque faz parte da natureza do jovem ser preguiçoso e alienado.
Poderia fazer também listas de filmes que elas devem ver. De livros que devam ler.
“É nesse portão aí”.
Vi nos olhos delas que aquele passeio com o garoto-homem fora muito rápido. Um menino que ainda está em formação, em processo. Tão diferente delas, que já estudam e fazem estagio e só estão na pilha porque é feriado.
Mas vocês queriam o que? Que eu as convidasse para entrar? Fazer duas duplas de pôquer?
“Vocês jogam cartas?”
“Tipo cigana?”
“Não tipo baralho?”
“As que jogam levantem a mão”.
Chaplin dizia que o sol nasce todo dia e sem platéia. Ele era geração stand-up na veia.
Depois reparei que eu era o mais velho do lugar. Lá pelas cinco e meia da manhã resolvi que não incomodaria nem a prima nem outras amigas que acabei encontrando na baladinha e iria voltar a pé mesmo pela praia vendo o sol nascer.
Nem mesmo dei dez passos um desses carros grandes importados parou ao meu lado e baixou o tatinho que as janelas blindadas baixam.
“Você quer carona?”
No início achei que a menina queria alguma informação.
“Pra onde vocês tão indo?”
“Pra onde você quiser”.
Entrei no carro. Havia três meninas de vinte anos. Perguntei quem eram.
“As da faap levantem a mão”. Disse a de trás que junto com a do banco de passageiro levantaram a mão.
“As da puc levantem a mão”.
Dessa vez a do volante levantou a mão.
Pensei comigo. Esse é o primeiro trauma que essas jovens vão levar pra vida. Nada de usp. Porque um universitário da usp não tem teatro pra dizer que é da usp. Ele diz assim meio que jogando fora:
“Faço usp”. Baixinho, como se não tivesse importância.
Depois de alguns “conhece?” Descobri que era amigo de um primo de uma delas e que meus pais conheciam a família da outra.
Mesmo eu e aquelas três meninas não sendo da mesma geração éramos da mesma tal Zelite paulistana. Mas como elas me vendo de havaianas, calça jeans rasgada e camiseta sabiam disso?
O que será que elas pensaram? “Vamos dar carona pra esse menino, porque ele é um dos nossos? É um eleitor do Serra. Conhece Paris, tem também um irmão que vive em Nova York, freqüenta um clube tradicional como nosso talvez até o mesmo clube. Tem caseiro, é neto de imigrantes, ou bis neto no caso delas. Enfim ele tem pedigree como nós, logo vamos ajudar a classe”.
Ou será: “Veja esse tiozinho! Parece um naufrago, vamos levar ele tadinho”. E se fossem aquele grupo de meninos da paulista me espancariam achando que estavam sendo homofônicos?
Olha, diz o historiador Jacques Le Goff que o termo geração foi inventado pela geração dos anos sessenta. Anteriormente alguém que nasceu 12 anos antes de você ou doze anos depois não necessariamente compartilhava das mesmas vivencias.
Digo tudo isso porque não senti naquelas três, algo de afinidade real. Confesso que somos ou temos a mesma origem e procedência. E que apesar do meu fraco por lolitas nem todas as jovens me provocam a alma.
O que me atrai, é uma coisa de menina e mulher ainda em formação. Como se fosse uma obra em processo. Quando enxergo que aquele ser tem potencial. Que não se ensina nada a essa pessoa, apenas se mostra o que ela já sabe, mas não via.
“Você nasceu em 1974?!?!”
“Nasci”.
Vendo a satisfação delas de imaginarem que terão ainda 16 anos pelo menos de curtição pela frente, me dá vontade de dizer e aconselhar alguns pontos:
Primeiro não confiem no seu dna. Larguem os carboidratos e comecem uma academia já.
Segundo amem, amem muito, sofram. Mas dêem bastante também, porque uma coisa não exclui a outra.
Terceiro não acreditem que as gerações passadas foram melhores. Vocês são a geração “stand-up”, algo pós a geração “veio”. E por mais que os babacas nostálgicos torçam o nariz pela total liberdade de expressão que vocês têm, dizendo que vocês são alienadas, não acreditem.
Porque no fundo stand-up incômoda porque pode tudo, até ser alienado. Porque só existe na democracia. Porque faz parte da natureza do jovem ser preguiçoso e alienado.
Poderia fazer também listas de filmes que elas devem ver. De livros que devam ler.
“É nesse portão aí”.
Vi nos olhos delas que aquele passeio com o garoto-homem fora muito rápido. Um menino que ainda está em formação, em processo. Tão diferente delas, que já estudam e fazem estagio e só estão na pilha porque é feriado.
Mas vocês queriam o que? Que eu as convidasse para entrar? Fazer duas duplas de pôquer?
“Vocês jogam cartas?”
“Tipo cigana?”
“Não tipo baralho?”
“As que jogam levantem a mão”.
Chaplin dizia que o sol nasce todo dia e sem platéia. Ele era geração stand-up na veia.
sábado, 13 de novembro de 2010
Dóris
O GLADIADOR E A LEOA.
Gladiador entra em cena. Está perturbado. Anda de um lado para o outro.
Gladiador- Para o público. Não vou mais botar o pé no Coliseo, nunca mais. Eu particularmente não me sinto velho. Um cabelo branco aqui outro ali. Tudo ia muito bem até este negócio de super interpretação, de vivenciar as lutas. Na minha vã opinião, um gladiador deve lutar e vencer seus oponentes. Se a platéia não acha as lutas cênicas interessante o suficiente que vá ao teatro. Foi exatamente isso que eu disse ao meu chefe o produtor de lutas. Ele olhou bem nos meus olhos e deu um sorriso.
Produtor. "Mas é isso mesmo que ia agora te propor".
Gladiador sem entender. "Propor?"
"Propor. Acho que tem tudo a ver".
"Tudo a ver o que?"
"Teatro".
"Mas eu nunca nem fui ao teatro, quer dizer, nunca fui com freqüência. Prefiro o circo. O que é que você quer dize com tudo isso?"
"Meu querido há anos você entra na arena encara os leões e os mata"
"Mas eu não sou pago pra isso?"
"Claro que não. Se eu quisesse que alguém só matasse os leões eu contrataria um açougueiro. As pessoas vêm ao Coliseo para ver espetáculos e não leões cansados e amedrontados. E sim as terríveis feras da áfrica"
"Só que se eu demonstrar medo corro o risco é dos leões é ficarem muito valentes. E você sabe como esse meio é fofoqueiro se um leão percebe algo já conta pra leãozada toda"
" Só estou dizendo que arrumei um professor de teatro que vai te ajudar a sentir medo dos leões".
Eu bem da verdade até aquele momento nunca havia é sentido nada pelos leões. Nem dó, nem medo, nem amizade. Eu nunca fui muito de me relacionar com eles não. Afinal no fundo eu tinha é de matá-los e eles, os leões, sabiam disso. Mas depois de uns meses tendo aula com um ator eis que volto ao Coliseo em um domingo de casa cheia..
Para a minha surpresa neste dia aconteceu algo de extraordinário. Já na arena depois de terem aberto as portas dos leões, o sol batia nos meus olhos e vi uma criatura ao longe. Eu podia ver só o contorno do leão a platéia estava calada e havia um jeito diferente desta leão andar... Um andar lânguido sensual foi quando percebi que não era um leão e sim uma leoa. Mas isto não era ético! Nunca haviam me posto pra lutar contra uma fêmea. O programa dizia que eu enfrentaria uma perigosa criatura. Bem o programa não mentira aquela leoa me deu uma olhada e a minha espada caiu. Era um olhar assim meigo, daquela leoa que nem adulta era então, uma quase adulta uma adolescente. Então eu de repente... Eu me... Apaixonei como nunca havia me apaixonado antes. São coisas que nós não planejemos na vida. Quando eu imaginei que nesta altura da vida eu ia me apaixonar por uma colega de trabalho. A desgraçada naquele dia parecia ter também se apaixonado, combinamos ali mesmo para desespero da platéia um jantar naquela mesma noite numa churrascaria cristã.
Ela se chamava Dóris. Tinha lá suas manias, que logo descobri, pois ela foi morar na minha casa. Adorava compras principalmente bolsas e artes plásticas. Dóris me convenceu em fazer um curso com ela de história das artes plásticas, um curso de dez aulas desde do Egito antigo até as pinturas modernas romanas. Eu como estava disponível mesmo, havia sido mandado embora do Coliseo, também depois daquele vexame eu e Dóris nos beijando e o público jogando tomates. Dez anos de uma carreira de gladiador encerrados por alguns instantes. Acho que tudo começou com as aulas de teatro, acho que fui me tornando mais sensível. Como eu estava apaixonado não me importava mais com nada deixei de freqüentar os eventos e as rodas sociais dos gladiadores e cada vez mais Dóris me levava para o mundo das artes, dos descolados. As pessoas em geral se chocavam muito quando nos viam juntos, não tanto por Dóris ser uma Leoa, afinal nós estamos em Roma, mas pela diferença de idade. Mas não a galera das artes. Nossa turma. Nunca me senti tão à vontade junto dos artistas. Só que alguns meses depois ela começou a agir estranhamente, havia se tornado vegetariana e dava desculpas para não transarmos mais, eu comecei a imaginar que havia outro na história, e eu tinha razão havia, uma outra, uma Leoa.
Dóris me abandonou, veio com aquela velha história o problema é comigo, você é legal e tal. Passei a beber e a sair todas as noites, até fiz um papel no teatro, uma ponta numa comédia eu fazia um gladiador, não tinha fala, mas adorava. Um dia um produtor amigo meu disse que Dóris estava namorando uma Leoa que trabalhava no Coliseo, era uma campeã invíquita. Pedi a ele que me colocasse pra lutar com ela, e ele colocou.
Outra tarde de domingo o Coliseo lotado. Minha cabeça doía, a cachaça dava voltas no meu estomago e quase morri de medo ao ver o tamanho da leoa que entrou. Foi outro vexame tentei me agüentar ao máximo, mas ela me derrubou e nocauteou em instantes, quando pedi água e abri os olhos foi que vi Dóris na platéia. Ela ria e abraçava o produtor lhe dando beijinhos. Canalha ele a havia roubado da Leoa. Essa Leoa gigantesca e eu, ambos abandonados por Dóris, saímos para tomar umas cervejas. Trocamos confissões e ambos falamos mal de Dóris, depois resolvemos montar uma dupla e nos apresentar juntos, em teatro talvez. Essa dupla nunca aconteceu.
Agora estou aqui e me decidi, não volto mais ao Coliseo. Vou fazer teatro. Ser um ator trágico, daqueles que vive com os olhos vermelhos e fazem personagens que tem um conflito misterioso e estão sempre amargurados e são irresistivelmente sensuais. Aí não vai ter Dóris resista. A verdade é que as fêmeas não gostam de bufões, nem de gladiadores. Elas se apaixonam por atores trágicos, de olhos vermelhos, amargurados, dopados e de falas gritadas. E os Bufões e gladiadores por sua vez se apaixonam por feras perigosas, lindíssimas e com cérebros de Leoas.
Gladiador entra em cena. Está perturbado. Anda de um lado para o outro.
Gladiador- Para o público. Não vou mais botar o pé no Coliseo, nunca mais. Eu particularmente não me sinto velho. Um cabelo branco aqui outro ali. Tudo ia muito bem até este negócio de super interpretação, de vivenciar as lutas. Na minha vã opinião, um gladiador deve lutar e vencer seus oponentes. Se a platéia não acha as lutas cênicas interessante o suficiente que vá ao teatro. Foi exatamente isso que eu disse ao meu chefe o produtor de lutas. Ele olhou bem nos meus olhos e deu um sorriso.
Produtor. "Mas é isso mesmo que ia agora te propor".
Gladiador sem entender. "Propor?"
"Propor. Acho que tem tudo a ver".
"Tudo a ver o que?"
"Teatro".
"Mas eu nunca nem fui ao teatro, quer dizer, nunca fui com freqüência. Prefiro o circo. O que é que você quer dize com tudo isso?"
"Meu querido há anos você entra na arena encara os leões e os mata"
"Mas eu não sou pago pra isso?"
"Claro que não. Se eu quisesse que alguém só matasse os leões eu contrataria um açougueiro. As pessoas vêm ao Coliseo para ver espetáculos e não leões cansados e amedrontados. E sim as terríveis feras da áfrica"
"Só que se eu demonstrar medo corro o risco é dos leões é ficarem muito valentes. E você sabe como esse meio é fofoqueiro se um leão percebe algo já conta pra leãozada toda"
" Só estou dizendo que arrumei um professor de teatro que vai te ajudar a sentir medo dos leões".
Eu bem da verdade até aquele momento nunca havia é sentido nada pelos leões. Nem dó, nem medo, nem amizade. Eu nunca fui muito de me relacionar com eles não. Afinal no fundo eu tinha é de matá-los e eles, os leões, sabiam disso. Mas depois de uns meses tendo aula com um ator eis que volto ao Coliseo em um domingo de casa cheia..
Para a minha surpresa neste dia aconteceu algo de extraordinário. Já na arena depois de terem aberto as portas dos leões, o sol batia nos meus olhos e vi uma criatura ao longe. Eu podia ver só o contorno do leão a platéia estava calada e havia um jeito diferente desta leão andar... Um andar lânguido sensual foi quando percebi que não era um leão e sim uma leoa. Mas isto não era ético! Nunca haviam me posto pra lutar contra uma fêmea. O programa dizia que eu enfrentaria uma perigosa criatura. Bem o programa não mentira aquela leoa me deu uma olhada e a minha espada caiu. Era um olhar assim meigo, daquela leoa que nem adulta era então, uma quase adulta uma adolescente. Então eu de repente... Eu me... Apaixonei como nunca havia me apaixonado antes. São coisas que nós não planejemos na vida. Quando eu imaginei que nesta altura da vida eu ia me apaixonar por uma colega de trabalho. A desgraçada naquele dia parecia ter também se apaixonado, combinamos ali mesmo para desespero da platéia um jantar naquela mesma noite numa churrascaria cristã.
Ela se chamava Dóris. Tinha lá suas manias, que logo descobri, pois ela foi morar na minha casa. Adorava compras principalmente bolsas e artes plásticas. Dóris me convenceu em fazer um curso com ela de história das artes plásticas, um curso de dez aulas desde do Egito antigo até as pinturas modernas romanas. Eu como estava disponível mesmo, havia sido mandado embora do Coliseo, também depois daquele vexame eu e Dóris nos beijando e o público jogando tomates. Dez anos de uma carreira de gladiador encerrados por alguns instantes. Acho que tudo começou com as aulas de teatro, acho que fui me tornando mais sensível. Como eu estava apaixonado não me importava mais com nada deixei de freqüentar os eventos e as rodas sociais dos gladiadores e cada vez mais Dóris me levava para o mundo das artes, dos descolados. As pessoas em geral se chocavam muito quando nos viam juntos, não tanto por Dóris ser uma Leoa, afinal nós estamos em Roma, mas pela diferença de idade. Mas não a galera das artes. Nossa turma. Nunca me senti tão à vontade junto dos artistas. Só que alguns meses depois ela começou a agir estranhamente, havia se tornado vegetariana e dava desculpas para não transarmos mais, eu comecei a imaginar que havia outro na história, e eu tinha razão havia, uma outra, uma Leoa.
Dóris me abandonou, veio com aquela velha história o problema é comigo, você é legal e tal. Passei a beber e a sair todas as noites, até fiz um papel no teatro, uma ponta numa comédia eu fazia um gladiador, não tinha fala, mas adorava. Um dia um produtor amigo meu disse que Dóris estava namorando uma Leoa que trabalhava no Coliseo, era uma campeã invíquita. Pedi a ele que me colocasse pra lutar com ela, e ele colocou.
Outra tarde de domingo o Coliseo lotado. Minha cabeça doía, a cachaça dava voltas no meu estomago e quase morri de medo ao ver o tamanho da leoa que entrou. Foi outro vexame tentei me agüentar ao máximo, mas ela me derrubou e nocauteou em instantes, quando pedi água e abri os olhos foi que vi Dóris na platéia. Ela ria e abraçava o produtor lhe dando beijinhos. Canalha ele a havia roubado da Leoa. Essa Leoa gigantesca e eu, ambos abandonados por Dóris, saímos para tomar umas cervejas. Trocamos confissões e ambos falamos mal de Dóris, depois resolvemos montar uma dupla e nos apresentar juntos, em teatro talvez. Essa dupla nunca aconteceu.
Agora estou aqui e me decidi, não volto mais ao Coliseo. Vou fazer teatro. Ser um ator trágico, daqueles que vive com os olhos vermelhos e fazem personagens que tem um conflito misterioso e estão sempre amargurados e são irresistivelmente sensuais. Aí não vai ter Dóris resista. A verdade é que as fêmeas não gostam de bufões, nem de gladiadores. Elas se apaixonam por atores trágicos, de olhos vermelhos, amargurados, dopados e de falas gritadas. E os Bufões e gladiadores por sua vez se apaixonam por feras perigosas, lindíssimas e com cérebros de Leoas.
domingo, 7 de novembro de 2010
A menina espera na esquina
“Poio (Pollo).” Eu digo.
O garçom me pergunta qual parte. Ao mesmo tempo em que coloca a mão no próprio peito e na própria perna. Quase desisto de pedir o prato só de pensar na perna humana do senhor e gordinho chileno. A fome falou mais alto e mostro a foto da coxa de frango no cardápio.
Ele se afasta e eu olho pela janela às duas horas da tarde de um sábado quente em Santiago. As pessoas fechando as lojas, indo almoçar. Os turistas, estudantes indo ver a Praça das Armas. Todos se movimentam como numa 25 de Marco, como num 31 de dezembro.
Então a vejo pela janela. Todos passam e ela lá. Parada, aflita procurando alguém naquela multidão. Alguém que não chega. A menina é linda seus pés estão grudados no chão para tentar enxergar por cima da multidão.
Imagino como será o menino que não chega. Se fosse comigo, eu moveria o mundo para não fazer aquela menina esperar. Talvez por isso ela não esteja me esperando e sim ele, que não chega. Descubro que talvez a idade tenha me trazido o desejo de ser um alcoviteiro, um cupido.
De tentar achar um garoto pra ela. Bonito como ela, aflito, apaixonado, fiel. Será que é um menino da idade dela que ela espera? Um estudante? Um amor colegial? Será que por ser jovem e belo ele não perceba a sorte que tem de ter uma mulher tão, tão... Meu Deus ela linda!
Virou o rosto. Viu-me aqui dentro do restaurante. Será que ainda sou um rapaz em condições de flertar com essa estudante? Voltou a olhar pra frente, acho que nem me viu, talvez imaginasse que ele o belo e jovem rapaz estivesse aqui dentro. Ou me viu por um instante e achou que eu era ele, e depois viu o engano. “É só um tiozinho me olhando”. Deve ter pensado. Ou ainda nem me viu como se eu fosse transparente, sei lá. Como vou saber se ela não esboçou nada? Reação nenhuma.
Agora ela vê o celular, se mexe um pouco e volta a olhar pra frente, aflita. Será que é um rapaz igual um que eu vi outro dia, sábado a noite no Pão de Açúcar com uma flor e um pote de sorvete? Aquele rapaz me comoveu, com dois objetos na mão e ele dizia tudo. Que combinação. Um artista.
Quem será que come as mulheres lindas? Sim porque essa não fica atrás da Helena de Tróia. quem são eles? Eu sempre me pergunto isso quando vejo uma bonita cantora, uma bailarina maravilhosa, uma extraordinária Hostess de um elegante restaurante. Quem será o felizardo por quem essa mulher linda se entrega?
Por Helena aconteceu uma guerra. E como por essa aí fora de igual beleza, ninguém se move? Eu vou levantar e ir ajudá-la. Saber onde está esse louco desse menino.
Perca o emprego menino, mate alguém se necessário, roube um banco, mas não deixe uma mulher dessas esperando.
Meu prato chega. Começo a cortar aquela coxa de frango. Levanto os olhos e ela se foi. Como numa novelle Vague. Olho ainda um instante. Procuro. Sim se foi.
Aonde será que ele a levará? Ao parque tomar sol no gramado e trocar beijos de baixo das árvores, como num pic -nic? Ao cinema? A um show de jazz ou ainda almoçar num bistrô?
Horas depois sozinho no museu de Belas Artes, comecei a imaginar que talvez eu encontrasse o casal ali. Mas espere. Que casal? Afinal a menina simplesmente parou na frente do boteco em que você Leo almoçava, olhou para você, esperou (talvez uma reação sua) e seguiu desiludida, talvez sozinha e talvez pensando:
“Quem será que os bonitões comem?” “Por quem eles se apaixonam?”.
Mas não Leo, a sua mente criativa e seu caráter pouco prático, prefiriram uma coxa de frango.
E você leitor prefere o que? Um constrangimento ou uma bela fantasia?
Amanha vou almoçar lá de novo. Agora sou eu quem espera. Será que ela virá?
O tigrão (eu) espera na esquina. Aflito...
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Lobinha
Eu queria ir nadar no Rio Tiete, ela no Rio Pinheiros. O consenso foi o lago do Ibirapuera.
Querem saber o que me atrai de verdade numa mulher? Pois eu também quero.
“Vamos tomar um café?”
“Vamos.”
“Quando?”
“Daqui... Meia hora?”
“Conjunto Nacional?”
“Livraria Cultura?”
“Ok.”
Excelente pista.
Nenhum:
“Nossa! Que atirado! Não sei calma aí. Talvez no meio da semana. Quer dizer, se você quiser amanhã, mas eu sair assim sem fazer um tipo... Café, mas é só um café viu. Não vai achar que vai rolar mais coisa não. Que roupa eu visto? Você vem me pegar? Mas é só um café viu? Que saidinho! Eu nunca aceito assim, nem te conheço. Acho melhor não. Já está vindo? Mas é só um café viu?”
A principal coisa que me faz desencantar de alguém num encontro é ter de ouvir conselhos:
“Posso te falar uma coisa? Você não vai se irritar?”
Com 36 anos de idade eu já tive centenas de encontros.
“Menina se conselho fosse bom ninguém dava de graça.”
“Nossa! Que grosso! Posso dar outro conselho?”
“Pode?”
“Seja assim mesmo. Não facilite a vida delas (nossa).”
Uma vez uma amiga me disse que louco atrai louco.
Em apenas cinco minutos. Em cinco minutos, às vezes em segundos e você já sabe o que você quer de uma mulher.
Tipo de mulher que só elogia:
“Grande assim será que essa camisinha vai entrar?”
“Que casa linda!”
“Nossa! Uuuuuh! Alguém anotou a placa do caminhão que me atropelou?”
Tipo grosseira:
“Ninguém limpa a sua casa?”
“Você tem teste de aids?”
“E você tem?”
“Me leva embora já! Seu imbecil!”
“Mas você nem tomou a o copo de água? Você num subiu por isso?”
“É mesmo cadê a água?”
Há ainda aquelas que ficam olhando para os lados, para o chão e para cima e vez ou outra, te encaram como quem diz:
“E aí cadê a deixa?”
Eu faço cara de que não estou entendendo e elas ficam de mau-humor. Mas eu não estou entendendo mesmo.
“Você não entende nada mesmo?”
“Claro entendo sim. Você é uma cretina que não sabe se comunicar e vai fazer um discurso. Vai dizer que a culpa é minha, não sou o cavalheiro que eu deveria ser. Que não me ensinaram, às tontas até podem gostar, mas você que é uma mulher superior...”.
“Não Leo, é que eu ainda não tinha gozado e você nem esperou!”
“Opa! Que gafe!”
Agora quando tem os olhos nos olhos. Quando eu não queria estar em nenhum outro lugar do mundo. Quando eu escuto de verdade o que ela está dizendo (independente da idade dela) e aprendo com aquilo que ouço. Quando eu sinto que aquele ser me faz sentir a mesma paixão que eu tenho pela arte, pela vida.
Quando eu percebo que tenho ciúmes dessa pessoa, que eu quero cuidar e ser cuidado. Aí eu paro por aqui leitor. Porque daí esse assunto não é só mais meu é dela também.
Concluindo são um humor chique, contravenção, talento e cara de pau.
“Pra mim um cosmopolitan.”
“E o café?”
Pergunto eu. Ela se aproxima me encara e sorrindo diz:
“E o café Leo?”
Por um minuto me sinto um carneiro na frente de uma Lobinha de ray ban.
Querem saber o que me atrai de verdade numa mulher? Pois eu também quero.
“Vamos tomar um café?”
“Vamos.”
“Quando?”
“Daqui... Meia hora?”
“Conjunto Nacional?”
“Livraria Cultura?”
“Ok.”
Excelente pista.
Nenhum:
“Nossa! Que atirado! Não sei calma aí. Talvez no meio da semana. Quer dizer, se você quiser amanhã, mas eu sair assim sem fazer um tipo... Café, mas é só um café viu. Não vai achar que vai rolar mais coisa não. Que roupa eu visto? Você vem me pegar? Mas é só um café viu? Que saidinho! Eu nunca aceito assim, nem te conheço. Acho melhor não. Já está vindo? Mas é só um café viu?”
A principal coisa que me faz desencantar de alguém num encontro é ter de ouvir conselhos:
“Posso te falar uma coisa? Você não vai se irritar?”
Com 36 anos de idade eu já tive centenas de encontros.
“Menina se conselho fosse bom ninguém dava de graça.”
“Nossa! Que grosso! Posso dar outro conselho?”
“Pode?”
“Seja assim mesmo. Não facilite a vida delas (nossa).”
Uma vez uma amiga me disse que louco atrai louco.
Em apenas cinco minutos. Em cinco minutos, às vezes em segundos e você já sabe o que você quer de uma mulher.
Tipo de mulher que só elogia:
“Grande assim será que essa camisinha vai entrar?”
“Que casa linda!”
“Nossa! Uuuuuh! Alguém anotou a placa do caminhão que me atropelou?”
Tipo grosseira:
“Ninguém limpa a sua casa?”
“Você tem teste de aids?”
“E você tem?”
“Me leva embora já! Seu imbecil!”
“Mas você nem tomou a o copo de água? Você num subiu por isso?”
“É mesmo cadê a água?”
Há ainda aquelas que ficam olhando para os lados, para o chão e para cima e vez ou outra, te encaram como quem diz:
“E aí cadê a deixa?”
Eu faço cara de que não estou entendendo e elas ficam de mau-humor. Mas eu não estou entendendo mesmo.
“Você não entende nada mesmo?”
“Claro entendo sim. Você é uma cretina que não sabe se comunicar e vai fazer um discurso. Vai dizer que a culpa é minha, não sou o cavalheiro que eu deveria ser. Que não me ensinaram, às tontas até podem gostar, mas você que é uma mulher superior...”.
“Não Leo, é que eu ainda não tinha gozado e você nem esperou!”
“Opa! Que gafe!”
Agora quando tem os olhos nos olhos. Quando eu não queria estar em nenhum outro lugar do mundo. Quando eu escuto de verdade o que ela está dizendo (independente da idade dela) e aprendo com aquilo que ouço. Quando eu sinto que aquele ser me faz sentir a mesma paixão que eu tenho pela arte, pela vida.
Quando eu percebo que tenho ciúmes dessa pessoa, que eu quero cuidar e ser cuidado. Aí eu paro por aqui leitor. Porque daí esse assunto não é só mais meu é dela também.
Concluindo são um humor chique, contravenção, talento e cara de pau.
“Pra mim um cosmopolitan.”
“E o café?”
Pergunto eu. Ela se aproxima me encara e sorrindo diz:
“E o café Leo?”
Por um minuto me sinto um carneiro na frente de uma Lobinha de ray ban.
“Como matar um playboy”
Ontem sonhei acreditem que eu havia morrido. Antes de chegar ao inferno um anjo intercedeu por mim e disse ao demoniozinho que eu por ter feito teatro em vida, poderia levar cinco coisas brasileiras para o inferno.
“Mas escolhe logo”. Disse o demoniozinho e apontou pra Kombi já lotada e sem ar condicionado que já ia sair.
Acabei que pedi logo o que veio na minha cabeça:
“Uma baianinha, negra, jovenzinha e com os peitinhos duros”.
“Vamos, vamos, vamos logo”. Apressava-me o demoniozinho.
“Uma rede do ceará, uma cozinheira mineira, um disco de samba e um computador”.
Bom, nos apertamos na Kombi lá fomos nós.
Depois de 18 horas de viagem chegamos num planalto com prédios parecidos com o do Niemeyer.
Ao meu lado na fila, um americano trazia o Elvis, um hambúrguer, um saxofone, um chapéu de vaqueiro e uma coca-cola. Disse-me que era ator de teatro e perguntou-me se era a minha primeira vez no México.
“México?”
Depois de mais de 12 horas na fila chegou a minha vez. Um sujeito, que acredito era o Collor de Melo, me perguntou em inglês se era a primeira vez que eu tirava visto para os EUA?
Por sorte acordei desse sonho pesadelo por conta de um alarme de carro.
Lembrei-me de uma coisa que uma amiga minha sempre me diz:
“Leo você precisa aprender a desentralhar-se.”
Que seria a capacidade de jogar as coisas velhas fora. Tipo ex-namoradas, documentos da década passada (sem valor histórico nenhum), roupas, cenários e figurinos de espetáculos antigos, móveis, textos, computadores, remédios, cosméticos, jornais velhos, romances sem paixão, cds, vídeos... Enfim uma infinidade de coisas.
Porque quando morremos deve ser tudo novo, mesmo a cultura, crenças, ideologias, não dá pra ser uma múmia e querer levar tudo.
E o título?
É uma peça do João Bethencourt, dos anos sessenta. A menina quer se livrar do “sofisticado” namorado do Leblon e pede ao pai. Esse contrata dois cangaceiros para o serviço. Mas ela doente como eu resolve que não deveria mais desentralhar-se do namorado-marido. E volta atrás.
Alguém tem um telefone de um carreto? De um sebo? De um “família vende tudo?”
Até o porquinho do espetáculo de 2008 está aqui me olhando. Vai embora!
As memórias também, pra que tantas? Vão embora. “Como matar tudo isso?”
Não vou trazer absolutamente nada da Índia! Nem memórias! Nem fotos!
E olhe que nada já é muito!
“Mas escolhe logo”. Disse o demoniozinho e apontou pra Kombi já lotada e sem ar condicionado que já ia sair.
Acabei que pedi logo o que veio na minha cabeça:
“Uma baianinha, negra, jovenzinha e com os peitinhos duros”.
“Vamos, vamos, vamos logo”. Apressava-me o demoniozinho.
“Uma rede do ceará, uma cozinheira mineira, um disco de samba e um computador”.
Bom, nos apertamos na Kombi lá fomos nós.
Depois de 18 horas de viagem chegamos num planalto com prédios parecidos com o do Niemeyer.
Ao meu lado na fila, um americano trazia o Elvis, um hambúrguer, um saxofone, um chapéu de vaqueiro e uma coca-cola. Disse-me que era ator de teatro e perguntou-me se era a minha primeira vez no México.
“México?”
Depois de mais de 12 horas na fila chegou a minha vez. Um sujeito, que acredito era o Collor de Melo, me perguntou em inglês se era a primeira vez que eu tirava visto para os EUA?
Por sorte acordei desse sonho pesadelo por conta de um alarme de carro.
Lembrei-me de uma coisa que uma amiga minha sempre me diz:
“Leo você precisa aprender a desentralhar-se.”
Que seria a capacidade de jogar as coisas velhas fora. Tipo ex-namoradas, documentos da década passada (sem valor histórico nenhum), roupas, cenários e figurinos de espetáculos antigos, móveis, textos, computadores, remédios, cosméticos, jornais velhos, romances sem paixão, cds, vídeos... Enfim uma infinidade de coisas.
Porque quando morremos deve ser tudo novo, mesmo a cultura, crenças, ideologias, não dá pra ser uma múmia e querer levar tudo.
E o título?
É uma peça do João Bethencourt, dos anos sessenta. A menina quer se livrar do “sofisticado” namorado do Leblon e pede ao pai. Esse contrata dois cangaceiros para o serviço. Mas ela doente como eu resolve que não deveria mais desentralhar-se do namorado-marido. E volta atrás.
Alguém tem um telefone de um carreto? De um sebo? De um “família vende tudo?”
Até o porquinho do espetáculo de 2008 está aqui me olhando. Vai embora!
As memórias também, pra que tantas? Vão embora. “Como matar tudo isso?”
Não vou trazer absolutamente nada da Índia! Nem memórias! Nem fotos!
E olhe que nada já é muito!
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